Fórmula 1: outro acordo de ‘bastidores? A diferença para o caso Ferrari

Por a 13 Outubro 2022 08:41

A confirmação da parte da FIA de que a Red Bull violou o Teto Orçamental envolveu ainda mais a questão num manto sombrio, ao invés de clarificar tudo, tendo o comunicado apontado algumas direções que podem fazer implodir completamente os regulamentos que visam limitar os gastos das equipas.

Apesar dos desmentidos da entidade federativa e da equipa de Milton Keynes, já era mais ou menos um dado adquirido de que um concorrente estava em falta relativamente às despesas de 2021, dado que os homens de Paris sentiram a necessidade de adiar a publicação dos certificados de conformidade.

Se sentiu essa necessidade, era porque algo não estava bem, tendo, seguramente, havido negociações nos bastidores entre a FIA e a Red Bull, uma vez que no caso da Aston Martin a questão deveu-se a falhas processuais das quais não resultam qualquer vantagem em pista, dado que a formação de Silverstone não ultrapassou os 145 milhões de dólares impostos pelo Teto Orçamental em 2021.

Na verdade, no seu anúncio da passada segunda-feira a federação não adiantou nada, apenas confirmou que a equipa de licença austríaca tinha cometido uma violação menor do regulamento do Teto Orçamental.

Na prática isto significa que a Red Bull poderá ter gastado entre 1 dólar e 7,25 milhões, o que é um mundo enorme, sobretudo se levarmos em consideração que tanto a Ferrari como a Mercedes, ainda que partes interessadas, apontam que 1 milhão de dólares pode significar em pista 0,1s por volta.

Se olharmos para os resultados do ano passado podemos facilmente perceber o que pode significar 0,1s, quanto mais os possíveis mais de 0,7s, compreendendo-se facilmente o porquê de as duas grandes rivais da Red Bull estarem profundamente agastadas.

O facto de a FIA se ter mantido calada quanto ao ‘tamanho’ da violação da equipa de Milton Keynes só vem adensar a trama, dando azo para boatos que circulam em roda livre – há quem garanta que o gasto excessivo se deve às contas da cantina da equipa, ou questões relacionadas com baixas de funcionários, havendo também que assegure que foram diversos os milhões a mais nas contas da equipa com impacto na competitividade do monolugar de bandeira austríaca.

Ao não revelar de imediato a causa da violação menor da Red Bull, a FIA contribuiu decisivamente para estes rumores.

Mais preocupante é ainda a alusão que o comunicado da federação faz à possibilidade de “quando considerado apropriado, ser encontrado um acordo, conhecido como Acordo de Aceitação de Violação com o Competidor do caso, na eventualidade de uma Violação Processual ou uma Violação Menor de Gastos Excessivo (…)”.

Não há muito tempo, para ser mais preciso no início de 2020, a FIA e a Ferrari chegaram a um acordo que tinha como objeto a unidade de potência que a equipa italiana tinha usado em 2019.

Este acordo nunca foi tornado público, o que continua a não ser positivo para a Fórmula 1, mas por outro lado, sabia-se que a formação transalpina não tinha sido apanhada a fazer nada de ilegal. A federação estava convencida de que algo de estranho se passava no V6 turbo híbrido de Maranello e a equipa acabou por revelar aos técnicos da FIA o que se passava.

Como resultado, a entidade federativa clarificou o regulamento e a Ferrari passou dois anos com uma unidade de potência que não oferecia qualquer competitividade para os pergaminhos da ‘Scuderia’.

No caso da Red Bull, um acordo, como é sugerido pelo comunicado da FIA, só viria adensar o mistério que envolve a situação, tendo, inclusivamente, a equipa podido beneficiar de qualquer ato ilícito relevante, uma vez que venceu os títulos de pilotos de 2021 e 2022 e está em vias de garantir o cetro de construtores deste ano.

Qualquer situação pouco clara neste momento poderá colocar em risco a existência do Teto Orçamental, uma vez que, se as equipas sentirem que o crime compensa, todas as que tiverem meios para isso, irão ultrapassar o limite até aos 7,25 milhões de dólares, o que agravará a diferença competitiva entre as que têm mais recursos e aquelas que têm situações financeiras mais debilitadas.

O Teto Orçamental foi concebido e acordado por todos os intervenientes com o desiderato de aproximar consistentemente o nível competitivo entre todas as equipas, deixá-lo cair por inação ou por tentativa de empurrar para debaixo do tapete uma situação melindrosa seria um erro neste momento.

Tudo tem de ser bastante claro para todos e, para isso, a FIA deveria enviar o caso para o Painel de Adjudicação do Teto Orçamental, como prevê o regulamento, caso a federação assim o deseje.

Este órgão é constituído por seis a doze juízes independentes eleitos pela Assembleia Geral da FIA e propostos pela Associações Membros da FIA Sport capazes de votar ou por um grupo de de não menos de cinco equipas de F1.

No interesse da clarificação de toda a situação e na salvação do Teto Orçamental, seria conveniente que este órgão tomasse conta do caso e, de preferência que as restantes equipas, por uma vez, se entendessem e pudessem nomear alguns dos juízes do colégio.

Subscribe
Notify of
4 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
Vagueante
Vagueante
1 ano atrás

Não foi o Ross Brawn em 2019 que disse ““Break the budget cap, lose the championship””: Ou não imaginava o que ia acontecer, senão não tinha dito nada, ou então foi infeliz, se estivesse nas regras as penalizações bem definidas e claras, não havia especulação- Uma pena para o desporto…

pintinha
pintinha
1 ano atrás

E vão dois …
Os siameses “RIA” (RB<>FIA) … sim, ria para não chorar.
Se o ano passaod ficaram duvidas … estão aqui as eviedncias.

Scb
Scb
1 ano atrás

Deram se ao trabalho de definir 3 tipos de infracções mas depois não existem penalizações mínimas e máximas para cada um dos casos. Não têm nenhum advogado a trabalhar lá? Tanta trapalhada.
Será que para o ano veremos um Red Bull a andar lá para trás tipo Ferrari 2020?

letsme
1 ano atrás

O problema de um acordo é que não retira a vantagem ganha. Com os limites orçamentais, uma vantagem no desenvolvimento do carro mantém-se nos anos seguintes.

últimas Destaque Homepage
últimas Autosport
destaque-homepage
últimas Automais
destaque-homepage