Crónica: O erro da Ducati em optar por Andrea Dovizioso

Por a 17 Agosto 2016 17:19

Foi a 17 de maio que a Ducati anunciou ao mundo que iria manter Andrea Dovizioso, com um novo contrato que o liga à equipa até 2018, e ‘despachar’ o compatriota Andrea Iannone para que este desse lugar à chegada do atual campeão do mundo Jorge Lorenzo.

A decisão, de certa forma, era um prémio à dedicação do italiano – um piloto consistente, que sabe trabalhar para a equipa, e que não hesita em defender os seus interesses em detrimento dos seus objetivos pessoais. ‘Dovi’ foi também, em conjunto com o importantíssimo e incansável Michele Pirro,  um dos maiores responsáveis por este ressurgimento da equipa italiana, chegando à Ducati no momento em que Valentino Rossi optou pelo regresso à Yamaha, descontente com o período de ‘seca’ que viveu em Borgo Panigale, e sobretudo com a falta de resultados e de direção no desenvolvimento da Desmosedeci.

Ao #46 faltava-lhe ainda outra coisa: tempo, pois a idade avançava – são já 37 anos, o que é uma prova irrefutável da sua longevidade, mas é preciso não esquecer que enquanto hoje louvamos a sua competitividade, quando Rossi saiu da Ducati, no final de 2012, e com 33 anos, poucos poderiam antecipar que a lenda transalpina seria capaz de se manter tanto tempo no ativo, e com excelentes resultados, como provam as vitórias obtidas nos últimos dois anos e o ataque ao título realizado em 2015.

Dovizioso, pelo contrário, ainda vai com 30, e quando chegou à equipa trazia um currículo de respeito: aos 26 anos, contava já com passagens pela Honda e Yamaha, uma vitória no bolso, e 22 pódios na categoria máxima – conhecimento valiosíssimo para uma Ducati que queria regressar aos seus tempos áureos.

Andrea Dovizioso

Andrea Dovizioso na sua passagem pela equipa oficial da Honda

Também convém recordar que a compra da Ducati pela Audi, a meio de 2012, veio facilitar o processo de transformação da equipa vermelha (este surto ao nível da aerodinâmica, com as ‘asinhas’ e ‘aletas’ das motos – a Ducati foi o primeiro fabricante a estreá-las no MotoGP – tem o dedo de Ingolstadt), algo que Valentino Rossi há muito pedia (queria uma moto que pudesse ser conduzida por todos, e não apenas por um piloto, como aconteceu no período em que Casey Stoner esteve à frente da equipa).

Mas a idade de ‘Il Dottore’, mais uma vez, não podia esperar para que esse trabalho surtisse efeito, cabendo a Dovizioso e a Pirro testar, experimentar e ‘penar’ até se atingirem os resultados pretendidos. Já em 2015, com seis pódios (quatro para Dovizioso e dois para Ianonne) nas primeiras seis corridas, se verificaram os primeiros frutos deste processo. E a vitória do #29 no último Grande Prémio da Áustria validam-no em definitivo, até porque a Ducati, como disse Casey Stoner, já o poderia ter conseguido mais cedo.

TUDO OU NADA

A entrada de Jorge Lorenzo para a equipa italiana a partir do próximo ano traz vantagens, mas também problemas. O espanhol vem como número 1 claro, algo que já não era na Yamaha, apesar de ser o campeão do mundo. E isso significa que o seu parceiro teria de ser alguém que aceitasse esse estatuto sem libertar grandes ‘ondas’. O caso de Dovizioso, um piloto que, alguns dirão, é pouco ambicioso, enquanto Ianonne é muito mais intempestivo, e que por esse motivo certamente não se iria conformar com essa posição declarada à partida.

Enquanto a Ducati tem neste momento uma situação de absoluta liberdade (menos depois dos episódios com Ianonne), em que os seus dois pilotos podem lutar entre si (como aliás se viu este ano, e com os efeitos conhecidos, após ‘Dovi’ ter sido abalroado pelo ‘Maníaco’ em Le Mans e na Argentina), e também por isso consegue repartir os falhanços quando as coisas não correm bem, a entrada de Lorenzo como número 1 significará que, se a marca de Bolonha se tornar novamente campeã do mundo, a sua contratação foi uma aposta ganha. Mas, por outro lado, que qualquer resultado abaixo desse objetivo será visto como um falhanço redondo.

Depois, ter um companheiro que, em teoria, é claramente inferior no que à rapidez diz respeito pode ser um  estímulo menor para alguém que está habituado a lidar com o ‘peso’ de Valentino Rossi, enfraquecendo, ao mesmo tempo, a equipa no seu todo: com Ianonne até poderiam existir mais acidentes, e casos, mas a melhoria da Ducati – ou seja, a sua  capacidade de se tornar numa moto ao nível da Honda e Yamaha, atrair outros pilotos e vender comercialmente  – seria mais facilmente comprovada.  E como o trabalho de recuperação ainda não está feito (não se podem lançar foguetes quando se consegue uma vitória (!) em seis anos),  talvez fosse preferível à Ducati apostar antes na irreverência de Ianonne do que na consistência de Dovizioso, pois o que a marca precisa agora é de vencer corridas e não  de ter uma preocupação particular com a sua posição no campeonato – isso vem depois, com a cadência de triunfos.

Nesse registo, também estamos conversados, pois como vimos anteriormente, desde que ‘Dovi’ chegou ao MotoGP, em 2008, apenas por uma vez subiu ao lugar mais alto do pódio. Ianonne, com um currículo aparentemente menor, e no MotoGP desde 2013, ano em que entrou diretamente para a Pramac Ducati, já igualou esse feito, conseguindo ainda terminar o campeonato à frente de Dovi em 2015 (o primeiro ano em que esteve com a equipa de fábrica), liderando neste momento o confronto com o seu colega de equipa em 2016.

Valentino Rossi

Valentino Rossi viveu dois anos difíceis na Ducati

É certo que este conforto também dá jeito a Lorenzo. E que se calhar foi um dos motivos para sair da Yamaha, quando anteriormente tinha dito que gostaria que a sua carreira no MotoGP estivesse inteiramente ligada à insígnia japonesa. Não é ‘normal’ que o último campeão do mundo pela casa nipónica (ou melhor, o homem que deu à Yamaha os últimos três títulos no MotoGP) tenha que dividir protagonismo com Valentino Rossi, que apesar da idade e dos resultados menos abonatórios dos últimos anos, continua a ser indiscutivelmente o piloto mais popular do paddock e aquele que vende mais motos – importantíssimo já que as duas coisas (a vertente desportiva e comercial) não podem ser separadas. Mas Rossi é um fenómeno incomparável. Um ícone moderno ao nível de Ayrton Senna ou Lewis Hamilton, sendo que nas redes sociais está até à frente destes.

Contratar Lorenzo foi uma excelente forma da Ducati reivindicar que quer lutar pelos triunfos de forma consistente e reconquistar um título mundial. Mas é difícil dizer o mesmo na decisão de manter Dovizioso em detrimento de Ianonne. A validade desta aposta será confirmada com o tempo, até porque a história da consistência tem muito que se lhe diga: no confronto direto entre ambos, a estatística dos pódios revela uma vantagem mínima para ‘Dovi’ em 2015 (5-3) e uma igualdade (3-3) nas provas que já decorreram esta temporada, embora seja verdade que pelo menos dois pódios ficaram pelo caminho com a atitude do segundo Andrea em pista…

André Bettencourt Rodrigues

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3 Comentários
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joca_rabeca
joca_rabeca
7 anos atrás

De facto, acho que o Rossi é já uma ‘lenda’ comparável a Senna e outros grandes do desporto motorizado. Meter Hamilton na mesma frase é que já não me parece…

g-rod
g-rod
Reply to  joca_rabeca
7 anos atrás

pensei exactamente no mesmo: referir o Hamilton no mesmo contexto do Senna, quando há Fangio, Schumacher, prost, Piquet, Mansel, Nicky Lauda, Gilles Villeneuve, é de loucos!

top f1
top f1
7 anos atrás

sem duvidas o hamilton apesar de ter 3 titulos nao vale para .so prque e preto so isso o resto sao tretas racistas de quem comenta .tretas

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