Opinião: Vila Real acima de tudo, o desporto motorizado acima de tudo

Por a 18 Julho 2023 12:09

O fim de semana de Vila Real foi, mais uma vez, de festa. Apesar do cancelamento da prova cabeça de cartaz (as 6 horas de Vila Real), o público não faltou à chamada e compareceu em força para ver as estrelas do nacional de velocidade. A festa foi bonita, mas, nos bastidores, a troca de mensagens e as posições extremadas foram tema de conversa.

Diogo Ferrão, responsável pela Race Ready, queixou-se que o Campeonato de Portugal de Velocidade não foi acarinhado (expressão usada pelo promotor) por Vila Real. Apontou falta de promoção das competições nacionais, questionou as condições em que as equipas são recebidas e colocou mesmo em cima da mesa retirar Vila Real do calendário para a próxima época.

Ni Amorim, presidente da FPAK, considerou que o CPV deveria ser a prova cabeça de cartaz, como defende Diogo Ferrão, e que a história de Vila Real foi feita com as competições nacionais.

Do lado da Associação Promotora do Circuito Internacional de Vila Real veio a declaração clara que as competições internacionais são para manter e que o CPV será sempre bem-vindo… se quiser voltar a Vila Real. Caso contrário, a festa prossegue.

Este é um breve e (demasiado) simplificado resumo do que se disse em Vila Real ao longo do fim de semana. E no final, quem tem razão? Todos! É sempre fácil ficar no “meio da ponte”, mais ainda nos dias que correm, em que posições vincadas estão mais na moda. Mas a convergência, o diálogo e uma solução de compromisso parecem ser a melhor solução para este caso.

Diogo Ferrão e algumas equipas queixaram-se do tratamento que receberam em Vila Real. E de facto pudemos ver in loco que algumas coisas falharam. Por exemplo, o live timing na sexta não estava a funcionar a 100% e as equipas tiveram de trabalhar sem os tempos do terceiro setor. Não é uma situação ideal para quem trabalha à décima de segundo. Mas o problema foi resolvido no dia seguinte. Ninguém ganhou vantagem pelo sucedido e a verdade desportiva prevaleceu. E claro, alguns pormenores não terão estado ao nível do que as equipas pretendem. Será que no geral a avaliação é tão negativa que leve as equipas a querer deixar de vir a Vila Real? Para algumas equipas, sim, para outras não. E também foi visível que a promoção assentou essencialmente na vinda da corrida de resistência que acabou por não acontecer.

Também Ni Amorim tem razão quando diz que a história de Vila Real foi feita com as competições nacionais e que algumas das grandes histórias do Circuito tiveram como protagonistas estrelas portuguesas, em equipas portuguesas, em competições portuguesas. 

Mas os responsáveis de Vila Real também têm a sua razão quando dizem que dão o melhor possível face às condições muito específicas de um circuito citadino, com um paddock que é de difícil gestão para todos. E também têm a sua razão quando dizem que o futuro do circuito passa pela vinda de competições internacionais, assim como a aposta na promoção com base numa competição internacional é legítima.

É inquestionável que a história de Vila Real assenta nas competições nacionais, mas será que Vila Real teria a mesma pujança que tem agora se o WTCC e o WTCR não viessem? Nessa altura o CPV atravessava um mau momento, com indefinições e grelhas curtas. A aposta nas competições internacionais fez de Vila Real um palco desejado e todos são unânimes em dizer que foi a página de ouro do circuito. Mas será que isso seria alcançado sem as vitórias de Tiago Monteiro, sem a vinda das estrelas dos turismos, com nomes como Sébastien Loeb, Rob Huff, Gabriele Tarquini, Yvan Muller, José Maria Lopez, entre tantos outros? Foram as competições internacionais que levaram mais gente a ver as corridas e que promoveram o hábito de ver corrida a Vila Real, com garantia de espetáculo garantido.

No entanto, teria a festa sido tão bonita sem as vitórias dos pilotos nacionais, sem os pilotos de Vila Real de bandeira na mão, sem as lutas dos clássicos, sem as estrelas do nosso campeonato? Não. 

Entendemos o extremar de posições, pois cada um defende os seus interesses. Mas relembramos que foi essa postura intransigente que invariavelmente prejudicou o desporto motorizado nacional. Ao contrário do que se possa pensar, com a F1 e o WEC de vento em popa, o momento para o desporto motorizado é difícil, com as marcas a não esbanjar dinheiro, com a eletrificação a chegar e a levar patrocinadores a apostar de preferência em tecnologias mais limpas, que ainda não chegaram às pistas para a grande maioria das competições. O WTCR acabou, o WRC está em grandes dificuldades, o ETCR acabou ainda antes de começar. Há sinais que exigem atenção.  Em vez de cada um defender os seus interesses, era preferível todos defenderem os adeptos do desporto. É tempo de união e não divisão, mais ainda em Portugal.

O CPV deve ser cabeça de cartaz? Era tão bom que pudéssemos responder que sim, pois era um excelente sinal. Mas, para as ambições de Vila Real, o CPV atual tem de evoluir mais (já tem dado bons passos). Há qualidade e pudemos ver por dentro este fim de semana o trabalho das equipas e não temos dúvida que um “Drive to Survive” nacional daria um produto muito interessante. Mas mesmo que o CPV evolua, é legítimo que se aposte em competições internacionais. Deve o CPV deixar de ir a Vila Real? Não nos faz sentido pensar que um dos eventos que mais público reúne não tenha a principal competição nacional. É preciso melhorar algumas condições para as estrelas nacionais? Sim, e acreditamos que é possível isso ser feito. Acreditamos que todos podem melhorar, encontrar soluções e compromissos para que a festa seja ainda mais bonita.

O que nos parece imperativo é que se deixe de lado o extremar de posições, que todos se sentem à mesa e discutam. O que querem que seja melhorado, o que pode de facto ser melhorado e que se encontrem consensos. Que em vez dos interesses deste ou de aquele, se coloque os interesses comuns acima de tudo. Que se coloque Vila Real, a sua história e o seu potencial, acima de tudo. Que se coloque o desporto motorizado acima de tudo. Que uma das festas mais bonitas do nosso desporto possa continuar, com competições nacionais e internacionais.  Pois se assim for, todos ganham. 

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2 Comentários
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rpgd
rpgd
9 meses atrás

Como é que este CPV, com corridas de uma monotonia enorme, pode alguma vez ser cabeça de cartaz de um fim de semana de velocidade? O Ni Amorim acha que existia novamente Vila Real se não fossem as provas internacionais, ele acha mesmo que esta velocidade tem alguma vez comparação com os tempos em que ele corria em Portugal? Temos o campeonato nacional a sobreviver com os clássicos e os Legends, caso contrário não havia velocidade. E como diz o jornalista o CPV melhorou alguma coisa. Melhorou ligeiramente porque Vila Real existe e deu visibilidade à velocidade. Caso contrário só… Ler mais »

Scb
Scb
9 meses atrás

Não arranjem uma corrida internacional para Vila Real que veremos o futuro. Quem paga as despesas? Quem vai ver este campeonato nacional que tem 0 competividade e só se ouviu falar porque existiu Vila Real? Os clássicos são muito mais competitivos, numerosos e esteve tudo bem. Para o CPV está mal.

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