Circuito de Vila Real: Os três motores da festa transmontana

Por a 24 Junho 2022 11:15

As corridas de Vila Real são o fruto da dedicação e do trabalho de um grupo numeroso de pessoas que se dedica para que esta grande festa se possa tornar realidade. O município, a APCIVR e o CAVR são as três principais peças desta engrenagem.

A organização de um evento como as corridas de Vila Real exigem um esforço tremendo por parte da cidade. Esse  esforço coletivo da cidade é gerido por três entidades: o município, a Associação Promotora do Circuito de Vila Real (APCIVR) e o Clube Automóvel de Vila Real (CAVR). 

O Eng. Rui Santos, presidente da Câmara de Vila Real, fez das corridas a sua bandeira e desde a sua entrada no leme do município, o esforço conjunto tem dado à cidade e à região muito mais do que apenas corridas. Com ele e a sua vasta equipa, Vila Real saltou para o panorama internacional e todos os anos, conseguem algo único: transformação de uma cidade pacata do interior, num dos palcos maiores do desporto motorizado mundial.

Município como peça central

Com dois anos de interregno, não seria de espantar que a vontade de receber corridas tivesse esmorecido, mas não parece ser o caso como explicou Rui Santos:

“Vou percebendo, quando falo com as pessoas de Vila Real, que há muita vontade de voltar a ter corridas e as saudades são grandes. Admito que nem tudo volte a correr como antes desta interrupção, porque a máquina já estava oleada, mas acredito que rapidamente regressaremos à realidade de 2019.”

A estrutura organizacional do Circuito Internacional de Vila Real é amadora e esse tem sido, em parte, o segredo do sucesso. A abnegação, a dedicação sem limites das pessoas que ajudam a montar e organizar este evento é a chave do sucesso. Obviamente que para Vila Real se manter apelativa e interessante, será necessário ponderar algumas mudanças, algo que Rui Santos admitiu estar em curso:

“Já pensamos numa nova estrutura organizacional, mas a pandemia parou este processo. Até 2019 tudo correu bem, paramos estes dois anos, vamos agora no final desta prova ver o que correu bem, o que correu mal e tomar os passos para continuarmos a evoluir. Fazemos as corridas com metade do dinheiro do Porto e as nossas corridas não são piores. E isso é possível graças à paixão, ao voluntarismo, à envolvência das pessoas que dão o melhor de si. Isso traz um sentimento de pertença que o dinheiro não compra. E isso traz-nos vantagens e, aqui e ali, algum inconveniente. Tendo visitado outros circuitos do WTCR, tendo falado com várias pessoas ligadas às corridas, uma das coisas que nos dizem sempre, e pelo qual somos muito elogiados, é que nunca dizemos que não a nada. Encontramos sempre uma solução. Em alguns locais, com estruturas profissionais, não há a mesma entrega e aqui o improviso é fundamental. Já temos alguns profissionais das corridas, com a única diferença que não recebem. Mas a dedicação é inquestionável e ao nível dos melhores. No entanto, estamos atentos. Ainda não foi por causa deste modelo que fomos impedidos de dar o salto que queríamos. Temos contactos com vários promotores, algumas das melhores competições do mundo, que mostram interesse em vir cá, mesmo com esta estrutura que temos.”

Com apenas 17 inscritos para a época toda, a Taça do Mundo vive um momento de menor fulgor, mas nada que preocupe Rui Santos. Vila Real escolhe as competições que recebe, olhando a vários fatores:

“Felizmente temos muito interessados em correr em Vila Real. Mas há uma ligação também do público, das pessoas, aos pilotos que não pode ser esquecida. Há pilotos que já vão a casa das pessoas, há ligações que se criam e que não devem ser quebradas. Vila Real é único por vários motivos e não podemos esquecer esses fatores nas várias escolhas que fazemos. Mas temos alternativas para o futuro. O que eu garanto é que estamos atentos e estamos sempre a pensar um ano ou dois à frente. E se uma competição sair de Vila Real, temos alternativas.”

APCIVR continua a olhar para o futuro

A APCIVR é, a par do CAVR e do Município, uma peça fundamental na organização das Corridas de Vila Real. Trabalhando em tudo o que está fora do âmbito desportivo, com essa pasta a estar entregue ao CAVR, a APCIVR tem como missão tornar as corridas cada vez melhores e José Silva tem como missão liderar a associação. Desafiado a recordar os momentos mais altos desta caminhada, José Silva lembra os memoráveis pódios das vitórias de Tiago Monteiro, festejados efusivamente pelo público presente no local:

“Os pontos altos para mim são o fim das corridas, quando tudo está concluído e vemos que fomos bem sucedidos, mas destaco especialmente as duas vitórias do Tiago Monteiro. Diria até que a primeira vitória do Tiago, em 2016, foi o ponto mais alto. No segundo pódio já estávamos preparados para o que podia acontecer, quer logisticamente quer ao nível da segurança e já havia caminhos abertos para as pessoas poderem ir para o pódio. Mas no primeiro ninguém esperava. Fomos confrontados com aquele mar de gente a chegar ao pódio e que estavam a ser impedidos pelos seguranças. Tivemos então de pedir aos seguranças para deixar passar. E depois veio o momento mais alto ainda que foi o hino, que foi cantado à capela.”

A paragem de dois anos, devido à pandemia, retirou algum ímpeto à festa transmontana. Mas José Silva acredita que se voltará ao que já vimos. Este primeiro ano é uma espécie de recomeço, para se voltar a caminhar rumo a um futuro ainda mais risonho:

“As questões orçamentais são muito importantes e temos limitações financeiras que não vale a pena escamotear.  Mas apesar dessas contingências, conseguimos fazer uma grande festa. Tínhamos muita coisa  programada para 2020  e em 2021, também pensávamos que poderíamos fazer pequenas festas, mas surgiam sempre novas vagas de Covid-19, que impediam que se fizessem. Só o facto de termos corrida é diferenciador e sentimos que as pessoas querem corridas. O WTCR está de volta, com os pilotos que as pessoas gostam e o município está a apostar muito na festa fora da pista. Mas sabemos que temos de fazer alguns upgrades e estamos a trabalhar nisso. Era importante voltar a termos a festa como tínhamos e então a partir daí voltarmos a pensar e a trabalhar para melhorar no futuro. E estamos a trabalhar para receber outras provas internacionais, o que não implica forçosamente substituir o WTCR. Mas estamos a trabalhar em trazer novidades para os nossos fãs. Com estes dois anos de paragem é quase começar do zero. Muitos campeonatos tiveram prejuízos muito grandes e muitos deles estão também agora a recomeçar. Por isso temos de voltar a organizar uma festa com a qualidade que já mostramos e então a partir daí tentar novidades.” 

CAVR sempre nos grandes eventos

O CAVR está habituado a organizar grandes eventos desportivos e o Circuito é mais um grande desafio. Muitos dos “filhos da terra” transformam-se em atores principais na organização, como é o caso de Eduardo Ferreira, que será o diretor de prova do fim de semana de corrida. Um cargo de grande responsabilidade e a prova de que não é preciso recorrer a pessoas de fora para fazer um evento deste calibre.

A ligação ao circuito já é uma história antiga para mais este apaixonado pelas corridas da Bila:

“A paixão surgiu desde que nasci, quando com 3 ou 4 anos ia para a Timpeira ver as corridas. Aos 11 anos comecei esporadicamente a ajudar a espalhar fardos de palha pelo circuito com os meus familiares, quando atingi a idade exigível tirei de imediato a licença de fiscal de pista e comecei no então Posto 14 (Chicane da Estação) com o professor Varela como chefe de posto, com quem aprendi muito. Depois por solicitação do então Presidente do CAVR, Sr. Jorge Fonseca, fui desafiado a assumir a segurança de todas as provas e modalidades do CAVR como Autocross, Rallycross, Karting, Camiões, Motos, Velocidade, Rampas e Ralis. Posteriormente, o Clube precisou de mim para assumir as funções de diretor de prova e aqui estou para contribuir da melhor maneira possível”.

Eduardo Ferreira explicou-nos brevemente em que consiste o seu trabalho durante o fim de semana de corrida que, consequentemente exige muita preparação prévia:

“Estando circunstancialmente nesta posição, a minha responsabilidade é ter toda a estrutura montada e capaz de responder às mais diversas exigências assim como necessidades, para que todos os setores envolvidos consigam desempenhar as respetivas funções da maneira mais eficaz e de igual modo responderem de forma adequada a estas mesmas contingências. A abrangência é tal e as solicitações tantas que só consigo desenvolver o meu papel com o apoio e ajuda incondicional de toda esta máquina infernal que me acompanha. Concentração, conhecimento de causa e experiência adquirida ajuda na tomada de decisões necessárias à ultrapassagem de contrariedades, seja no plano desportivo ou mesmo quanto ao público diz respeito e como alguém em dada altura da minha vida me disse: ´Estar sempre pronto porque a razão impõe e a preparação o permite´.”

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