Não são parcos os exemplos de carros de corrida que são igualmente bons nos ralis, como nas pistas. Exatamente da mesma forma que a Porsche se virou para os ralis sem lhes dar grande importância, a BMW conseguiu transformar o seu bem-sucedido M3 num interessante Grupo A de ralis.
A Prodrive, a dar os primeiros passos na preparação técnica, tinha uma base pouco vantajosa para desenvolver um carro deste tipo, com motor atmosférico de 2,3 litros e transmissão apenas às rodas traseiras, mas o pequeno e leve M3 teve sempre uma palavra a dizer.
Em 1987, Bernard Béguin desistiu na estreia do carro no Rali de Garrigues, no sul de França, mas mostrou a valia da aposta ao vencer o Rali da Córsega um mês mais tarde. Foi uma das raras vitórias de uma equipa não oficial numa prova do Campeonato do Mundo, especialmente com a fortÃssima oposição da Lancia e Renault.
A Prodrive continuou a evoluir o carro, produzindo uma versão com caixa de seis velocidades para 1988, aumentando a potência para 285 cv, chegando perto dos 300 no ano seguinte, valores que ajudaram muito Marc Duez a realizar uma fantástica exibição no Rali de Portugal de 1989, que ainda hoje é recordada, não tanto pela classificação, mas pelo espectáculo que deu pois com uma condução espetacular ao volante do BMW M3 da Prodrive, o belga Marc Duez ‘abafou’ novo triunfo de Miki Biasion
Sendo verdade que a edição de 89 se desenrolou novamente sob domÃnio italiano, pois Miki Biasion voltou a passear a sua superioridade, a verÂdade é que o Rali de Portugal de 1989 ficou muiÂto marcado pelo espetáculo que deu Marc Duez aos comandos do seu BMW M3 da Prodrive.
O piloto belga terminou o rali em quinto a quase 40 minutos de Biasion, mas durante a prova é difÃcil que não tenha sido o piloto mais aplaudido, tal foi o espetáculo que deu nos troços.
De resto, a superioridade da Lancia foi evidente. Embora contasse já com a oposição da Toyota, disposta a ser mais bem-sucedida do que a Mazda a contrariar o favoritismo transalpino, a Lancia voltou a colocar três carros nos primeiros três lugares, com Biasion na frente de Markku Alen e Alex Fiorio. A equipa japonesa veio para o Mundial de Ralis para bater o pé à Lancia, mas ainda era muito cedo para isso, e nesta prova os três carros japoneses, Toyota Celica GT-4 de Juha Kankkunen, Bjorn Waldegard e Carlos Sainz, ficaram todos pelo caminho, o do espanÂhol por acidente. Curiosamente, em Montejunto, Sainz era lÃder do rali.
Alen teve problemas com os travões do Lancia e depois com a embraiagem, e atrasou-se. Biasion começou a bater o rápido Didier Auriol e o rali ficou decidido. Se no pasÂsado, Biasion já tinha ganho por ‘decreto’, desÂta feita, fruto de uma pilotagem limpa, venceu, e convenceu. A Lancia registaria igualmente uma vitória entre os pilotos nacionais, já que Carlos Bica iniciou neste ano uma série de três triunfos consecutivos na luta pelo melhor concorrente luso. A prova ficou ainda marcada pela trágica morte de Augusto Mendes, que se despistou na Lousã, caindo com o seu Opel Kadett GSi por um precipÃcio incrÃvel. Por milagre o navegador fiÂcou incólume.
De resto, para além do vitorioso Béguin e de Duez, pilotos como François Chatriot e Patrick Snijers deram boa conta de si com o modelo alemão, com este último a dar grande luta a Fabrizio Tabaton e ao seu Lancia no Europeu de Ralis de 1988. Com o M3, a Prodrive manteve-se à tona nos ralis durante três anos, criando uma fama que lhe serviu para seduzir a Subaru, pouco tempo depois. Quanto à BMW, sempre tratou o M3 de ralis com grande indiferença e a cada vez maior difusão dos fortes 4×4 de Grupo A fez o resto.