Os heróis que ganharam o Rali Safari


Mais que todas as ‘estórias’ ou atribulações que o rali originou, as últimas memórias do Safari andam à volta dos heróis que foram seus vencedores. Dois dos mais importantes vencedores da prova já não estão entre nós.

Shekhar Mehta [20/06/1945 – 12/04/2006] morreu em resultado de um acidente que sofreu durante um rali-raide no Egipto, muitos anos antes e cujas sequelas nunca passaram na totalidade, precipitando o trágico desfecho. As suas cinco vitórias são um recorde que nunca foi alcançado. Membro de uma importante família indiana que tinha diversos interesses em negócios um pouco por todo o mundo, nasceu no Uganda, mas passou a maior parte da sua vida na Grã-Bretanha e no Quénia. Era muito respeitado na fraternidade Datsun/Nissan no Japão, pois foi com os seus carros que ele venceu sempre a prova.

Björn Waldegaard [12/11/1943 – 29/08/2014], que morreu de doença no ano passado, venceu o primeiro Safari do WRC com um Ford e, depois, por três vezes com um Toyota – e, em 2007 e de novo em 2013, ganhou o East Africa Safari Classic rally. Com 46 anos, Björn tornou-se o piloto mais velho a vencer uma prova do WRC, quando ganhou a edição de 1990.

Mas então o Safari pode ser considerado como uma prova em que só os mais velhos e experientes conseguem vencer? Não necessariamente. Quando Juha Kankkunen venceu pela primeira das três vezes em que o fez, em 1985, tornou-se o mais jovem de sempre a consegui-lo, aos 26 anos – e foi também a primeira vez que um piloto ganhou a prova no seu ano de estreia. E Hannu Mikkola, sem dúvida o mais completo piloto de todos os tempos, quando venceu o Safari em 1987, a primeira como prova do WRC, já se tinha tornado no primeiro estrangeiro a fazê-lo… em 1972 – um ano antes de chegar o WRC.

Ari Vatanen, que venceu a prova em 1983, foi então largamente aplaudido como exemplo da transformação do carácter de um piloto, que antes disso era simplesmente um piloto arrojado e que tinha hipotecado tantos sucessos ao destruir os carros que utilizava.

Catorze anos mais tarde, aconteceu o mesmo com Colin McRae, quando conquistou a primeira das suas três vitórias, em 1997. Um ano depois, Richard Burns, que apenas lamentou ter ganho o título mundial somente uma vez, em 2001, e cujo maior desapontamento foi não ter conseguido ser campeão sem ter ganho qualquer prova, mostrou um caráter diferente, vencendo a prova por duas vezes de forma muito consistente. Ironicamente, uma das piores razões porque as equipas perderam o interesse na prova foi quando Burns abandonou em 2002, porque ele ficou atascado na areia mole… mesmo dentro da zona oficial de assistência!

Apesar da autêntica adulação que os japoneses tinham pela prova, apenas uma vez o Safari foi ganho [em 1995] por um piloto japonês – Yoshio Fujimoto, que mais tarde se tornou um internacionalmente muito respeitado fornecedor de amortecedores de competição.

Para um piloto que vá ao Quénia, o mote principal deveria ser ‘Never Say Die”. Quando Miki Biasion ganhou o Safari e finalmente quebrou o enguiço dos italianos, em 1988, o sucesso apenas apareceu depois de ter bloqueado a caixa de velocidades, de ter quebrado um semi-eixo e de ter atropelado uma zebra. E esse rali foi considerado como uma prova sem incidentes…

Martin Holmes, In Memoriam

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