MEMÓRIA: Troféu Datsun 1200 regressou há 20 anos: um sucesso ainda antes de o ser

Por a 12 Dezembro 2022 09:31

“O ‘bébé’ nasceu bem e recomenda-se! Com efeito, está dado o mote para que a reedição do Troféu Datsun/Nissan seja uma realidade bem sucedida no panorama do desporto automóvel nacional”, escrevia o AutoSport há precisamente 20 anos.

José Megre no seu Datsun 1200, em Vila do Conde

O “pai” da criança, José Megre, não podia conter o orgulho neste seu segundo “rebento”, em tudo semelhante ao primeiro, apenas com a diferença de… 30 anos de maturidade.

O seja, José Megre, reeditou o Troféu Datsun em 2002, 30 anos depois da primeira ’versão’ ter andado pelas pistas portuguesas: “mesmo com metade dos pilotos que temos previsto para o troféu, a primeira prova arrancou sob bons auspícios e gorou as minhas melhores expectativas. Nunca um troféu em Portugal reuniu tantos pilotos e isto é a prova que se pode fazer competições relativamente acessíveis e simultaneamente agradáveis”. Todavia, para que uma competição mantenha os alicerces até ao fim, será sempre necessário assegurar que a disparidade de andamentos seja totalmente alheia ao “factor” carro.

Se em Braga se notaram já algumas diferenças de andamento, até que ponto isso poderá constituir uma ameaça à proliferação do troféu? A esta pergunta, José Megre responde com elevada dose de confiança: “no final das corridas, muitos carros serão examinados ao pormenor, tal como já aconteceu nesta prova. Para além disso, vamos publicar informações cada vez que detectamos um ‘segredo’ no carro de forma a tentar equilibrar o ritmo dos pilotos mais rápidos e o dos mais lentos. É evidente que haverá sempre diferenças, mas vamos fazer tudo para minimizá-las”. Em prol do espectáculo, estará também o eterno conflito de gerações.

Neste campo particular, o promotor da competição é o primeiro a dar o seu contributo para que esse seja apenas mais um motivo para o sucesso: “vou ter dois carros para distribuir por antigos pilotos que tenham feito a primeira edição do troféu. É uma maneira de ajudar também a revitalizá-lo, sendo que o ideal seria fazer uma corrida no final do ano onde conseguisse ‘oferecer’ um carro só para os pilotos que disputaram o troféu há 30 anos. É uma ideia que gostava também de explorar!”.

E como para Megre “pensar” costuma ser sinónimo de “fazer”, é bom que as velhas glórias do automobilismo comecem a procurar o capacete “enterrado” no baú… E pronto, entramos na “máquina do tempo”!

Braga deu o mote, mas foi assim o ano todo

Não foi necessário estarem presentes os 113 inscritos no Troféu Datsun 1200 para se perceber que a competição monomarca mais concorrida de sempre está condenada ao êxito. Com “apenas” quatro dezenas de exemplares, José Megre conseguiu oferecer a um público entusiasta presente no Circuito Vasco Sameiro, em Braga, emoção quanto baste, disputas milimétricas, pilotos credenciados e um carro tão fiável quanto divertido de observar e, segundo a opinião dos pilotos, também de guiar. O primeiro verdadeiro teste dificilmente poderia ter corrido melhor, servindo para que todos os presentes “afinassem as agulhas” (e havia muitas desalinhadas!) com vista à preparação de uma temporada que se prevê muito aguerrida.

Na hora de “afinar as armas”, uma Final e duas mangas serviram de “balão de ensaio” para apontar os primeiros favoritos, que puderam, desde já, medir forças e recolher notas importantes para a “base de dados” dos respectivos carros.

Os três mosqueteiros

Mas nesta reedição do Troféu Datsun da mítica década de setenta, três nomes se destacaram. A “prova de fogo” da mais recente criação da Megre Motosport serviu para que Manuel Gião confirmasse o seu talento, Luís Oliveira demonstrasse que “velhos são os trapos” e João Magalhães provasse que terá passado, porventura, ao lado de uma grande carreira. Mas vamos por partes.

Com duas grelhas preenchidas com 17 e 18 carros, respectivamente, as mangas acabaram por dar o primeiro sinal de quem reunia já as condições ideais para lutar pelas primeiras posições. Manuel Gião foi o primeiro a sobressair, vencendo a primeira manga “in extremis”, com menos de um segundo de vantagem sobre Luís Oliveira, logo que viu consumada uma ultrapassagem de “coração” à terceira volta, ao então líder da corrida. Mais atrás, Carlos Fernandes não tinha grandes dificuldades para preencher o último lugar do pódio, à frente de Jorge Antunes que preparava assim o “brilharete” da Final na sua prova de estreia.

A expectativa crescia e a segunda manga prometia tanta ou mais animação. Só que, João Magalhães não demorou muito a tornar monótona a luta pela vitória já que ninguém ousou acompanhar o seu ritmo. No entanto, nem tudo estava perdido, uma vez que António Magalhães, António Correia, Rui Viana, Fernando Soares e Rui Salgado, entregaram-se a uma emotiva luta, mostrando que o grau de preparação de cada carro e as “mãos” do piloto, podem ajudar a equilibrar os andamentos.

Vencedores efectivos e… morais

Mas cumpridos os “preliminares”, chegou então a hora da verdade! Arrancando da primeira linha da grelha, Gião não conseguiu “agüentar” muito tempo a pressão de Luís Oliveira, descendo para a segunda posição logo no início da prova. A partir daí, o Campeão Nacional de Clássicos passou a dominar o hábil jogo do “rato e do gato”, construindo uma pequena margem de vantagem baseada na abordagem das curvas rápidas, onde era mais lesto que o seu adversário. Uns décimos mais atrás rodava a “jovem” revelação João Magalhães que teimava em não desaparecer dos retrovisores dos dois pilotos mais experientes. Um trio de “luxo” que empolgou toda a família “Datsun” presente até…à última volta!

E foi precisamente na derradeira abordagem da primeira curva do circuito que tudo se decidiu. Um toque violento de Gião na traseira do carro de Oliveira desequilibrou o líder para fora da pista colocando um ponto final nas aspirações do piloto que “jogava em casa”. Obviamente que as versões dos dois pilotos eram diferentes quanto aos factos e intenções da manobra que, diga-se em abono da verdade, funcionou como a única mancha negra na estreia do Troféu Datsun, ao acabar por decidir a identidade do vencedor. Com Oliveira relegado então para terceiro (mas com a vitória moral no bolso), restou então a Gião controlar as investidas do seu companheiro de equipa até cruzar a bandeirada de xadrez. Apesar de ter o carro melhor equilibrado e mais rápido, Magalhães acabou por nunca arriscar o suficiente para conquistar a sua primeira vitória, deixando assim as portas abertas para que Gião consumasse um facto histórico: vencer a primeira corrida da segunda geração do Troféu Datsun, depois do seu pai ter rubricado idêntico feito 31 anos antes. Foi, de facto, nostálgica esta primeira corrida!

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