GP de Portugal F1 de 1984: Meio ponto que valeu ouro

Por a 16 Outubro 2020 13:48

O ano de 1984 foi totalmente dominado pela McLaren que, com Alain Prost (7) e Niki Lauda (5), venceu 12 das 16 corridas e terminou o campeonato com quase o triplo dos pontos da Ferrari a sua rival mais direta. Por isso, não foi surpresa que Prost ganhasse ganho e Lauda terminasse em 2º lugar, no GP de Portugal, que encerrava a temporada. Esta surgiu, isso sim no meio ponto que separou os dois pilotos e que valeu ouro para Lauda – que, assim, conquistou o seu terceiro título de Campeão do Mundo.

José Miguel Barros, o cronista de serviço no AutoSport de então, explica, por isso, que “Alain Prost era um dos principais favoritos e ganhou (…). Niki Lauda foi segundo (…) o que também não constituiu uma surpresa.” Porém, a corrida não… começou com os homens da McLaren esperavam: “os dois homens da primeira linha, Piquet e Prost, falharam completamente o arranque e foram Rosberg e Mansell que, saindo respetivamente da segunda e da terceira linhas, se colocaram no comando logo na primeira curva seguidos por Prost, Piquet e Senna, que tinham sido os três mais rápidos nos treinos.”

A primeira parte da corrida foi liderada por Keke Rosberg, que “esteve no comando durante as primeiras oito voltas, altura em que as acrobacias que fazia para conseguir manter o seu Williams-Honda dentro da pista não foram suficientes para evitar a ultrapassagem de Prost.” O francês não mais largou o comando da prova e “foi aumentando gradualmente a sua vantagem, enquanto manteve a esperança de poder bater [Niki] Lauda aos pontos, na corrida ao título.” Só que essas esperanças “desvaneceram-se quando Nigel Mansell, que seguia solado na segunda posição, ficou sem travões e foi obrigado a desistir, deixando o segundo lugar para Lauda, que entretanto tinha ultrapassado [Ayrton] Senna.” Então, “os dois pilotos da McLaren ficaram isolados nos dois primeiros lugares, o que não servia os interesses de [Alain] Prost, mas permitia que [Niki] Lauda se tornasse pela terceira vez Campeão do Mundo, graças a uma vantagem de meio ponto.”

Um título que diz tudo

Por isso, o título da peça principal da reportagem do AutoSport de 25 de Outubro de 1984 : “Vitória não chegou! Prost batido por Lauda graças ao abandono de Mansell” E que, como bom título que se preza, diz tudo (ou quase…) o que se passou na prova. Um bom resumo do dia, em meia dúzia de palavras, em suma.

Mas José Miguel Barros, na apreciação que se faz a seguir, vai mais longe ao explicar que o ideal, “face à forma como o Campeonato do Mundo se jogou, à superioridade revelada pelos McLaren TAG-Porsche ao longo de praticamente toda a época (e) à forma como foram divididos os pontos entre Lauda e Prost”, seria, “mesmo que por absurdo”, (…) “eleger dois campeões, de tal forma os méritos [de Lauda e Prost] nos parecem semelhantes.”

Mas, como isso não foi possível (nunca é…), ficou para “[Niki] Lauda o terceiro título mundial” e para [Alain] Prost “a terceira deceção [seguida] e um certo sabor ao ‘complexo Poulidor’”, numa alusão ao ciclista francês que se celebrizou por ser sempre segundo na Volta à França. Porém, apesar da [sua] deceção, por “perseguir [o título] em vão há já três épocas”, Prost “pode considerar-se satisfeito por cumprido o seu dever.” Como aliás, também Lauda: “[Prost] tinha que ser primeiro [no GP de Portugal] para que pudesse reunir maior número de hipóteses de chegar ao título, isto depois de ter obtido também [a] vitória no GP da Europa”, que era da mesma forma indispensável para continuar a ter veleidades de se sagrar Campeão do Mundo.

Só que Niki Lauda também cumpriu com as suas obrigações de forma igualmente impecável e (quase) sem falhas: “[no Estoril] tinha que chegar pelo menos em segundo, para ficar com a certeza matemática de não poder ser alcançado por Prost, independentemente do resultado que este conseguisse.”

E, na verdade, se “qualquer deles alcançou os objetivos que tinham trazido para Portugal em termos de classificação geral”, bem pode aplicar-se a Lauda “o tal ditado: ‘Candeia que vai à frente alumia duas vezes’”, pis graças à “que trazia à chegada ao Estoril, que lhe permitiu ser o único a conquistar o objetivo primordial” – sagrar-se Campeão do Mundo.

Quanto ao resto do plantel presente no Estoril, refletiu aquilo que foi a temporada de 1984. O destaque vai todo, no entanto, para Ayrton Senna que, ao volante do pouco mais que medíocre Toleman/Hart conquistou, na sua primeira vez no Autódromo do Estoril, aquele que foi o terceiro pódio da sua ainda curta carreira – depois do 2º lugar no Mónaco e do 3º na Grã-Breanha – num aperitivo para o “show” que, meses mais tarde, viria a dar sob chuva torrencial, alcançando a que ficou como a primeira vitória da sua carreia na F1: o GP de Portugal de 1985.

CLASSIFICAÇÕES

Corrida: 1º Alain Prost (McLaren MP4-2/TAG Porsche Turbo), 70 voltas (298,200 kms.), em 1h41m11,753s (média de 176,805 km/h); 2º Niki Lauda (McLaren MP4-2/TAG Porsche Turbo), a 13,425s; 3º Ayrton Senna (Toleman TG184/Hart Turbo), a 20042s; 4º Michele Alboreto (Ferrari 126C4/Ferrari Turbo), a 20,317s; 5º Elio de Angelis (Lotus 95T/Renault Turbo), a 1m32,169s; 6º Nelson Piquet (Brabham BT53/BMW Turbo), a 1 v.; 7º Patrick Tambay (Renault RE50/Renault Turbo), a 1 v.; 8º Riccardo Patrese (Alfa Romeo 184T/Alfa Romeo Turbo), a 1 v.; 9º René Arnoux (Ferrari 126C4/Ferrari Turbo), a 1 v.; 10º Manfred Winkelhock (Brabham BT53/BMW Turbo), a 1 v.; 11º Stefan Johansson (Toleman TG184/Hart Turbo), a 1 v.; 12º Andrea de Cesaris (Ligier JS23B/Renault Turbo), a 1 v.; 13º Gerhard Berger (ATS D7/BMW Turbo), a 2 v.; 14º Jacques Laffite (Williams FW09B/Honda Turbo), a 3 v.; 15º Mauro Baldi (Spirit 101B/Hart Turbo), a 4 v.; 16º Jo Gartner (Osella FA1F/Alfa Romeo Turbo), a 5 v.; 17º Eddie Cheever (Alfa Romeo 184T/Alfa Romeo Turbo), a 6 v.

Campeonato (Pilotos): 1º Lauda, 72 pontos; 2º Prost, 71,5; 3º De Angelis, 34; 4º Alboreto, 30,5; 5º Piquet, 29; 6º Arnoux, 27; 7º Derek Warwick, 23; 8º Keke Rosberg, 20,5; 9º Senna, 13; 10º Nigel Mansell, 13; 11º Tambay, 11; 12º Teo Fabi, 9; 13º Patrese, 8; 14º Laffite, 5; 15º Thierry Boutsen, 5; 16º Cheever, 3, 17º Johansson, 3; 18º De Cesaris, 3; 19º Piercarlo Ghinzani, 2; 20º Marc Surer, 1

Campeonato (Construtores): 1º McLaren/TAG-Porsche, 143,5 pontos; 2º Ferrari, 57,5; 3º Lotus/Renault, 47; 4º Babham/BMW, 38; 5º Renault, 34; 6º Williams/Honda, 25,5; 7º Toleman/Hart, 16; 8º Alfa Romeo, 11; 9º Ligier/Renault, 3; 10º Arrows/Ford, 3; 11º Arrows/BMW, 3; 12º Osella/Alfa Romeo, 2

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