Conhece a história dos troços de Fafe?

Por a 17 Fevereiro 2024 11:50

Falta uma semana para o Rali Serras de Fafe, prova que este ano volta a abrir o Campeonato de Portugal de Ralis e que já vai para a 37ª edição. Numa região que dispõe de condições únicas para o desporto automóvel, fruto da paisagem, desenho e caraterísticas das estradas, há quase quatro décadas que a prova é uma festa popular. Fafe tem sido uma referência, ou não fosse uma das capitais mundiais dos ralis, e por isso recordamos como tudo começou…

Quem não se lembra das enormes moles humanas que sempre coloriram as encostas do Confurco ou o Cabeço da Pedra Sentada! Mas como em tudo na vida, esta brilhante história teve um começo e um dos seus grandes impulsionadores, quiçá o maior, é Parcídio Summavielle, ex-Presidente da Câmara de Fafe, o ano passado nomeado cidadão honorário da Cidade. Foi ele, que com o seu entusiasmo e abnegação desbravou muitos dos caminhos que agora são revisitados pela nata do WRC, e por isso aqui fica a história na primeira pessoa:

“Já era tradicional o Rali de Portugal passar por Fafe, com o troço de Lagoa e como eu sem fui adepto automobilismo em geral e ralis em particular, ficava impressionado com a mole humana que se deslocava aos troços. Quando fui para a Câmara, pensei logo na possibilidade de aumentar o número de troços que havia, para o rali. A oportunidade surge pelo facto de nessa altura muitas das aldeias de Fafe não terem acessos, pois nem o médico conseguia ir de carro a muitos povoados, que só tinham caminhos de pé posto. Portanto uma das minhas primeiras tarefas foi abrir estradas para todos os povoados serranos, especialmente os que tinham mais dificuldades de acesso” começou por nos contar Parcídio Summavielle, que explicou como tudo nasceu:

“Em determinada altura, pude contar com umas máquinas potentes do Ministério da Agricultura, fruto das nacionalizações do 25 de abril de 1974. Por sorte, um engenheiro, o José Oliveira, era casado com uma prima minha, então propus-lhe pagar a um operador de máquinas, o gasóleo e peças e ele emprestava-mas. E foi assim que tudo começou. Recordo-me que o operador era alentejano, e apesar de estar habituado a desbravar tudo a direito no Alentejo, pois só havia sobreiros, aqui em Fafe, o terreno era irregular, muros, regos. Mas com ele ia tudo à frente. Foi assim que fomos começando a abrir caminhos pelas serras, que anos mais tarde, alguns, dariam origem aos conhecidos troços de Fafe, dos quais sinto grande orgulho. Aquelas imagens do salto marcaram uma época dos ralis. E foi assim, singelamente que se construiu uma Catedral.”, contou Parcídio Summavielle, que acrescentou também alguns detalhes deliciosos:

“Mais tarde cheguei à fala com César Torres e propus-lhe construir troços bons e motivadores, e em contrapartida ele comprometia-se a fazer crescer o rali em Fafe. Tínhamos mais argumentos, para além das boas estradas, pois para lá da rádio do ACP e da GNR, se a cobertura falhasse, nos tínhamos ainda um grande número de colaboradores que espalhávamos à volta dos troços, que tinham sempre visionamento uns para os outros, e isso também foi preponderante pois as questões segurança eram vitais. Logicamente, as populações queriam cada vez mais asfalto, e por isso houve que reinventar. Curiosamente, enquanto o terreno era desbravado já a pensar em troços para ralis, pensava-se sempre na criação duma boa classificativa, pois havia zonas onde podíamos fazer uma reta e ao invés disso, desenhávamos curvas. Há mais exemplos, como o troço de Luilhas, que nasce da necessidade de desbravar caminhos para fazer face aos fogos florestais e nesse caso, para além das eólicas, essa estrada só serve para ralis, porque foi desenhada mesmo pelo cimo do monte. Muitas delas ainda hoje se mantêm essencialmente para combate aos incêndios.”, disse Parcídio Summavielle, um dos principais obreiros dos fantásticos troços de Fafe.

“Fuja meu Senhor, que isto é coisa doutro mundo”

No seu trabalho a desbravar caminhos nas Serras de Fafe, que servissem os povoados, Parcídio Summavielle viveu um dia uma situação que ainda hoje recorda com satisfação, e que prova a validade do trabalho que encetou a abrir caminhos para servir as povoações: “Um dia estávamos a abrir um caminho para Santa Cruz, perto de Queimadela, numa zona em que os caixões se traziam às costas. Eram locais difíceis, caminhos de pé posto, muito recônditos, mas a máquina do alentejano levava tudo à frente. Nesse dia chovia, e a máquina trabalhava sob as ordens de um engenheiro com uma grande capacidade de visionar boas estradas. Não havia projectos, era a olho nú, ia-se por onde se achava melhor e a estrada nascia. Chovia, e já perto duma pequena povoação , abriguei-me junto a um celeiro, debaixo dumas telhas, onde estava uma Srª, muito velhota, de lenço negro na cabeça. O chão começou a tremer com o avanço da máquina, e diz-me ela assim assustada: Fuja meu Senhor, que isto é coisa doutro mundo. Nunca mais me esqueci…”, referiu Parcídio Summavielle.

 

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