GP da Grã-Bretanha de F1: Red Bull não arrisca e Hamilton vence em três rodas

Por a 3 Agosto 2020 13:51

Silverstone prometia ser o jardim da Mercedes, as curvas rápidas e longas rectas permitiam ao W11 esticar as pernas, e ao longo de quarenta e oito voltas foi isso que se verificou, o domínio insolente das “Flechas Negras”, mas as últimas quatro voltas foram penosas para Lewis Hamilton e Valtteri Bottas e só uma postura conservadora da Red Bull permitiu ao inglês conquistar a sua sétima vitória no Grande Prémio da Grã-Bretanha.

O primeiro fim-de-semana britânico da temporada nem teve um começo auspicioso para os homens de Brackley, com as temperaturas elevadas que se fizeram sentir na sexta-feira – a pista roçou os 50ºC e ar ultrapassou os 30ºC – o monolugar da estrela de três pontas, como é habitual, sentiu algumas dificuldades, dado perder apoio aerodinâmico sempre que a equipa tem de o abrir para deixar a suas entranhas respirar.

Mas as condições climatéricas do primeiro dia do programa eram uma excepção e, nas duas jornadas seguintes, as temperaturas desceram significativamente – mais de 10ºC – caindo na janela de funcionamento optimizado do Mercedes W11.

A Red Bull chegava a Silverstone com a esperança de ter começado a compreender a forma como a aerodinâmica do RB16 Honda funciona, levando alguns novos componentes para provar a sua expectativa, o que até se verificou, mas no sábado, quando a temperaturas desceram, rapidamente ficou claro que só um cataclismo poderia impedir de ser um dos Mercedes a subir ao degrau mais alto do pódio.

Max Verstappen mostrava-se satisfeito com a direcção que a equipa tomou no que diz respeito ao desenvolvimento, tornando o carro mais previsível, mas em performance pura o monolugar de Milton Keynes estava ainda distante do W11, perdendo na qualificação mais de um segundo para Lewis Hamilton – que alcançava a sua nonagésima primeira pole-position – e sete décimos de segundo para Valtteri Bottas.

Se a distância para o Mercedes era avassaladora, o facto de ter Charles Leclerc a morder-lhe os calcanhares – num Ferrari que, segundo o responsável máxima da marca não será capaz de levar a equipa aos triunfos nem em 2020 nem em 2021 – só pode ter deixado os homens da Red Bull preocupados e desejosos de encontrar soluções que lhes permitam ter um monolugar capaz de enfrentar o “Flecha Negra”.

Os quatro primeiros, muito embora aqui o monegasco da “Scuderia” seja uma carta fora do baralho, conseguiram qualificar-se para a Q3 com pneus médios, o que lhes permitia ter acesso à estratégia mais fiável, para a corrida – parar uma única vez em redor da vigésima volta para montar duros para terminar a prova.

O início correu de acordo com o esperado, Hamilton manteve o comando seguido de Bottas e Verstappen, que ainda se viu bastante acossado por Leclerc, chegando mesmo a estar no terceiro lugar.

Contudo, a vantagem dos pilotos que iniciaram com médios nunca se materializou, dado que no final da primeira volta Kevin Magnussen era atirado para fora de pista por Alex Albon – que foi penalizado com cinco segundos pela sua indiscrição – na última curva, o que obrigou à entrada em pista do Safety-car.

Foram três voltas a baixo ritmo, o que protegeu os pneus de todos, tendo no reinício as posições entre os três primeiros se mantido.

Os “Flechas Negras” estavam imparáveis e na décima volta – com seis de competição efectiva – Hamilton liderava com Bottas por perto, mas Verstappen estava já a mais de cinco segundos e Leclerc a mais de doze, evidenciando a classificação do SF1000 como carro de Segundo Pelotão.

Porém, todas as diferenças seriam novamente anuladas, devido ao despiste de Daniil Kvyat Maggotts, causado por um furo no pneu traseiro/direito, estavam decorridas doze voltas.

Todos os homens da frente entraram nas boxes para trocar os médios por duros, esperando que o composto da Pirelli conseguisse aguentar as quarenta voltas que tinham pela frente. Com o Safety-Car em pista até à décima oitava, as expectativas ficavam mais elevadas e, quando a prova foi retomada, os Mercedes voltaram a mostrar um ritmo que ninguém conseguia acompanhar, mantendo-se sempre alguma proximidade entre si, mas deixando Verstappen a mais de nove segundos quando estavam cumpridas trinta voltas.

A situação manteve-se e na quadragésima passagem pela linha de meta, Verstappen estava já a mais de treze segundos de Hamilton, e não era um factor, ao passo que Bottas estava a quase três segundos do seu companheiro de equipa e os seus pneus estavam em pior forma que o do inglês.

O finlandês, que tinha uma clara linha de bolhas na superfície do pneu esquerdo/direito, já se queixara de vibrações anormais, quando na quadragésima nona volta, a três da bandeira de xadrez, o pneumático em questão perdeu subitamente o ar na Curva 3, obrigando-o a dar quase uma volta até às boxes.

A corrida de Bottas estava perdida, terminando num desapontante décimo primeiro lugar sem conseguir sequer ultrapassar Vettel, que passava por uma corrida anónima e frustrante.

Verstappen por seu lado, agora em segundo, tinha planeado parar na quinquagésima volta para procurar a volta mais rápida.

No entanto, com os problemas de Bottas, a Red Bull poderia escolher manter Hamilton sob pressão na esperança que este encontrasse a mesma contrariedade do seu colega de equipa e, assim, poder colocar o holandês em posição de vencer o Grande Prémio da Grã-Bretanha.

Apesar de poder ter o triunfo no seu horizonte, a formação de Milton Keynes manteve o seu plano original, e o mais seguro, preferindo não arriscar e Verstappen entrou nas boxes na quinquagésima volta, permitindo a Lewis Hamilton reduzir substancialmente o seu andamento para proteger os seus pneus e, sobretudo, o dianteiro esquerdo.

A mais de trinta e cinco segundos do inglês, o holandês começou a voar, assinando sectores roxos consecutivos, preparando-se para entrar na última volta para assegurar a volta mais rápida da corrida.

Entretanto, na quinquagésima primeira volta, Carlos Sainz experimentava o mesmo problema de Bottas – o pneu dianteiro/esquerdo do seu McLaren perdia o ar subitamente – e na volta seguinte, a última, ainda antes de Stowe, Hamilton passava pela mesma experiência.

Com meio circuito pela frente para chegar à sua sétima vitória no Grande Prémio da Grã-Bretanha, ao inglês só restava ir para a linha de meta o mais rapidamente possível, na tentativa de suster a aproximação arrepiante de Verstappen.

Envolto em fumo e faíscas, o Mercedes número quarenta e quatro aproximava-se decisivamente da bandeira de xadrez, sempre com Hamilton a manter o sangue frio, apesar dos sustos sucessivos, cruzando a meta no primeiro lugar com quase seis segundos de vantagem para Verstappen, que na última volta recuperara mais de vinte e oito segundos.

Foi o triunfo da capacidade de improvisação face a falta de capacidade de reacção ou à dificuldade em ver uma oportunidade.

No final, Christian Horner afirmou que a segunda paragem de Verstappen foi a decisão correcta, dado que não havia garantias de que este alcançasse a meta, caso não tivesse trocado de borrachas, até porque o pneu dianteiro/esquerdo do Red Bull número trinta e três apresentava cinquenta pequenos cortes.

Mas a questão que se levanta é, se a equipa de Milton Keynes manteria o seu plano se a Mercedes tivesse chamado Hamilton às boxes por precaução, quando Bottas viu o seu pneu ceder… Provavelmente, não, atrevo-me a dizer…

FIGURA

Lewis Hamilton

O inglês está novamente numa senda que dificilmente não o levará a mais um título, o sétimo… Na qualificação destruiu o seu colega de equipa, deixou Bottas a mais de três décimos de segundo, e na corrida geriu sempre o andamento do finlandês. Mesmo na contrariedade, quando viu o seu pneu perder ar, não se atemorizou e levou o seu Mercedes até ao final o mais rapidamente possível, assegurando a sua sétima vitória no Grande Prémio da Grã-Bretanha e a terceira da temporada.

MOMENTO

Paragem de Verstappen

Quando Bottas viu o seu pneu ceder, seria de esperar que a Red Bull mantivesse Verstappen em pista para pressionar Hamilton. Mas os homens da formação de Milton Keynes decidiram perseguir a volta mais rápida, deixando o inglês livre para gerir a sua corrida. Quando o problema de Bottas se manifestou também no carro do seu colega de equipa, Verstappen não estava em posição de capitalizar as dificuldades dos Mercedes, deixando o triunfo para Hamilton.

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