F1: O que trazem os novos regulamentos?

Por a 14 Dezembro 2021 14:00

A F1 não para e se ainda estamos a recuperar da fantástica época de 2021, que ficou para a história como uma das mais entusiasmantes e imprevisíveis, os engenheiros das equipas continuam o trabalho a pensar na próxima época. Dizer que 2022 traz mudanças é um eufemismo. 2022 é ano de revolução na F1.

Se a hegemonia Mercedes na era híbrida trouxe coisas negativas, como a falta de competitividade e falta de interesse por parte dos fãs, é justo dizer que trouxe coisas boas. Os responsáveis pela competição começaram a pensar em formas de melhorar o espetáculo e se algumas medidas discutidas não saíram da gaveta (e ainda bem) outras começaram a ganhar peso. A introdução de corridas sprint, por exemplo, é uma tentativa de apimentar o fim de semana e dar mais espetáculo. Mas Ross Brawn não se ficou pelas medidas cosméticas e desde a sua chegada ao leme da F1 começou um trabalho exaustivo para entender porque as corridas não eram tão entusiasmantes quanto os fãs queriam. Numa das primeiras sondagens que a Liberty Media (dona da F1) fez, ficou claro que os fãs queriam mais lutas em pista. Brawn pegou nessa premissa e estudou a fundo como se poderia melhorar este aspeto. E quando dizemos, que estudou a fundo, significa que criou de raiz uma equipa de engenheiros com a missão de encontrar soluções, para que pudessem ser implementadas em 2021, ano em que estava planeada a mudança de regulamentos.

Novos regulamentos financeiros antes das mudanças técnicas

O resultado foi um conjunto de novos regulamentos que visam melhorar a F1, torná-la mais justa, mais competitiva e mais interessante. As mudanças podem ser divididas em duas partes: A primeira está ligada à forma como as equipas recebem e gastam dinheiro na F1. As equipas grandes sempre receberam mais que as equipas pequenas aumentando ainda mais o fosso entre pequenos e grandes. Depois de muita negociação, nem sempre fácil, os responsáveis da F1 conseguiram convencer as equipas que era do interesse de todos dividir o dinheiro mais equitativamente e gastar menos. Assim, a primeira parte do problema foi “resolvida” e as equipas assinaram um novo Pacto de Concórdia, onde aceitaram as novas regras, de uma distribuição de dinheiro mais justa e a implementação de um limite orçamental (pode ler mais sobre o tema AQUI, AQUI e AQUI). O limite orçamental já está implementado, o novo acordo comercial assinado e desde então a F1 tem atraído interesse de novos investidores e de novas marcas, que olham para o Grande Circo como uma potencial fonte de receita, além de ser uma plataforma de marketing única no mundo. A segunda parte das mudanças são so novos regulamentos técnicos que estão a chegar.

Porquê mudar?

O grande problema da F1 é que os engenheiros das equipas fazem um trabalho tremendo a encontrar soluções que permitam extrair mais performance dos carros. Uma das formas mais “simples” de o fazer é graças à aerodinâmica. O mundo dos fluxos laminares, dos vórtices e das pressões negativas evolui a um ritmo tremendo e as equipas encontram sempre forma de otimizar o apoio aerodinâmico que os carros produzem. Mas isso cria ar sujo que prejudica as corridas. Os carros são pensados para “cortar” o ar de certa forma e direcionar o ar para certas zonas do carro. Mas quando se persegue um adversário, o ar que se encontra pela frente está “desorganizado” e com isso as asas e derivas não conseguem ser tão eficazes. O resultado é uma inevitável perda de performance (os carros deslizam mais, ficam mais difíceis de controlar, essa instabilidade faz os pneus deslizarem no asfalto, provocando um sobreaquecimento que diminui a longevidade e aderência das borrachas). Brawn e a sua equipa, liderada por Pat Symonds (ambos de saída em 2022) tiverem de encontrar um compromisso que permitisse diminuir o ar sujo provocado pelos carros, num conceito novo mas que se adequasse à nova realidade de gastos controlados. E assim surgiram os novos regulamentos, primeiramente pensados para 2021, mas por força da pandemia, adiados para 2022.

O que nos trazem esses novos regulamentos?

Se tivermos de resumir os novos regulamentos, podemos dizer que se trata de um F1 simplificado. A nova aerodinâmica foi pensada para promover corridas melhores e mais lutas em pista. Isso implicou uma simplificação da aerodinâmica dos carros e daí o aspeto mais “limpo” do protótipo apresentado, com muito menos asas e derivas. A asa dianteira, peça fundamental na aerodinâmica (direciona o ar para as zonas pretendidas, além de criar apoio aerodinâmico) foram simplificadas, as superfícies do carro são agora desprovidas de pequenas asas de controlo de fluxo de ar. Para compensar, os carros terão fundos planos pensados para aproveitar o “efeito solo” que foi introduzido nos anos 70 por Colin Chapman (acelerar o ar por baixo do carro graças ao efeito Venturi, criando uma pressão negativa e com isso colar o carro ao chão) e que produz muito menos ar sujo.

Segundo as simulações feitas, os carros atuais perdem entre 35% a 47% de apoio aerodinâmico, dependendo da distância a que estão do carro da frente. Com os novos carros as perdas passaram de 4% a 18%. Haverá também alguma perda de performance, mas os últimos dados das equipas revelaram que a diferenças não serão assim tão vincadas, pelo que se espera um aumento nos tempos por volta, mas não tanto quanto inicialmente esperado e diz-se que os tempos deverão apenas cair meio segundo por volta.

“Sapatos”novos

Outra das grandes mudanças é o uso de pneus de 18 polegadas. Esta era já uma exigência da Pirelli há muito, pois comercialmente, as rodas de 13 polegadas não são usadas no dia a dia. Assim, com rodas de 18 polegadas, a F1 aproxima-se do que é usado nos carros de estrada. Isso implica mudanças profundas na forma como os sistemas de suspensão funcionam e se antes, muito do amortecimento era feito pelos pneus, agora as suspensões terão mais trabalho. As “tampas” nas rodas estão de volta e teremos uma pequena asa por cima de cada uma das rodas dianteiras para controlo de ar sujo provocado pelos pneus.

Ao nível do tamanho dos carros não veremos grandes mudanças. Segundo os regulamentos, a distância entre os dois eixos não deve ser superior a 3.600 milímetros a partir de 2022. O Mercedes tem sido o carro mais longo, com uma distância entre eixos 120mm superior à distância máxima para esta nova era. A largura do veículo a 2.000 milímetros não se alterou. A altura do veículo aumenta de 950 para 960 milímetros pelo que ao nível do tamanho, à primeira vista, não teremos grandes diferenças. O peso mínimo subiu de 752 para 790 kg, isto para permitir que novos sistemas de segurança sejam implementadas. A segurança voltou a ser um aspeto fundamental no desenho dos novos carros e o chassis precisa agora de absorver 48% e 15% mais energia respetivamente nos impactos à frente e atrás, e os testes serão mais rigorosos ainda para garantir a resistência do chassis.

Unidades motrizes iguais até 2025

As Unidades Motrizes não serão alteradas para 2022, mas serão sim congeladas até 2025, altura em que novas unidades (também mais simplificadas, mas as negociações ainda decorrem) serão introduzidas. Mas para já as unidades atuais continuarão a equipar os novos chassis, com uma única diferença. Terão de usar um combustível com 10% de etanol. Os combustíveis atuais têm 5 a 7.5% de biocombustíveis mas a F1 quer aumentar gradualmente essa percentagem até chegar a um combustível 100% sustentável ( até 2030 a F1 quer um combustível 100% sintético e sustentável).

Podem ler mais AQUI, AQUI, AQUI, AQUI e AQUI

Há ainda muito por descobrir nestes novos regulamentos e só quando os carros forem para a pista, em fevereiro, teremos mais certezas. Este é apenas um resumo do que podemos esperar. A F1 fez 7.500 simulações que levaram 16,5 milhões de “core hours” a resolver, o que significa que se tivessem sido feitas num portátil Intel i9 quad core de alta gama , seriam necessários 471 anos a partir de agora para obter as soluções. Criaram-se cerca de meio petabyte de dados. Isto é o equivalente a um terço das 10 mil milhões de fotos no Facebook, ou 10 milhões de armários de arquivo de quatro gavetas cheios de documentos. Espera-se que estas mudanças melhorem o espetáculo mas, realisticamente, os primeiros dois anos poderão não ser tão competitivos quanto o esperado e a qualidade das corridas pode até diminuir, face à loucura que vimos este ano. Mas todos tem muita esperança que dentro de 3 anos tenhamos uma F1 renhida, com várias equipas a lutar por vitórias e títulos.  

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3 Comentários
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Lagaffe
Lagaffe
2 anos atrás

Seria interessante diminuir a o comprimento dos carros. São muito mais compridos o que não deve ajudar nada nas ultrapassagens.

Scb2
Scb2
Reply to  Lagaffe
2 anos atrás

O aumento do comprimento deve se a duas razões: segurança (aumento de espaço entre a frente do carro e o piloto, nomeadamente os pés) e acomodar Unidades Motrizes, baterias etc.
A única forma de encurtar os carros seria voltar atrás para motores de combustão simples.

SlowInFastOut
SlowInFastOut
Reply to  Scb2
2 anos atrás

Com a chegada dos combustíveis sintéticos esperemos que isso suceda.

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