WRC, Rali da Córsega: Falta de sensibilidade… e bom senso?

É no mínimo estranha, por vezes, a falta de bom senso de quem decide. Compreende-se que as regras são para ser seguidas, mas um ‘juiz’ terá sempre de ter em conta o bom senso da sua decisão. Sabe-se que a FIA não facilita um milímetro nestas coisas, mas o caso tem alguns contornos estranhos…

Fabrice Giorgi é um jovem piloto de ralis, paraplégico, que se preparou para participar no Rali da Córsega pela primeira vez, mas que a burocracia e falta de sensibilidade dos Delegados Técnicos da FIA fez com que ficasse apeado sem poder participar no rali.

A FIA decidiu deixar Fabrice Giorgi fora de prova devido à falta de certificação do sistema que lhe permite guiar em provas do WRC. Paraplégico, o jovem de Ajaccio ficou naturalmente revoltado com a decisão, já que corre habitualmente em França, tendo para isso as devidas autorizações da federação nacional, a FFSA. Mas na Córsega, Giorgi enfrentou dois dias de enorme burocracia, com um final triste.

Há 10 anos, um terrível acidente de moto deixou Fabrice Giorgi paraplégico, mas isso não o impediu de levar em frente, como tantos outros, a sua paixão, os ralis. Inscreveu-se para a prova, na categoria RC2, ultrapassou com sucesso todos os obstáculos, exceto um, como já se percebeu.

O motivo da recusa deveu-se ao sistema instalado no seu Skoda Fabia R5, que lhe permite conduzir sem o uso das pernas. Um sistema que até aqui lhe permitiu correr em ralis sob a égide da FFSA, federação francesa: “Temos licença nacional e internacional. Fiz testes específicos para tirar a carta de condução com a minha deficiência, por exemplo, tenho de conseguir sair do meu carro em menos de 30 segundos somente pela força dos braços.”

Mas no Rali da Córsega, deparou-se com todas as dificuldades e ainda mais algumas: “Nas verificações técnicas, os Comissários da FIA encontraram várias razões para não validar a minha inscrição. Primeiro foi a fatura do dispositivo instalado no carro. Entregámos! Depois embirraram com o posicionamento dos extintores, exigiram barras de ferro e não de plástico. Alterámos. Mas depois ouvi: Não vai passar de qualquer forma. E num tom desprezível. É uma pena…”, disse.

Gastou 35.000 euros para este evento, o carro custou-lhe 200.000 euros. Mas do alto da sua lei, os Comissários da FIA venceram. Mais exigentes que a FFSA, provavelmente, mas também mais desumanos…

Um Comissário da federação francesa ainda tentou intervir, enviou fotos para a FIA, mas esta não se desviou das suas regras. No entanto, o concorrente tinha passado todas as provas necessárias para participar no evento. Alguma coisa falhou naquele caminho.

Perante esta decisão, várias equipas tentaram boicotar a prova.

Não sabemos ao certo, provavelmente a FIA, que é rigorosa, suportou-se bem nas suas regras técnicas, e havia ali alguma falha que detetaram, o que a FFSA nunca fez, e Fabrice Giorgi ficou mesmo de fora.

No seu Facebook, o piloto disse o que lhe ia na alma: “Gostaria de agradecer a todas as pessoas que lutaram para que pudéssemos disputar este rali. FFSA, Comissários, amigos, mas pelos vistos um rapaz de cadeira de rodas que faz ralis incomoda alguns (FIA). Obrigado a todos”.