A última vez que um GP de F1 não foi ganho por um Mercedes, Ferrari ou Red Bull…

Por a 17 Março 2020 11:58

A Lotus sempre foi uma das equipas mais brilhantes da Fórmula 1 e o seu fundador, Colin Chapman, o grande obreiro. As vicissitudes próprias da disciplina levaram ao seu fim, mas deixou muitas saudades. Vamos recordar dois pontos antagónicos do seu trajeto. Um alto e um baixo. O alto, sucedeu extamente há sete anos, naquela que foi a última vez que um Grande Prémio de Fórmula 1 não foi ganho por um Mercedes, Ferrari ou Red Bull…

Por José Luís abreu

Fotos Arquivo AutoSport

O Team Lotus, na sua versão original e histórica, chegou ao Grande Prémio de Itália de 1994, em Monza, em situação económica complicadíssima e a meio caminho para fechar as portas. Mas a Mugen Honda produziu um super-motor para a fase final da temporada, disponível só no carro de Johnny Herbert, e o inglês fez o que lhe competia e qualificou-se na quarta posição!

Como para a corrida a Lotus sabia ter menor desgaste de pneus do que os Ferrari, só os Williams pareciam poder dar-lhe luta – a Benetton estava sem Michael Schumacher, punido com duas corridas de suspensão por ter ignorado a bandeira negra em Silverstone – mas logo na primeira curva foi tudo por água abaixo. Como recorda Johnny Herbert: “Fiz um belo arranque, cheguei em terceiro lugar à travagem para a chicane e, de repente, o Irvine acertou-me em cheio e nem cheguei a virar o volante para

a esquerda….” Na época as corridas ainda eram paradas quando se davam incidentes deste género nas primeiras duas voltas, pelo que Herbert pôde arrancar para a prova com o carro de reserva, mas com o motor antigo, e até abandonar, nunca esteve nas primeiras posições.

Na frente Damon Hill não teve competição, ganhou tranquilo e aproximou-se do ausente Schumacher no Mundial, mas para a Lotus o resto da temporada foi um penoso arrastar que culminou com o fecho da escuderia no final da temporada.

Década e meia depois, em 2009, a FIA abriu novamente o acesso à F1 para novas equipas e o governo da Malásia decidiu recriar a Lotus para promover a Proton, equipa que era detida conjuntamente pelo Governo da Malásia e por um consórcio de empresas, que incluía a Proton. Tony Fernandes foi nomeado para ser o homem do leme e Mike Gascoyne para Diretor Técnico. A equipa, de licença malaia, estava baseada em Norfolk, na Grã-Bretanha, e utilizava motores Cosworth. A Lotus contratou um duo sólido de veteranos, Jarno Trulli e Heikki Kovalainen, mas o Lotus T127 de 2010 não marcou um único ponto. Os melhores resultados foram um 12º lugar de Heikki Kovalainen e um 13º lugar para Jarno Trulli. A estrutura trocou para motores Renault em 2011, com o T128, e houve também alteração no nome da equipa.

Era Lotus F1 Racing em 2010, mas Tony Fernandes mudou o nome para Team Lotus, assumindo o mítico nome histórico, mas a Proton, proprietária da ‘Lotus Cars’ iniciou de imediato um processo legal para recuperar o nome Lotus e no meio desta enorme confusão de nomes e direitos, a Renault vendeu as suas últimas ações à Genii Capital e a equipa, patrocinada pela Lotus Cars, passa a chamar-se Lotus Renault GP. Assume as cores preto e dourada da Lotus dos anos 70, mas manteve o nome Renault. Apesar das mudanças, a temporada de 2011 foi igualmente má.

A meio de 2011 os tribunais confirmaram o direito de Tony Fernandes usar o nome Lotus, mas em dezembro, Fernandes anunciou que a sua equipa iria mudar novamente de nome, desta feita para Caterham F1 Team, permitindo que a Renault se tornasse oficialmente a equipa Lotus para 2012. É, portanto, o Team Lotus F1 que se segue nesta confusa sequência, o monolugar passa a ser denominado E20, e construído na fábrica de Enstone. A Lotus-Renault convence Kimi Räikkönen a regressar à F1 depois de dois anos no WRC e Romain Grosjean é também contratado.

Em 2012 a equipa faz quarto lugar no Mundial, com Kimi Räikkönen a vencer em Abu Dhabi. No início de 2013, na Austrália, Kimi Räikkönen obteve a 81ª vitória da história

da Lotus, e é essa que vamos recordar…

GP DA AUSTRÁLIA DE F1 2013: VITÓRIA CATEGÓRICA DE RÄIKKÖNEN

Numa corrida em que reinaram a incerteza e as inúmeras trocas de posição, Kimi Räikkönen fez uso da sua proverbial rapidez para, em momentos chave, se impor a Alonso e Vettel, e conquistar a sua 20ª vitória. A última vez que a Lotus tinha vencido um Grande Prémio de arranque de uma temporada foi em 1978, o GP da Argentina, então com Mário Andretti ao volante. Nesse ano, Kimi Räikkönen nem era nascido… Em Melbourne, o finlandês deu à Lotus a vitória da confirmação. De que a equipa de Enstone estava no caminho certo no que toca ao desenvolvimento do E21 e que todas as preocupações em redor da fiabilidade do novo monolugar preto e dourado não tinham razão de ser.

A performance da Lotus nos testes de pré-temporada mostrara que era preciso contar com ela na luta pelos lugares de destaque, mas subsistiam muitas dúvidas sobre qual seria o desempenho global da formação liderada por Eric Boullier num fim de semana de Grande Prémio, sobretudo num tão competitivo grupo da frente, onde Red Bull e Sebastian Vettel eram claramente favoritos, com a Ferrari a surgir logo atrás.

Apesar disso, e depois de se qualificar em sétimo a mais de 1,3 segundos da pole de Vettel, Räikkönen manteve-se no grupo da frente, lutando primeiro com Hamilton pelo quarto lugar para depois se instalar na liderança na volta 24, onde se manteria até à sua segunda paragem nas boxes, ficando claro nessa altura que a Lotus planeara uma estratégia de apenas dois pit stops para o finlandês.

O segredo para a vitória esteve no elevado ritmo que Kimi conseguiu impor sem infligir maus-tratos aos seus pneus, estendendo a vida-útil destes até à 34ª volta, antes da sua segunda paragem – da qual regressou à pista em quinto. O momento-chave da corrida dá-se quando o grupo líder formado por Alonso, Massa e Vettel procede à sua terceira paragem, deixando Sutil na cabeça da corrida. Quando o regressado alemão, numa demonstração de forma espetacular, fez a sua segunda paragem na volta 46, Räikkönen passou a líder, mas pressionado pelo espanhol da Ferrari que fazia tudo para definhar a desvantagem. Quando os pneus destes perderam o pico de aderência, o intervalo

manteve-se estável e, para que não houvesse dúvidas, o finlandês averbou o seu melhor tempo na volta 56, mostrando que tinha margem para suplantar qualquer surpresa que surgisse. Uma vitória categórica e sem contestação, com 12,4 segundos de diferença sobre Alonso, revelando rapidez e eficiência por parte do binómio Räikkönen/Lotus E21. Mas foi sol de pouca dura.

Kimi Räikkönen manteve um nível de performance muito elevado nas 17 provas do Mundial em que tomou parte, antes de cortar a sua ligação com a Lotus depois do G. P. de Abu Dhabi, por não lhe ter sido pago nem um dos 17.150.000 € que lhe eram devidos. Räikkönen começou o ano com um triunfo em Melbourne, obtido por ter conseguido trocar de pneus menos uma vez que os seus rivais e conseguiu mais três segundos lugares nas quatro provas seguintes, que o deixaram na luta pelo título. Maus resultados no Mónaco – por culpa de Pérez – e no Canadá atrasaram-no significativamente, mas foram o abandono em Spa e o 11º lugar em Monza que o deixaram definitivamente arredado da luta pelo Mundial.

Em dificuldades com os pneus que a Pirelli selecionou para a segunda metade da temporada, Räikkönen deixou de ser muito eficaz nas qualificações, mas o seu andamento em corrida esteve sempre ao nível a que nos tinha habituado. Como já se percebeu, ‘esta’ Lotus, estava também cheia de problemas. Räikkönen tinha um salário base de oito milhões de euros e recebia 50.000 euros por cada ponto conquistado. Antes de chegar a Abu Dhabi, o finlandês já tinha marcado 183 pontos, o que equivalia a um bónus de 9 milhões e 150 mil euros. Somados aos tais oito milhões de euros de salário base, chega-se aos 17 milhões e 150 mil euros que Räikkönen reclamava: “Quando não te pagam nem um euro, não gostas de ouvir que não és um bom elemento da equipa e que não tens os melhores interesses da equipa em consideração. A F1 também é negócio e, algumas vezes, este aspeto tem reflexos muito importantes no que se passa dentro e fora das pistas.” O finlandês ainda voou para Abu Dhabi, “porque encontrámos uma base de entendimento”, mas não participou nas últimas duas corridas da temporada, “porque quando te dizem muitas vezes a mesma coisa e não acontece nada, deixas de acreditar nas pessoas.” Foi substituído por Heikki Kovalainen. Os problemas foram-se avolumando e depois de ter sido quarta classificada do Mundial em 2012 e 2013, em 2014 a queda foi brutal, para o oitavo lugar, com Romain Grosjean e Pastor Maldonado a somarem apenas 10 pontos. As coisas melhoraram em termos desportivos um pouco em 2015, a equipa conseguiu o sexto lugar do Mundial com 78 pontos, mas em termos financeiros a situação agudizou-se muito e em dezembro de 2015 a Renault adquiriu novamente a equipa, regressando como construtor à Fórmula 1. Desde aí, desapareceu a Lotus, mas a Renault também tarda em ‘aparecer’…

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