GP de Las Vegas de F1 regressa em 2023: como foi há 40 anos…

Por a 1 Dezembro 2022 09:55

Há precisamente 40 anos realizou-se o segundo GP de Las Vegas (25 de Setembro de 1982), dos dois únicos que se realizaram naquela cidade norte-americana. O regresso está previsto para 2023, mas entretanto vamos recordar o dia em que Michele Alboreto foi rei na festa do imperador… Keke Rosberg.

O GP de Las Vegas foi a derradeira prova da temporada de 1982. Também chamado de GP do Palácio de César (Caesars Palace Grand Prix), numa alusão ao hotel em cujo (enorme) parque de estacionamento foi desenhado o traçado, apenas se realizou duas vezes E, na que foi a última, acabou por arranjar um lugar (zinho) na história da F1 ao coroar ‘Imperador’ o quase desconhecido Keijo Rosberg, para os amigos o Keke. Curiosamente, como já o tinha feito no ano anterior, quando viu Nelson Piquet garantir o primeiro dos seus três títulos de Campeão do Mundo.

O Grande Prémio de Las Vegas veio substituir o desajustado e perigoso circuito de Watkins Glen, em 1991. Mas acabou por ser uma alternativa ainda pior, pautada somente pelo brilho dos casinos locais, cheios de dinheiro, que apoiaram com milhões a realização da prova – que nas duas únicas vezes em que se realizou, foi sempre festa de encerramento da época.

O traçado de 3,650 km caracterizava-se por uma série de ‘retas’ paralelas, saídas de curvas à esquerda ou à direita, em quase cotovelo e, no final, até ás 14º e última curva, havia uma zona extensa, com várias curvas feitas quase a fundo, antes da travagem final, para a entada na reta da meta, a mais longa e única realmente ‘reta’ do percurso. Isso tornava a prova num martírio, feito de acelerações tipo “dragster” à saída das curvas para travagens de ‘tonelada’ logo a seguir –e assim sucessivamente ao longo de 75 voltas massacrantes! E tudo isto no meio dos muros de betão, alguns deles encimados pelas redes de segurança…

Pois foi neste ambiente pouco usual, quase caricato e muito perigoso, que Michele Alboreto se tornou “Imperador no Palácio de César” – conforme titulava então o AutoSport, na reportagem assinada por Hélder de Sousa e com fotos de Carlos Matos.

A vitória certa de Alboreto

“Michele Alboreto foi o vencedor certo da última corrida de F1.” Foi nestes termos que a reportagem do AutoSport começou. E certa porquê? Muito simples: “depois de ter estado sempre nos primeiros lugares nas sessões de treinos, o jovem piloto italiano ofereceu a Ken Tyrrell a vitória por que esperava há quatro. Uma vitória limpa, exata, cheia de promessas para o futuro.”

Mas a sua tarefa não foi fácil. Mesmo nada fácil: “Alboreto nada podia fazer contra a avalancha Renault com os seus potentes turbos. Mas, tal como na fábula, David bateu Golias.” E, numa “imagem de persistência recompensada, Alboreto venceu, depois de ter convencido que é dos melhores pilotos da nova geração.”

O GP de Las Vegas de 1982 foi, portanto, o primeiro triunfo de Michele Alboreto na F1 – e ao mesmo tempo, o palco do primeiro e único título de Campeão do Mundo de F1 conquistado por Keke Rosberg: “O finlandês só precisava de obter um ponto, mesmo que Watson ganhasse. Fez melhor do que isso e classificou-se em 5º, o que lhe deu dois pontos. Mais do que suficiente para receber o título, perante um Watson enérgico, que fez tudo quanto podia para chegar aos primeiros lugares.” E conseguiu-o, mas foi um esforço inglório, como aliás reconheceu depois da corrida: “A sua segunda posição foi o resultado de uma corrida brilhante, semeada de dúvidas quanto ao equilíbrio dos pneus. No final, [Watson] declarou que não podia fazer melhor do que acabara de realizar.”

Apesar de em placo impróprio, o GP de Las Vegas “foi uma prova movimentada”. Com os dois Renault na primeira linha, “Prost tomou o comando da corrida após o arranque seguido de Arnoux. (…) Alboreto colocava-se, por seu turno, na vantajosa posição de observador, atrás dos dois Renault” apesar dese ter tocado com Eddie Cheever no arranque, provocando o desequilíbrio do Ligier/Matra do norte-americano, que ficou sem forma de lutar pelo triunfo, tendo que se contentar com um (feliz) terceiro lugar do pódio, depois de uma luta tremenda com o próprio carro.

Mais tarde, “aproveitando uma pequena falha na travagem de Prost, Arnoux assumia o comando da corrida”, com Alboreto cada vez mais descansado na terceira posição, graças ao duro duelo que, atrás de si, iam travando Cheever, a contas com um cada vez mais desalinhado Talbot Ligier, e Riccardo Patrese, com o muito potente Brabham/BMW e permitiam a ambos ir perdendo o “comboio” da luta pelos lugares do pódio.

Depois, aconteceu o descalabro dos dois Renault. Primeiro, Alboreto “começava a ver a sua tarefa facilitada com a aproximação progressiva aos dois homens da frente.” Onde “Arnoux dava sinais de estar a encontrar dificuldades com o seu caro especialmente com o motor”, enquanto John Watson, “em 20 voltas, subia de 11º na 1ª passagem, para 3º.” E, “com a desistência de Arnoux, Watson lançava-se no encalço de Alboreto.” Uma tarefa que não “era fácil. O Tyrrell estava absolutamente superior naquele dia e o próprio Alboreto confirmou que nunca tivera o seu carro tão bem equilibrado como em Las Vegas.”

Nesta altura, o título estava entregue a Rosberg, que depressa chegou ao sexto e, depois, ao quinto lugar, conduzindo “com o máximo de prudência”. “Prost estava seguro no comando”, Alboreto seguia em segundo, à espera “de uma das habituais avarias do motor do Renault turbo”, até porque “naquele sábado a temperatura era muito elevada” e Watson “aproximava-se do pelotão da frente”, de tal forma “que não custava nada pensar numa possível vitória do finlandês.”

Mas não foi isso que sucedeu: “O calvário de Prost” começou “com crescentes vibrações”, vendo-se “obrigado a alargar as distâncias de travagem o que (…) causou acumulação de sujidade nos travões.” Tudo isto “fez com que o francês se visse obrigado a ceder a passagem a italiano e, quatro voltas depois, ao irlandês da McLaren.”

Alboreto sagrava-se assim vencedor “da última corrida da época de 1982 e a sua alegria rivalizava com a do seu patrão Ken Tyrrell, que já não sabia o que era mostrar a placa ‘10.000’ há quatro anos.” Desde o GP do Mónaco de 1978, então ganho por Patrick Depailler.

Em jeito de balanço o AutoSport deixou uma questão no ar: “Qual dos dois estaria mais contente – Alboreto pela primeira vitória da sua carreira ou Rosberg, pela sua vitória no Campeonato?” Vá-se lá saber: temos a certeza de que, até hoje, ainda ninguém encontrou a resposta. Até porque, o AutoSport ‘dixit’ então, “cada uma delas era valiosa, à sua maneira.” Pois!

CLASSIFICAÇÃO

1º Michele Alboreto (Tyrrell/Ford), 75 voltas em 1h41m56,888s; 2º John Watson (McLaren/Ford), a 27,292s; 3º Eddie Cheever (Ligier/Matra), a 56,450s; 4º Alain Prost (Renault), a 1m06,648s; 5º Keke Rosberg (Williams/Ford), a 1m11,375s; 6º Derek Daly (Williams/Ford), a 1 v.; 7º Marc Surer (Arrows/Ford), a 1 v.; 8º Brian Henton (Tyrrell/Ford), a 1 v.; 9º Andrea de Cesaris (Alfa Romeo), a 2 v.; 10º Bruno Giacomelli (Alfa Romeo), a 2 v.; 11º Mauro Baldi (Arrows/Ford), a 2 v.; 12º Rupert Keegan (March/Ford), a 2 v.; 13º Raul Boesel (March/Ford), a 6 v.

Não se classificou: Manfred Winkelhock (ATS/Ford), 62 v.

Abandonos: Niki Lauda (McLaren/Ford), motor (53ª v.); Tommy Byrne (Theodore/Ford), pião (39ª v.); Derek Warwick (Toleman/Hart), problema elétrico (32ª v.); Elio de Angelis (Lotus/Ford), motor (28ª v.); Mario Andretti (Ferrari), suspensão traseira (26ª v.); Nelson Piquet (Brabham/BMW), problema elétrico (26ª v.); René Arnoux (Renault), motor (20ª v.); Riccardo Patrese (Brabham/BMW), caixa de velocidades (17ª v.); Nigel Mansell (Lotus/Ford), colisão (8ª v.); Jacques Laffite (Ligier/Matra), ignição (5ª v.).; Jean-Pierre Jarier (Osella/Cosworth) acidente (1ª v.)

Não partiram: Patrick Tambay (Ferrari), doença do piloto; Roberto Guerrero (Ensign/Ford), motor; Jean-Pierre Jarier (Osella/Cosworth) acidente (volta de formação da grelha)

Não Qualificados: Teo Fabi (Toleman/Hart); Eliseo Salazar (ATS/Ford); Chico Serra (Fittipaldi/Ford)

“Pole position”: A. Prost, em 1m16,356s

Melhor volta em corrida: M. Alboreto, em 1m19,639s (volta 59)

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