PEDRO MATOS CHAVES: A CORRIDA DA MINHA VIDA

Por a 27 Fevereiro 2024 17:50

Pedro António Matos Chaves, nasceu no Porto, em 27 de Fevereiro de 1965. No dia em que celebra 59 anos, recordamos um dos momentos da sua longa carreira.

Molson Indy Vancouver/British Columbia 1995, Indy Lights. “Faziam-me gestos obscenos e eu pensava que era por ter sido primeiro!” Pedro Matos Chaves tem uma coleção de corridas e ralis memoráveis, mas nenhuma teve o significado do triunfo de Vancouver quando militava na Indylights.

Para que se perceba porque escolhi esta corrida entre tantas outras, é melhor contextualizá-la. Estávamos em 1995 e nesse ano participava na Indylights com a equipa Leading Edge num Lola-Buick. O grande favorito à vitória no campeonato era o Greg Moore, que já conhecia desde os meus 28 anos (quando cheguei ao EUA) e dos 16 dele, quando ele aceitou fazer um pacto comigo por não ter ainda carta: eu levava-o para todo o lado e ele indicava-me o caminho e apresentava-me às pessoas importantes!

Mas em 1995 eu não tinha grandes ilusões: ele era a estrela e o favorito. Tinha conseguido o patrocínio da Players (tabaco), rodeara-se das pessoas certas e tinha um talento incrível (principalmente nas ovais) e, por isso, só perdeu duas corridas nesse ano. Desde abril que ganhava tudo e chegou a Vancouver (Canadá), a sua cidade natal, e esperava ganhar naturalmente mais uma vez. Mas não foi isso que aconteceu…

Nos treinos fez a pole e eu arranquei de terceiro com o Robby Buhl entre nós. Rapidamente consegui passar o Buhl, mas o Moore foi-se embora e, num circuito muito rápido e técnico, à 30ª volta ela já me ‘tinha dado’ 4 segundos e não havia nada a fazer. Eis quando já tinha praticamente desistido da luta quando um acidente obriga à entrada do Safety Car… No recomeço, eu sabia que era mais rápido que ele com as pressões de pneus que tinha (diferentes das dele), pelo que tinha que o passar nas duas primeiras voltas já que depois disso ele voltaria a ser mais rápido e ia-se embora. Foi então que nessa segunda volta, depois do recomeço, planei tudo para passá-lo no único sítio onde sabia que conseguiria, num gancho antecedido por uma ligeira curva (tipo a da reta interior do Estoril). Mas ele surpreendeu-me! Não fez aquela ligeira curva a fundo e eu bati-lhe na traseira a 270 km/h, acertando-lhe na caixa de velocidades! Isso fez com que no gancho, 200 metros depois, onde era preciso reduzir de 6ª para 2ª, o Greg fosse em frente e eu ficasse à frente nas 17 voltas seguintes e acabasse por ganhar.

No final, o público, furioso, só me fazia aquele gesto obsceno com um dedo e eu todo satisfeito, dentro do monolugar, a pensar que me estavam a apoiar e a dizer que eu era o primeiro! Devido a um diferendo que Portugal tinha na altura com a quota de pescas com o Canadá, no mar dos Açores, o título num dos jornais do dia seguinte foi até “Portugal não é apenas maldoso nas pescas!”, mas, de facto, só toquei mesmo no Greg porque ele não fez a curva a fundo, provavelmente porque ainda não tinha a pressão dos pneus na temperatura ideal. Nunca mais esqueci a corrida, ainda mais depois de ele falecer no terrível acidente de 1999, em Fontana, na CART.

https://youtu.be/G2H1lYR0hBw

B.I.

Pedro Matos Chaves é um dos mais populares pilotos portugueses de todos os tempos. Foi um dos precursores do fluxo migratório de pilotos portugueses de fórmulas para a Europa na tentativa de chegar à F1. Antes de se tornar o segundo português a atingir o patamar mais elevado do desporto automóvel ainda foi campeão inglês de F3000. Chegou à F1 em 1991 pela mão de Colini, mas com um carro pouco competitivo nunca se chegou a qualificar para nenhuma das 13 corridas em que participou. À aventura da F1 sucedeu-se a dos EUA, onde durante três anos militou na Indy Lights. Sempre preparado para surpreender, Chaves experimentou os ralis e averbou dois títulos absolutos com um Toyota Corolla WRC. Daí para a frente, alternou entre a velocidade (onde conquistou o campeonato espanhol de GT num Saleen S7 com Miguel Ramos) e os ralis (como piloto oficial da Renault) onde terminou a sua carreira. Tudo isto antes de ser coach no A1 Team Portugal.

Dados da corrida

Local: CircuitoVancouver/British Columbia (Canadá) com 2849 m

Condições Pista: Seco

Data (Hora): 03/09/1995 (10h30/12h15)

Intervenientes: Pedro Matos Chaves e Greg Moore

Carro: Lola-Buick (Indylights)

Classificação: 1º

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