McLaren F1: Da confusão nasce, finalmente, a luz?

Por a 6 Julho 2018 15:00

Brutal! Não há outra palavra que possa definir a pressão que aperta como um torniquete as cabeças dos responsáveis da McLaren, equipa que tinha como desígnio chegar-se aos líderes, mas que se afunda cada vez mais no meio do pelotão.

Steven Tee/LAT Images

Chega a ser quase patética a forma como a McLaren luta, qual condenado, pela fuga aos lugares do meio do pelotão, sentindo todos nós que a equipa de Woking parece caminhar em cima de lodo movediço que a vai engolindo semana após semana. Entristece qualquer adepto da Fórmula 1 ver uma equipa campeã do Mundo, que acolheu Ayrton Senna, Alain Prost, Mika Hakkinen, enfim, um conjunto de pilotos de qualidade extra, ter ao seu serviço um dos melhores de sempre e não conseguir sair de uma mediania que ameaça tornar-se mediocridade!

Exige-se a Zak Brown uma mudança radical na gestão da McLaren, porém, existem cada vez mais dúvidas sobre as capacidades do norte americano em levar a bom porto a nau britânica. Chegou á McLaren como um reputado homem do marketing e capaz de fazer de um calhau uma pepita de ouro e, a verdade, é que há anos que a McLaren não tem um patrocinador principal. Enfim, um patrocinador.

Recordamos que a última mexida séria na estrutura da McLaren foi quando Brown chegou e foi mandado janela tudo e mais o Ron Dennis. Melhorou a equipa de Woking? Nem por isso…

Perante a inevitabilidade de uma pressão que aperta como um torniquete a gestão da McLaren, o primeiro a abandonar foi Tim Goss, o responsável pelos projetos de chassis da casa britânica. Agora foi a vez de Eric Bouiller se cansar de dizer mentiras e de manter uma face de otimismo que não rimava com o que se passava na fabrica e, menos ainda, nas provas. Mas há mais saídas, pois Matt Morris, outra figura importante na estrutura da McLaren, também já não figura no organigrama. São estes os cordeiros sacrificiais que vão tentar aplacar a fúria dos deuses das corridas e os mais terrenos acionistas da McLaren, cansados de tanto despautério.

Bem pode Zak Brown, o CEO da McLaren, gritar aos quatro ventos que o importante não são as pessoas, mas as estruturas e que a equipa vai encontrar o caminho certo de forma mais rápida do que todos pensam. Mesmo que tenha numa mão uma pedra com os novos mandamento da McLaren que apelam à coesão e ao esforço comum e na outra uma citara pronta a degolar mais uma série de recursos humanos da gestão da equipa. Uma contradição que não se consegue explicar.

A verdade é que a McLaren tem estado a viver num planeta próprio, desde que Ron Dennis perdeu o controlo absoluto e acabou por ser mandado porta fora. Planeta esse que privilegia o olhar para o umbigo. Ou seja, o que vem de fora não serve, o que se faz em casa é o melhor. E durante todo este tempo, a McLaren construiu-se sobre o mito urbano que tinham o melhor chassis da Fórmula 1 (o ano passado até estava perto disso) e que a culpa era toda da porcaria do motor Honda. O que não justificava a ausência de títulos e de vitórias nos anos anteriores, mas acalmava o espirito dos investidores. Hoje, alguns dos que já abandonaram o barco, acreditam que essa ideia foi um rotundo erro.

Aliás, Zak Brown acabou por admitir que “realmente, não fizemos o melhor chassis o ano passado e menos ainda este ano, porque o carro atual, inexplicavelmente, tem menos carga aerodinâmica que o de 2017” pelo que o americano de 46 anos não tem dúvidas “temos de fazer mudanças nas nossas estruturas.” E fica o recado! “Temos muita gente de valor no nosso seio e por isso acredito que agora vão mostrar o seu talento. As decisões são muito lentas, a comunicação interna não flui com a velocidade necessária.” E, finalmente, deixa de olhar para o seu umbigo. “Precisamos de conhecimento e qualidade vinda de fora para conhecer novas formas de avançar e de pensar, chegando a uma eficácia maior.”

Para o americano líder da McLaren, o problema não está nas pessoas, mas na estrutura. E Zak Brown não foi surpreendido pela decisão de saída de Eric Bouiller, ficando no ar que o francês saiu pelo próprio pé evitando levar um chuto no traseiro. O CEO da McLaren acredita, agora, que o falhanço da equipa se deve à falta de estabilidade, pois nos últimos dez anos entraram e saíram demasiados responsáveis e acionistas, impedindo que a história da McLaren pudesse ser de sucesso nesta última década.

Mais uma contradição de Zak Brown! Então, esta revolução na gestão da equipa e a substituição de Eric Bouiller por um trio de responsáveis, uma continuação dessa instabilidade?! Quem chegou para o lugar do francês foi o brasileiro Gil de Ferran, um ex-piloto que trabalhou para a BAR-Honda entre 2005 e 2007, saindo pela porta dos fundos depois de um mandato onde quase não se deu por ele e após uma rescisão por mutuo acordo por falta de resultados.

Outra novidade é Simon Roberts, que agora é o responsável pelo departamento de desenvolvimento e que estava, até agora, como responsável pela divisão de componentes para clientes da McLaren. O novo direto técnico em pista é Andrea Stella, ate agora engenheiro de pista de Fernando Alonso. Estas foram as mudanças imediatas com a saída de Eric Bouiller, mas o CEO da McLaren já avisou que a terramoto na liderança da equipa vai continuar, com mudanças interna e externamente. Tudo passos rumo a um futuro risonho, diz Zak Brown.

A eficácia desta liderança multicéfala face a um “one man show” carismático e com poder absoluto, é uma questão premente. Na Mercedes a dupla Toto Wolff/Niki Lauda funciona, muito pelo carisma do ex-campeão do Mundo.

Indiscutível é o facto da McLaren tem estado órfã de uma liderança forte e carismática, perdida desde a saída de cena de Ron Dennis e depois de Martin Whitmarsh. A mão que dava o murro na mesa, o catalisador de todas as atenções e o oráculo para todas as respostas, desapareceu em favor de uma situação mais colegial que não é benéfica. O exemplo da Williams é gritante e Paddy Low e Claire Williams não se entendem e a equipa anda pelas ruas da amargura.

Mas há outra teoria para o momento duro e complicado da McLaren. Zak Brown é o CEO da McLaren, mas não é o dono da McLaren, é apenas um empregado de uma empresa que possui vários acionistas e a imagem do gestor de equipa que era o dono da mesma, morreu com o afastamento de Ron Dennis e de Frank Williams. Ora, esta situação cria algumas distorções e há quem diga, à boca pequena, no paddock da Fórmula 1 que é Fernando Alonso quem manda na McLaren.

O espanhol já desmentiu que tenha tido alguma coisa a ver com a saída de Eric Bouiller e menos ainda com a chegada de outro amigo, no caso Gil de Ferran. Porém… Alonso tem atirado elogios à equipa, com detalhes importantes, lembrando que foram de oito ao oitenta tendo muitos mais pontos este ano que em 2017 e que o carro é uma boa evolução. Ou seja, Alonso deixa claro que quer ser mais que apenas piloto, assumindo aquilo que Zak Brown deveria fazer, varrendo para baixo do tapete o facto do MCL33 ser um carro cuja aerodinâmica é medíocre e que não tem velocidade de ponta porque o carro tem de andar, sempre, com o máximo de asa traseira para conseguir curvar de forma minimamente competitiva.

Claramente, a vassoura que atirou porta fora Bouiller, Goss e outros, está a aproximar-se, perigosamente, de Zak Brown e por isso o americano quer ganhar tempo e, se possível, atirar Alonso para a fogueira e deixar que este vá fazendo o papel de piloto satisfeito e cheio de elogios á equipa, para manter os acionistas satisfeitos.

E a verdade é que o americano é um mestre no jogo de cintura. Basta escutar algumas das suas declarações à imprensa. “A situação em que estamos não apareceu de um dia para o outro e não se vai resolver de um dia para o outro!” referiu. Quando questionado sobre o tempo necessário para resolver os problemas “quanto tempo? Dois anos, dez anos, algo entre essas balizas.” E depois de se ver em luta com as equipas do final do pelotão, Brown baixou, claramente, a fasquia dos objetivos da equipa, embora continue a sonhar demasiado alto. “Queremos estar envolvidos na luta pelo quarto lugar dos construtores!” acabando, mais tarde, de cair na real ao referir em outra entrevista que “com o material que temos, não será fácil lutar por essa posição.”

Estas constantes cambalhotas, fugas para diante e caprichos para satisfazer o seu piloto, colocaram Zak Brown numa posição cada vez mais difícil face aos donos da McLaren, Mansour Ojjeh e o Fundo Soberano de Saúde do Bahrain. Eles que nos últimos dez anos têm suportado a equipa à mingua de patrocínios sem que o nível mediático e de ostentação da McLaren tenha diminuído. Mas a paciência bem como os recursos são finitos e já há sinais claros que os principais donos da McLaren estão a ficar fartos e começam a fazer pressão sobre Zak Brown.

A McLaren tinha desenhado e anunciado a participação em conjunto com a Andretti Autosports, no campeonato IndyCar Series de 2019. O projeto está, neste momento, arrumado na prateleira pois Mansour Ojjeh e os restantes acionistas querem que a McLaren se concentre, apenas, na Fórmula 1.

Ou seja, mais um enorme problema para Zak Brown resolver: como deixar o seu piloto fetiche que até ajuda a acalmar a paciência dos acionistas satisfeito com esta ausência da IndyCar em 2019? É que o americano foi esperto e andou a sondar pilotos de topo para a eventualidade de Alonso sair. Só que ninguém mostrou grande interesse – ainda por cima não há possibilidade de agitar chorudos ordenados pois a fonte está à mingua – por isso a prioridade é manter Fernando Alonso na McLaren a todo o custo. Sem a Indycar, restou a Zak Brown juntar no topo da pirâmide de gestão alguns dos amigos do espanhol. Explicada fica a presença de Gil de Ferran (que foi o melhor amigo de Alonso na sua participação na Indy500) e Andrea Stella no topo da gestão…

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