LEMBRA-SE DE: Williams FW-26/BMW ousou para ser original


O primeiro Fórmula 1 a ser apresentado em 2004 surpreendeu pela originalidade das formas da sua frente, que permitiram considerá-lo como o mais inovador F1 surgido na última década, até 2004, num monolugar que contrariou a tendência para a ‘normalização’ que se vinha verificando nos últimos anos.

O efeito de surpresa provocado pelo FW-26 foi ainda maior por se tratar dum Williams, devido à tradição de conservadorismo dos projetos desta equipa, normalmente avessa à ousadia colocada no seu carro novo. Mas a Williams revelou ousadia para 2004, projetando para o FW-26 uma frente original, em que o “bico” é relativamente largo e estava recuado em relação à asa da frente, suportando-a através de dois arcos, que pareciam presas de elefante invertidas e lembravam os arcobotantes das construções góticas. Para além disso, o novo Williams também adotava o conceito de “quilha dupla” na parte inferior da frente, com dois apoios separados para os braços inferiores mais avançados da suspensão da frente, semelhante às soluções usadas nos McLaren desde 2002, mais sofisticadas do que as adoptadas anteriormente nos Arrows e Sauber.

O novo FW-26 também representava um passo em frente na colaboração entre Williams e BMW, uma vez que esta última não se limitava a fornecer os motores e toda a tecnologia directamente relacionada com estes, mas também era responsável pela caixa de velocidades e outros elementos da transmissão.

O Circuito Ricardo Tormo, em Valência, foi o palco escolhido pela Williams para mostrar o primeiro F1 de 2004 a ter direito a uma apresentação formal, o segundo projeto novo a ser conhecido, depois da McLaren ter lançado o MP4-19 diretamente em testes de pista. E quando o FW-26 foi destapado e elevado num palco giratório improvisado, as habituais palavras de circunstância, que o tinham precedido, ganharam uma nova dimensão, uma vez que a audácia do projeto sublinhava as ambições duma equipa que se mostrava determinada a reencontrar o caminho do sucesso, pondo fim a um jejum que já durava há seis anos, o período mais longo em que a Williams não alcançou qualquer

título mundial.

Depois de vários projectos em que tinha sido feita a evolução dos conceitos aerodinâmicos definidos pela dupla Gavin Fisher/Geoff Willis, e que foi mantido mesmo depois da saída deste último para a BAR, a Williams apresentava uma proposta verdadeiramente inovadora para 2004, resultado do desenvolvimento de novos conceitos aerodinâmicos pela equipa de Antonia Terzi, tendo como base uma solução que já tinha sido experimentada há alguns anos, no tempo em que Willis estava na Williams, mas que só naquela altura se terá mostrado vantajosa.

Para além da já referida tradição conservadora da equipa, a originalidade do FW-26 também surpreendeu pelo facto do FW-25 se ter mostrado bastante competitivo durante a maior parte da época de 2003, e particularmente nas últimas corridas, como sublinhou na altura Gavin Fisher, o principal responsável pelo projecto: “O FW-26 não é uma evolução do seu antecessor, o que deve surpreender muita gente pelo facto deste ter sido um carro relativamente bem sucedido. Na Fórmula 1, porém, não se pode descurar o ritmo de desenvolvimento, por um minuto que seja, pois a história está repleta de exemplos de equipas que pensavam beneficiar duma situação de vantagem, antes de constatarem que tinham sido ultrapassadas… Seguramente, se o FW-26 fosse uma evolução directa do FW-25, deveria ser um carro rápido, mas sê-lo-ia o suficiente para ser campeão? Isso dependeria da evolução verificada nas outras equipas, por isso procurámos levar o nosso desenvolvimento tão longe quanto possível.”

A ousadia do projeto deixou a equipa com uma enorme expetativa quanto aos primeiros testes de pista, mas como estes superaram as perspetivas mais otimistas, foi com uma motivação reforçada que os técnicos da equipa tiveram que reforçar a original frente do FW- 26, por forma a superar os testes de choque, pois até ao momento da apresentação, o novo Williams ainda não tinha superado essa prova, obrigatória e indispensável para que pudesse participar na época de Grandes Prémios de 2004, pilotado por Juan Pablo Montoya e Ralf Schumacher. Passou, mas o resultado no fim do ano foi um negativo quarto posto no Mundial de Construtores, bem pior que nos dois anos anteriores em que a Williams tinha sido segunda.

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