WRC, Hannu Mikkola: tudo começou com o Volvo emprestado do pai para fazer um rali…

Por a 3 Fevereiro 2023 09:29

A aventura começou em 1963, quando pediu “emprestado” o Volvo do pai para fazer um rali. Durou três décadas certinhas e, pelo meio, houve tempo para carimbar uma carreira tão fértil e brilhante como poucas houve no WRC.

Tudo começou de fato, por uma brincadeira: com tenros 19 aninhos, sangue na guelra e muita vontade de dar nas vistas, resolveu pegar no Volvo PV544 (o nosso bem conhecido ”pato marreco”) da família e fez 200 quilómetros pelas estradas que saiam de Helsínquia, a capital da Finlândia, para um sítio onde sabia que iria ter lugar um rali. Acabou-o em 5º lugar – e foi o melhor dos estreantes! O carro não sofreu um arranhão e o pai nem desconfiou…

E foi tudo: para correr era preciso ter dinheiro e o jovem Hannu tinha os bolsos vazios. Então, dois anos depois, um amigo resolveu emprestar-lhe o seu próprio carro pessoal, obviamente outro Volvo – e três provas mais tarde, já era piloto oficial da marca! Em 1966, cm um Volvo 122S brilhou nos Mil Lagos, no primeiro ano em que fez a prova principal do seu país – até desistir… com o carro fora da estrada!

No ano seguinte internacionalizou-se no Monte Carlo, com um Lancia Fulvia. Conseguiu chegar ao fim, mas longe dos primeiros. Voltou aos Mil Lagos e subiu pela primeira vez ao pódio, ao terminar a prova em 3º lugar – claro com um 122S. À terceira foi de vez: em 1968, venceu-a mesmo, com um Ford Escort TwinCam. Esse foi o seu ano fetiche: tudo mudou na sua vida. Tinha 26 anos, acabara de se licenciar em Engenharia e sagrou-se Campeão de Ralis da Finlândia pela primeira vez, ao volante de… três carros bem diferentes: o tal Ford Escort e dois Volvo, o seu bem conhecido 122S e o mais moderno 142. Fora da Finlândia, usou o Lancia Fulvia para ser 2º nos Alpes Austríacos e, com um Datsun 2000, foi 9º e 3º da Classe no Monte Carlo.

A consagração definitiva

A partir de então, nada mais foi como dantes. Piloto oficial da Ford em 1969, voltou a ganhar os Mil Lagos e os Alpes Austríacos. Em 1970, ganhou a primeira grande maratona dos ralis dos tempos modernos, que ligou Londres á Cidade do México, com passagem… por Portugal! E, claro, repetiu o triunfo nos Mil Lagos: na verdade, em toda a sua carreira, Mikkola ganhou por sete vezes a “sua” prova, entre 1968 e 1983. Aliás, a sua primeira vitória no WRC aconteceu exatamente nos Mil Lagos, em 1974! Mas dois antes, em 1972, tinha ganho a sua primeira prova fora da Europa, o Safari no Quénia, que então ainda não pontuava para o WRC…

Hannu Mikkola só voltou a ser piloto da Ford em 1978 mas até aí, foi-se dividindo, com idêntico sucesso, pela Peugeot e pela Toyota ganhando tanto na Europa, como em África (Marrocos e Safari). Em 1978 e 1979 ficaram célebres os seus duelos com Markku Alen, incluindo em Portugal. Terceiro na Taça do Mundo de 1978, foi vice-campeão nos dois anos seguintes, em 1980 pilotando quer para a Ford, como também para a Mercedes, a Toyota… e a Porsche!

Em 1981, começou, na Audi, a parte mais gloriosa da sua carreira. Chegou enfim ao título de Campeão do Mundo, em 1983 mas, com o final dos Grupos B, a sua carreira entrou em declínio. Ainda ganhou com o “tanque” Audi 200 Quattro (claro, no Quénia…) mas, quando decidiu ir para a Mazda, nunca se entendeu com as “fraquezas” do pequeno 323 4WD. Até 1991, ano em que semi-pendurou o fato e o capacete, desistiu mais do que terminou. A sua melhor classificação com o carro japonês foi o 4º lugar no “Vinho do Porto”, logo em 1988 e, no ano seguinte, no Monte Carlo. A sua última participação no WRC foi em 1993, depois de um ano sabático. E, como não podia deixar de ser, foi nos Mil Lagos: com um Toyota Celica Turbo 4WD, foi 7º. Depois disso, tem-se divertido, com os “velhos” Ford Escort MKI/MKII e RS 1800, em provas de longa distância ou para velhas glórias. Como ele.

Hannu Mikkola: O senhor dos Anéis

Hannu Mikkola e Audi: dois valores acrescentados por uma ligação tão forte, que permitiu ao finlandês conquistar o seu primeiro e único título de Campeão do Mundo do WRC, em 1983.

Essa ligação teve início no Rali Urbibel/Algarve, de 1980. Três anos antes, a ideia de um carro de ralis tinha começado a fervilhar no departamento desportivo da Audi e, no ano seguinte, decidiram participar em algumas provas do WRC com um Audi 80 de tração dianteira. Todavia, nessa altura já se pensava em introduzir um conceito mais ousado que novo: a tração permanente às quatro rodas. A ideia era boa, parecia eficaz, mas havia que está-la em condições reais até porque, com o sistema montado, um carro de ralis ficaria mais pesado que os seus rivais. Nada de mais: nos troços do sul de Portugal, com Hannu Mikkola ao volante, ficou mais que provada a sua validade. E, quando Franz Wittmann ganhou a primeira prova em que o carro oficialmente participou, o Janner Rally, na Áustria, dois meses depois, com mais de 20 minutos sobre o segundo classificado, estava ganha a aposta.

Piloto oficial da Audi logo em 1981, Hannu Mikkola fez com o Quattro nas suas diversas versões, um total de 45 ralis do WRC. Venceu nove e, deois do final dos Grupo B, permaneceu mais um ano na Audi. Com o 200 Quattro, de Grupo A fez mais três provas, conquistando a sua última vitória no WRC, ao vencer o demolidor Rali Safari, no Quénia.

Melhor que tudo isso, foi ele a dar à Audi o primeiro título de Pilotos no WRC em 1983 (no ano anterior, tinha ganho entre as Marcas cm 12 pontos de vantagem sobre a Opel, que vencera entre os Pilotos, com Walter Röhrl). O título foi garantido na última classificativa da derradeira prova do ano, o RAC. Mikkola estava na frente da tabela de pontos e apenas Walter Röhrl poderia suplantá-lo. Porém, tudo ficou decidido quando o alemão não compareceu à partida e bastou-lhe terminar em 2º lugar, atrás de outro Audi, pilotado por Stig Blomqvist. Curiosamente, nas Marcas a Lancia bateu a Audi… por dois pontos!

Trinta anos mais tarde, no Festival de Goodwood a Audi reservou-lhe uma surpresa: recuperou o carro original com que ele tinha sido Campeão e convidou o seu navegador de sempre Arne Hertz, a sair da reforma para o acompanhar numa evocação tão simbólica quanto emotiva.

“Hat trick” nacional

O nome de Hannu Mikkola está estreitamente ligado ao Rallye de Portugal/Vinho do Porto, prova do WRC que venceu por três vezes. Além disso, foi em solo nacional, mais precisamente no Rali Urbibel/Algarve que teve lugar de 30 de Outubro a 2 de Novembro de 1980, que estreou oficialmente o Audi Quattro, o primeiro carro de ralis a ter tração às quatro rodas em permanência. Na ocasião, fez de carro “0” mas, rezam as crónicas, se fosse a valer, teria ganho a prova com uma vantagem de… meia hora! E duas das vezes em que ganhou o nosso principal rali estava exatamente ao volante de um Audi Quattro, nas versões A1 e A2.

13º Rallye de Portugal/Vinho do Porto (6-11/03/1979)

Depois de várias tentativas, a mais memorável delas quando lutou arduamente com Markku Alen, até à última curva do último troço, no ano anterior, finalmente Hannu Mikkola chegou à vitória em Portugal. Neste ano, a prova acabou por ser o oposto do ano anterior, um calmo passeio pelas florestais, na companhia do seu colega de equipa Björn Waldegaard, que o acompanhou no pódio de chegada, no 2º lugar.

17º Rallye de Portugal/Vinho do Porto (2-5/03/1983)

O primeiro grande triunfo dos Grupo B em Portugal foi com Hannu Mikkola. Depois do domínio inicial dos Lancia, durante a fase de asfalto, as classificativas minhotas deram o mote para o Audi Quattro impor toda a sua força, com Mikkola a ganhar tempo a Walter Röhrl. Arganil, com os seus 56,5 km, quase fez das suas, quando o Audi de Mikkola teve um furo, atrasando-se – mas não o suficiente para ser passado pelo alemão que, também ele, estava a lutar com um prematuro desgaste dos pneus do seu carro.

18º Rallye de Portugal/Vinho do Porto (6-11/03/1984)

Mais uma vez, Hannu Mikkola teve que lutar com todas as suas forças para bater o seu velho rival Markku Alen, que estava com um Lancia. À chegada à última Etapa apenas 43 segundos os separavam. Na primeira passagem pela célebre classificativa de Arganil, Alen ganhou 33 segundos mas, a partir daí, Mikkola aproveitou a maior capacidade de tração para levar a melhor sobre o finlandês mais latino que correu em Portugal.

HANNU MIKKOLA (FIN)

Nome: HANNU Olavi MIKKOLA

Nascimento: Joensuu, 27 de Maio de 1942 (71 anos)

Estreia na competição: 1963 (Volvo PV544)

WRC: 1973-1993

Ralis WRC: 123

1º Rali WRC: Monte Carlo 1973

Último Rali WRC: Mil Lagos 1993

Vitórias: 18

1º Vitória WRC: Mil Lagos 1974

Última Vitória WRC: Safari 1987

2º lugares: 17

3º lugares: 9

Pódios: 44

Pontos: 655

Classificativas ganhas: 654

Títulos: 1 (1983)

Marcas: Audi (1981/1982/1983/1984/1985/1986/1987); FIAT (1975); Ford (1973/1974/1978/1979/1980); Mazda (1988/1989/1990/1991); Mercedes-Benz (1979/1980); Opel (1976/1988); Peugeot (1974/1975/1976/1977); Porsche (1980); Subaru (1993); Toyota (1975/1976/1977/1980/1993); Volvo (1973)

1968 – Campeão de Ralis da Finlândia

1974 – Campeão de Ralis da Finlândia

PALMARÉS WRC

1973 – Ford Escort RS 1600: 4 ralis; Volvo 142: 1 rali.

1974 – Ford Escort RS 1600: 2 ralis (1 vitória); Peugeot 504: 1 rali

1975 – FIAT 124 Abarth Rallye: 3 ralis; Peugeot 504: 2 ralis; Toyota Celica: 1 ralis; Toyota Corolla: 1 rali (1 vitória)

1976 – Opel Kadett GT/E: 1 rali; Toyota Corolla: 1 rali; Peugeot 504 V6 Coupé: 2 ralis; Toyota Corolla TE 27: 1 rali; Toyota Celica 2000 GT: 2 ralis; Peugeot 104 ZS: 1 rali

1977 – Toyota Corolla: 1 rali; Toyota Celica 2000 GT: 4 ralis; Peugeot 504: 1 rali

1978 – Ford Escort RS 1800: 4 ralis (1 vitória). 3º WRC, 30 pontos

1979 – Ford Escort RS 1800: 7 ralis (3 vitórias); Mercedes-Benz 450 SLC: 2 ralis (1 vitória). 2º WRC, 111 pontos

1980 – Porsche 911 SC: 1 rali; Ford Escort RS/RS 1800: 5 ralis; Mercedes-Benz 450 SLC: 1 rali; Toyota Celica 2000 GT: 1 rali; Mercedes-Benz 500 SLC: 3 ralis. 2º WRC, 64 pontos

1981 – Audi Quattro: 8 ralis (2 vitórias). 3º WRC, 62 pontos

1982 – Audi Quattro: 11 ralis (2 vitórias). 3º WRC, 70 pontos

1983 – Audi Quattro A1: 4 ralis (2 vitórias); Audi Quattro A2: 8 ralis (2 vitórias). Campeão, 135 pontos

1984 – Audi Quattro A2: 8 ralis (1 vitória); Audi Quattro Sport: 1 rali. 2º WRC, 116 pontos

1985 – Audi Quattro Sport: 2 ralis; Audi Quattro Sport E2: 2 ralis. 22º WRC, 10 pontos

1986 – Audi Quattro Sport E2: 1 rali. 18º WRC, 12 pontos

1987 – Audi 200 Quattro: 3 ralis (1 vitória). 8º WRC, 32 pontos

1988 – Mazda 323 4WD: 6 ralis: Opel Kadett GSI: 1 rali. 30º WRC, 10 pontos

1989 – Mazda 323 4WD: 3 ralis. 27º WRC 12 pontos

1990 – Mazda 323 4WD: 3 ralis; Mazda 323 GTX: 1 rali. 34º WRC, 6 pontos

1991 – Mazda 323 GTX: 6 ralis. 25º WRC, 11 pontos

1993 – Subaru Legacy RS: 1 rali; Toyota Celica Turbo 4WD: 1 rali. 38º WRC, 4 pontos

As 18 vitórias

1974 -Mil Lagos (c./John Davenport, Ford Escort RS 1600)

1975 -Rali de Marrocos (c./Jean Todt, Peugeot 504); Mil Lagos (c./Atso Aho, Toyota Corolla)

1978 – RAC (Ford Escort RS 1800) () 1979 – Rali de Portugal/Vinho do Porto (Ford Escort RS 1800); Nova Zelândia (Ford Escort RS 1800); RAC (Ford Escort RS 1800); Costa do Marfim (Mercedes-Benz 450 SLC 5.0) 1981 – Suécia (Audi Quattro); RAC (Audi Quattro) 1982 – Mil Lagos (Audi Quattro); RAC (Audi Quattro) 1983 – Suécia (Audi Quattro A1); Rali de Portugal/Vinho do Porto (Audi Quattro A1); Argentina (Audi Quattro A2); Mil Lagos (Audi Quattro A2) 1984 – Rali de Portugal/Vinho do Porto (Audi Quattro A2) 1987 – Safari (Audi 200 Quattro) () A partir deste ano, em todos os ralis do WRC ganhos foi acompanhado por Arne Hertz

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