As diferenças e as semelhanças entre os LMDh e LMH

Por a 22 Janeiro 2023 12:49

Uma das eras mais entusiasmantes do endurance está a começar. Depois da entrada em cena dos LMH (Le Mans Hypercars), que correm na categoria com o mesmo nome no WEC, 2023 traz os LMDh (Le Mans Daytona h), os protótipos que chegam para dar ainda mais cor ao panorama das corridas de resistência. Mas tem havido alguma confusão entre o que são uns e outros. Vamos tentar simplificar as coisas.

É um admirável mundo novo, aquele com o qual nos deparamos neste arranque de época 2023. Os LMDh vão fazer a sua estreia na próxima semana, nas 24h de Daytona, prova muito aguardada pelos fãs e nos Hypercars, vamos ter entradas de peso, como o caso da Ferrari que, em ano de centenário das 24h de Le Mans, vai tentar voltar a vencer à geral a mítica prova francesa. Estamos então perante dois campeonatos (IMSA e WEC) com dois tipos de protótipos (LMH e LMDh) o que pode causar alguma confusão. Iremos então tentar desconstruir e apresentar de forma simplificada as diferenças e semelhanças.

O que é um LMH?

Um LMH é um protótipo pensado pelo ACO (Automobile Club de l’Ouest), entidade responsável por organizar as 24h de Le Mans, o WEC, o ELMS e o ALMS. Com o fim da era dos LMP1, era preciso encontrar um novo protótipo que voltasse a chamar as marcas que abandonaram a competição nos últimos anos da regulamentação LMP1, tendo sobrado apenas a Toyota que enfrentou a fraca concorrência das equipas privadas, com os seus LMP1 a não terem qualquer hipótese contra os LMP1 híbridos. Era preciso uma nova fórmula e a inspiração protótipos GT que fizeram as delícias dos fãs no final do dos anos 90. Ideia era permitir incluir detalhes que permitissem aos fãs associarem os carros às marcas de forma imediata (o que não acontecia com os LMP1). Assim, aumentou-se a liberdade de design, ao mesmo tempo que se limitaram os custos, tentando com que uma época com dois carros custasse à volta de 20 milhões de euros. Diz-se que o programa 919 LMP1 da Porsche, entre 2014-2017, terá custado 200 milhões de dólares. Ao contrário do regulamento restritivo LMP1, a liberdade nos LMH é a palavra de ordem, sendo que o requisito principal é uma relação apoio aerodinâmico / arrasto de 4:1.

Quanto à escolha de unidade motriz, os fabricantes são livres de escolher apenas motores de combustão interna, ou um sistema híbrido. A potência máxima do motor deve ser de 500 kW (670cv). 

O que é um LMDh?

Os LMDh são uma segunda versão do conceito DPi que foi implementado com sucesso no IMSA. Em 2017 a IMSA estreou o novo conceito de protótipos, pensados para serem competitivos e baratos. Para isso, usaram chassis LMP2, já disponíveis dos fornecedores Multimatic, Oreca, Ligier  e Dallara, em que cada construtor fez alterações estéticas aos carros para os tornarem mais semelhantes aos modelos de estrada, além de usarem motores próprios. Eram assim uma espécie de LMP2 com esteroides. Os DPi deram-nos grandes corridas, lutas pelo título decididas nos últimos metros e foram a pedra basilar para os LMDh. Seguindo o mesmo conceito, os mesmos quatro fabricantes de chassis LMP2 trabalharam com as marcas interessadas em desenvolver protótipos mais baratos, que os Hypercars, mas igualmente competitivos. Tal como os Hypercars, a relação apoio aerodinâmico / arrasto de 4:1 e a potência máxima do motor deve ser de 500kW (670cv). Mas neste caso todos os protótipos serão híbridos, com baterias e motores elétricos standard, fornecidos pela Williams Advanced Engineering e pela Bosch, respetivamente. Um chefe de equipa privado estimou recentemente que os custos de funcionamento de um carro Porsche LMDh ao longo de uma temporada seriam da ordem dos 6-8 milhões de euros ($6,5 – $8,65 milhões) para além de um investimento inicial de 2,5 milhões de euros ($2,7 milhões) para o carro.

Quais as diferenças entre os LMH e os LMDh?

Os LMH foram pensados para correr no WEC, mas poderão correr no IMSA. São mais caros, mas existe mais liberdade para criar soluções que podem ser aplicadas pelas marcas nas suas gamas de série. Apenas marcas oficiais com um número específico de unidades vendidas (2500) podem juntar-se à festa, apesar deste critério ser por vezes… flexível. Podem ter tração integral ou tração traseira e a variedade de soluções que pode ser usada tem nos dado máquinas com aspeto muito diferentes. Basta ver as diferenças entre o 9X8 da Peugeot, o GR010 da Toyota e o 007 LMH Hypercar da Glickenhaus.

Os LMDh têm uma regulamentação muito mais restrita, para evitar o aumento de custos. Pensados pelo IMSA para correr no campeonato americano de Endurance, são carros mais baratos, com peças comuns a todos, desenvolvido em parceria com os fornecedores de chassis LMP2. Têm um ar muito mais semelhante entre si, com um ar mais vincado de protótipo convencional. Possuem um sistema híbrido que um motor gerador no eixo dianteiro, apesar de a tração ser entregue apenas ao eixo traseiro.

Quais as semelhanças?

Os carros podem apresentar uma filosofia aerodinâmica diferente, motorizações diferentes, mas no final quer os LMDh, quer os LMH têm de apresentar números semelhantes de apoio aerodinâmico e potência final. E é aqui que reside a chave da nova era. Apesar de pensados de forma diferente, estes carros foram desenhados para correr em conjunto. A ideia base era que uma marca que desenvolvesse um carro pudesse correr em Daytona (no IMSA) e em Le Mans (no WEC) sem necessidade de dois investimentos. Um LMDh pode correr na classe principal do IMSA (GTP) e na classe principal do WEC (Hypercar), tal como um LMH. Dois palcos diferentes, mas que podem receber os mesmos artistas. Para isso, o segredo do sucesso desta nova era estará no BoP que será criado para equilibrar a performance de todos os carros. Será uma dor de cabeça chegar ao compromisso ideal, mas é fulcral para que os LMDh e os LMH possam coexistir e dar boas corridas. Será um processo difícil e que pode necessitar de tempo e talvez por isso se tenha instaurado uma espécie de lei da rolha no WEC para não se falar do BoP. Vimos no IMSA que encontrar um BoP para carros da mesma filosofia demorou tempo. Imagine-se agora com carros feitos de forma tão diferente. Se falharem com esse propósito, será uma tremenda oportunidade desperdiçada. Se acertarem poderemos ter potencialmente 12 marcas diferentes a lutar pela vitória em Le Mans e em Daytona. O sonho de qualquer fã de corridas de endurance.

#963: Porsche Penske Motorsport, Porsche 963, GTP: Dane Cameron, Felipe Nasr, Matt Campbell, #25: BMW M Team RLL, BMW M Hybrid V8, GTP: Jesse Krohn, Augusto Farfus, Connor De Phillippi
Construtor / Fornecedor de Chassis Regulamentação Modelo Motor
Toyota LMH GR010 Hybrid V6, 3.5L Twin Turbo
Scuderia Cameron Glickenhaus LMH SCG 007 V8, 3.5l Twin Turbo
Peugeot LMH 9X8 V6,2.6L, Twin Turbo
Ferrari LMH 499P V6, 3.0L Twin Turbo
Vanwall LMH Vandervell 680 V8, 4.5L Naturalmente Aspirado
Acura / Oreca LMDh Acura ARX-06 V6, 2.4L Twin Turbo
BMW / Dallara LMDh M Hybrid V8 V8, 4.0L Twin Turbo
Cadillac / Dallara LMDh V-LMDh V8, 5.5L Naturalmente Aspirado
Porsche / Multimatic LMDh 963 V8 4.6L, Twin Turbo
Alpine / Oreca LMDh Por Confirmar Por Confirmar
Lamborghini / Ligier LMDh Por Confirmar Por Confirmar
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