Kris Meeke: “Tenho mais a aprender com o Mads do que ele comigo”

Apesar dos desaires do ano passado, a Citroën renovou a sua confiança em Kris Meeke e até aqui o inglês teve uma bela prestação em Monte Carlo, muito cautelosa e segura, que lhe valeu um terceiro lugar enquanto na Suécia não teve tanta sorte, nem poderia, já que nunca sequer tinha competido num único rali de neve. A sua garra e rapidez são conhecidas, e apesar de ter muito pouca tolerância para acidentes, está a conseguir passar incólume a eles. Já obteve este ano a sua melhor classificação de sempre numa prova do WRC, melhorando em Monte Carlo (3º) o quarto posto da Grã-Bretanha em 2011.

A 16 de dezembro de 2006, uma notícia publicada no jornal irlandês Belfast Telegraph, escrita pelo reputado jornalista de Ulster, Sammy Hamill, intitulava-se “Meeke deixou de ser guiado pelo sonho do Mundial de Ralis”. A dada altura, na peça podia ler-se, “Kris Meeke desistiu do sonho do WRC”. Precisamente sete anos depois, a 16 de dezembro de 2013, o piloto de Ulster foi apresentando como um dos dois pilotos oficiais da equipa Citroën para o Mundial de Ralis de 2014. É irresistível perguntar a Kris Meeke…

… Como recuperaste o sonho e se deu a reviravolta na tua carreira?

Acho que a reviravolta ainda não aconteceu. Ainda não ganhei nada! Estou ao serviço de uma equipa como a Citroën num carro tão desenvolvido como o DS3 e ainda a beneficiar da experiência e conhecimento da equipa. É uma incrível oportunidade para mim mas também é algo pelo qual sempre lutei e para a qual trabalhei muito. É verdade que a oportunidade veio numa fase adiantada da minha carreira mas ainda me sinto como um jovem. Reconheço que estou ainda muito ‘verde’ em termos de experiência com um World Rally Car mas, não obstante, não posso deixar de pensar que o WRC é um lugar fantástico para se estar.

Quais eram os teus planos quando a MINI encerrou o seu programa de dois anos como equipa oficial?

Honestamente, não sabia o que o futuro me reservaria. Durante algum tempo, pensei em retirar-me, ‘descer à Terra’ e arranjar um emprego normal como toda a gente. Depois, finalmente, decidi que não guiaria mais nenhum carro de ralis que não fosse um carro de fábrica. Um carro de uma equipa pequena ou grande mas onde tivesse um programa de testes. Tinha era que ser um carro oficial. Para mim, esta é a única maneira de me poder comprometer com o desporto automóvel. Vinquei estes objetivos e consegui entrar para piloto de testes do grupo PSA com o 208 R2 e a partir daí ter um papel ativo com o R5, fosse o 208 ou o DS3. Tenho dito a mim mesmo, ultimamente, que estive no lugar certo, na hora certa.

Confirmaste que a tua experiência com World Rally Cars é limitada. Isso será um problema sério?

A minha experiência com os atuais WRCs é limitada. Testei um dia, antes do Rali da Finlândia de 2013 e fiz o Rali da Finlândia e da Austrália. Nunca tinha guiado o DS3 em asfalto antes do Monte Carlo, numa situação parecida com a do meu colega de equipa, Mads (Ostberg). Depois fomos à Suécia onde eu não tinha experiência na neve. Posso dizer que tenho mais a aprender com o Mads do que ele comigo. E o primeiro rali de terra será apenas no México. Depois disso vamos a Portugal onde eu também nunca estive pelo que só tenho que moderar o meu entusiasmo nos primeiros eventos da época.

Uma das grandes diferenças entre ti e o Mads é que tu tens muito maior experiência em carros de tração à frente. Até que ponto essa experiência te pode ajudar a guiares um carro como o DS3 WRC?

Não sei. Habituei-me a ver pilotos muito bem-sucedidos na Citroën ao longo dos anos (como Sébastien Loeb e Sébastien Ogier) provenientes da escola da Junior WRC que usavam carros de tração dianteira. Acredito nos jovens que iniciam a carreira neste tipo de carros pois pode-se aprender a tirar melhor partido da motricidade e da gestão do acelerador. Se se conseguir guiar um tração dianteira no limite a transição para um carro de tração integral é fácil. O Sébastien Loeb desenvolveu os Citroën e esses carros todos tiverem sempre o seu set up base. Talvez por ele ter um estilo de condução muito suave, próprio de um carro de tração dianteira, os carros tenham tido sucesso. Não sei se é uma vantagem vir dos carros de tração à frente mas seguramente não é nenhuma desvantagem.

O que está por detrás do teu histórico de acidentes nos ralis?

Se olharmos para trás na minha carreira, mesmo quando eu estava na JWRC em 2006, eu raramente sabia se tinha pela frente uma época inteira. Por isso em cada evento eu tinha que provar algo e era como se fosse o último e só passei a gerir as coisas de outra maneira quando cheguei ao IRC com a Peugeot UK. Mas mesmo em 2010, depois de ter sido campeão do IRC, ainda tinha dificuldades em manter o carro na estrada. Quando ganhámos um título nunca o queremos perder no ano seguinte. E até ter contrato com a MINI em 2011, a época de 2010 não me saberia a nada se terminasse em segundo ou terceiro no IRC. Queria manter o título a todo o custo mas a Skoda apareceu muito forte com o Fabia e realmente tinha que lutar muito com o Peugeot 207 S2000 nos ralis de terra para conseguir bater os resultados dos Skoda.