Há 20 anos: Como Sébastien Loeb olhava para o futuro…

Por a 5 Outubro 2022 14:58

É muito engraçado revisitar conversas que se tiveram há muito tempo, especialmente quando o interlocutor é… Sébastien Loeb. Na altura, há 20 anos, tinha apenas três participações no Mundial de Ralis ao volante de um World Rally Car, mas Loeb já tinha garantido as atenções de quem seguia a modalidade.

Depois do segundo lugar em Sanremo e do polémico Monte Carlo, o francês estreava-se na neve sueca com o único objectivo de aprender. A poucos dias de completar 28 anos, a nova “sensação” francesa falou com o AutoSport sobre um início de temporada… nada monótono!

Quando tinha 27 anos, Colin McRae sagrou-se Campeão do Mundo de Ralis ao serviço da Subaru (1995), uma proeza que o tornou no mais jovem piloto a conseguir tal feito. Sete anos mais tarde, também com 27 anos, Sébastien Loeb começava a demonstrar que possuia perfil para seguir o caminho do escocês. Olhando para a história, sabemos que sim…vezes oito!

Ao mesmo tempo que vencia a temporada de 2001 do campeonato gaulês – onde o Xsara Kit Car não teve adversários – e a primeira edição do “Mundial” Super 1600, ou Junior como passou a ser na altura, o jovem piloto francês estreou-se ao volante do World Rally Car do “double chevron”, no Rali Sanremo, onde, apesar de terminar no segundo lugar, foi o homem da prova.

O contrato por dois anos (2002 e 2003) com a Citroen Sport foi o passo seguinte… antes de chegar a Monte Carlo e ver um erro da sua equipa custar-lhe a primeira vitória do palmarés. Na Suécia, um rali em que tinha estado presente em 2001, com um Saxo T4, Loeb continuou a sua adaptação ao Xsara WRC e o AutoSport aproveitou a ocasião para conhecer melhor aquele que era tido como o sucessor de Didier Auriol…

De fã a ídolo…

De baixa estatura e olhos azuis, o comportamento de Sébastien Loeb denunciava ainda o pouco à vontade com que se movia por entre aqueles que admirava.

Quando, dez anos antes Carlos Sainz conquistava o seu segundo título mundial, o pequeno Loeb não sonhava que um dia estaria na companhia do espanhol a dar autógrafos e a ser alvo das objectivas dos fotógrafos!

Por isso, estar presente na Conferência de Imprensa da FIA ao lado de Colin McRae, Marcus Gronholm e Tommi Makinen era um momento alto na ainda curta carreira do francês. hoje em dia é a sua vez de ter esse efeito nos jovens que o acompanham…

“Com o tempo, vou ganhando maior à vontade e habituo-me a todas as solicitações de que sou alvo. Entre entrevistas, acções promocionais e compromissos inerentes às provas, a minha cabeça começa a assimilar toda esta ‘rotina’ e o estar a conversar com Colin McRae, Carlos Sainz ou Tommi Makinen não me causa nenhuma sensação especial.

Apenas a atenção da Comunicação Social é que me ‘intimida’ ainda um pouco, já que são várias as entrevistas que dou para jornais, rádios ou televisões, provenientes de vários países. Aliás, mais que o próprio Sainz…”, começou por reconhecer.

Mas não é apenas nas provas do Campeonato do Mundo em que participa que Loeb é “atacado” pela Comunicação Social, até porque é mesmo no seu país que sente mais a “pressão” dos jornalistas, sempre à procura de saber mais sobre o piloto da Citroen: “Tenho que reconhecer que sinto que sou bastante acarinhado pelo público francês, para além da atenção que os ‘media’ me dão.

Desde o segundo lugar que consegui no Rali Sanremo no ano passado, mas sobretudo desde o Rali Monte Carlo desta época, não passa um dia sem que receba uma chamada para responder a algumas perguntas para este ou aquele jornal, para além do correio que recebo de pessoas que seguem os ralis e que muito me apoiam.

Por isso, a pressão dos resultados acaba por ser um pouco ‘inflacionada’ pela vontade dos meus compatriotas em ver um francês a ganhar corridas no ‘Mundial’. Mas não me queixo!”

“Ser bom em qualquer rali”

Depois de uma época em que foi conhecendo vários ralis do calendário do Campeonato do Mundo, o “estatuto” que já detinha obrigava-o a encarar cada prova de uma forma diferente, pois mesmo se a temporada de 2002 servia apenas para preparar a entrada na totalidade do campeonato em 2003, Loeb sentia já que esperam dele resultados positivos: “É verdade que encaro de forma diferente os ralis em asfalto e terra, já que tenho mais experiência em asfalto. Na Suécia, esta foi a primeira vez que guiei ‘a sério’ em neve e percebi que tenho ainda muito a aprender. É um piso muito específico e o facto de apenas pilotos nórdicos terem ganho aqui indica bem a dificuldade de correr neste rali.

Não é nada fácil manter a confiança quando se roda perto dos 200 km/h…”

O francês explicou ainda que não existem semelhanças entre Monte Carlo e Suécia, apesar da neve ser um denominador comum às duas provas: “A principal diferença é que corre-se em asfalto no Principado e em terra na Suécia. Para além disto, a neve é elemento essencial na Suécia, o que já não acontece em Monte Carlo, onde as placas de gelo são bem mais perigosas! Por isso, os próprios pneus são diferentes, sendo que têm mais ‘grip’ (aderência, ndr) os que são utilizados na Suécia, devido ao número e características dos pregos na borracha”.

Já no asfalto, a pressão é maior: “É quase uma regra considerar os pilotos franceses como especialistas em asfalto. Auriol, Bugalski, Delecour, Panizzi, todos eles são referências neste tipo de piso e é, por isso, normal que também eu me sinta mais à vontade em asfalto. No entanto, é necessário ser-se polivalente para se levar a melhor no fim do campeonato, tal o número variado de provas que se correm ao longo do ano.

Neve, gelo, lama, terra, asfalto mais ou menos abrasivo, são desafios constantes e que temos, enquanto pilotos, que encarar com toda a seriedade e empenho. Se me sinto melhor em asfalto, não posso pôr de lado os ralis em terra, e vice-versa, pois corro o risco de nunca ser polivalente. E isso é suficiente para ganhar ralis, mas nunca um campeonato.”

Ou seja, para além dos ralis em asfalto, onde pensava Loeb conseguir um bom resultado? “Provavelmente no Rali Acrópole. (ndr, por acaso não correu muito bem, foi apenas sétimo, mas a primeira vitória já não demoraria muito) É uma prova que já conhecemos do ano passado, eu participei na Super 1600 e o Thomas (Radstrom) correu com o Xsara WRC, que estreou em provas de terra no ‘Mundial’ – depois do segundo lugar no Rali Cidade Oliveira do Hospital, prova que serviu de “laboratório” à Citroen Sport, ndr. – “Sendo um rali muito duro para a mecânica, penso que o nosso carro pode permitir-nos um bom desempenho”.

Recorde-se que Guy Fréquelin, “patrão” da equipa francesa, disse já que será nas provas em terra que Sébastien Loeb deverá surpreender muita gente. Ficamos à espera…/ndr, foi quinto no Safari, 10º na Finlândia, 7º na austrália e desistiu no RAC, mas pelo meio, obiteve a sua primeira vitória, na Alemanha, 2002)

Não é fácil para quem tem apenas três participações como piloto oficial estar a par de tudo o que se passa num campeonato tão competitivo como o “Mundial” de Ralis. Por isso, e apesar de ter participado no Campeonato Super 1600 na temporada passada, Sébastien Loeb tem ainda alguma dificuldade em assimilar todas as regras a seguir, bem como em analisar aquilo que foi feito para promover a competição e o que pode ser ainda melhorado: “A experiência que possuo ainda não me permite estar cem por cento à vontade para dar uma opinião fundamentada sobre, por exemplo, os regulamentos.

Mesmo se corro em ralis há alguns anos, o cenário do ‘Mundial’ nada tem a ver com o campeonato francês, que conheço melhor. São muitos os regulamentos e há sempre algo que muda em pouco tempo. Relativamente à competição em si, passa-se o mesmo.

Sei que tem sido feito um esforço no sentido de promover o ‘Mundial’ de Ralis, mas não posso afirmar que o calendário é o mais correcto ou que este ou aquele rali foi muito bem organizado. Só com o tempo é que poderei estar mais por dentro das coisas e, então, dar a conhecer as minhas ideias”, explicou.

Vitória no “Mundial” S1600 em 2001

Gilles Panizzi e Philippe Bugalski venceram provas do WRC, mas não atingiram o mediatismo de Didier Auriol e François Delecour, pelo que as esperanças francesas viravam-se naquela altura para Sébastien Loeb. O jovem piloto sagrou-se campeão de ralis no seu país mas foi “extra-muros” que deu nas vistas, pois de cada vez que se sentou no Citroen Saxo S1600, deu “aulas” de como se deve conduzir!

Foram mais que muitas as vezes em que, com atrasos superiores a dois minutos para o primeiro lugar, Loeb não só anulava essa desvantagem como tinha ainda o “desplante” de terminar a respectiva prova com mais um minuto e tanto para o segundo classificado…

No final, Sébastien Loeb venceu cinco das seis provas do “Mundial” Super 1600 e, graças a esta supremacia, o piloto Citroen pôde fazer uma prova com o World Rally Car do “double chevron”. E, da primeira vez que se sentou ao volante de um Xsara WRC oficial, no Rali Sanremo, não se fez rogado e obrigou Auriol a olhar constantemente para a traseira do Citroen! Por isso, não se estranhou que Guy Fréquelin o tenha escolhido como piloto oficial para a marca em 2002, depois da Mitsubishi, Subaru e Hyundai terem demonstrado interesse nos seus serviços.

O resto, é história, e bem conhecida, tanto e tão bom é o palmarés. Vinte anos depois ainda ganha provas do WRC, aos 48 anos…

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