O primeiro campeão nacional da história em Portugal chamou-se…


Todos os anos se ‘fabricam’ novos campeões em Portugal. Mas o que propomos é diferente. Alguma vez pensou quem foi o primeiro de todos, há muitos, muitos anos? Nem Fernando Mascarenhas, nem Abreu Valente, nem Nunes dos Santos ou Horácio Macedo. O primeiro campeão nacional chamou-se Fernando Stock e ganhou os títulos de Ralis e de Velocidade em 1956.

O automobilismo nacional iniciou-se nos primeiros anos do século passado, com o Quilómetro de Arranque de Valada do Ribatejo e o Rallye Figueira da Foz–Lisboa. Ambos foram marcos iniciáticos numa história que se prolongou depois e teve o auge durante a década de 30, durante a qual se realizaram inúmeras provas em circuitos e rampas, a maioria hoje inexistentes.

Após a II Grande Guerra, a competição automóvel em Portugal foi evoluindo de forma segura, juntando-se, aos circuitos e rampas, provas de estrada, no formato dos ralis que se praticavam na Europa nessa altura e que eram decididos por regularidades e provas de slalom, ainda sem a existência das atuais classificativas fechadas ao trânsito.

Em 1955, pela primeira vez, existiram campeonatos em Portugal, embora somente de velocidade e já sob a égide de uma federação reunindo diversas entidades com capacidade para organizar provas. Esses campeonatos consagraram D. Fernando de Mascarenhas (Grande Turismo de Série), Joaquim Filipe Nogueira (Sport Anexo C/Sport de Série) e Manuel Nunes dos Santos (Turismo de Série Normais).

Porém a figura do campeão nacional apenas surgiu no ano seguinte, 1956, quer nos Ralis como na Velocidade. Curiosamente, o vencedor de ambas as competições foi o mesmo: Fernando Stock, figura pioneira mas sem o carisma e o palmarés de outros pilotos de então, como os campeões do ano anterior ou outros que o foram nos anos seguintes, entre eles Horácio Carvalho de Macedo.

Fernando Stock, o esquecido

Fernando Stock nasceu em Paris, a 23 de fevereiro de 1914 e iniciou-se nas lides desportivas em 1949, com um Skoda, da qual era representante oficial, na I Volta a Portugal. Nos anos 50, passou a correr em Porsche, nomeadamente com o modelo 356. Participou no Rali de Monte Carlo de 1953, com um destes carros, acompanhado por Pinto Basto. Tinha o nº 1 e partiu de Lisboa.

Entre 1954 e 1956, dividiu-se entre um Denzel-Porsche 1500 e um Mercedes-Benz 300 SL, participando em diversas provas, nomeadamente no Circuito da Boavista, onde foi 2º em 1955, com o 300 SL.

Em 1956, ano em que foi o primeiro Campeão Nacional de Ralis e de Velocidade, venceu o Rallye Ibérico, acompanhado por Manuel Palma e com o Mercedes-Benz 300 SL, matrícula DC-24-08. Com o Denzel-Porsche 1500, participou no Troféu Turístico Clube Shell, em abril.

Décadas de talento

A década de 70 do século passado fica marcada como um dos períodos áureos do automobilismo nacional. Foi nessa altura que nasceram os projetos mais profissionais e que emergiram talentos e provas que conquistaram uma imensa popularidade. O Rally TAP era já um evento que começava a conquistar uma projeção além fronteiras, graças ao empreendedorismo de Alfredo César Torres.

Os ralis nacionais foram marcados por nomes como Américo Nunes (com a famosa bomba verde – o Porsche 911), Giovanni Salvi, Carpinteiro Albino e Francisco Romãozinho e, mais tarde com uma nova gesta – Carlos Torres, Mêqêpê ou José Pedro Borges e Santinho Mendes.

Na velocidade, o Estoril, Vila do Conde e Vila Real eram locais de peregrinação obrigatória para milhares de entusiastas e nomes como Ernesto Neves, Edgar Fortes, Rufino Fontes, Roberto Gianonne ou Bernardo Sá Nogueira eram habituais presenças nos degraus mais altos dos pódios.

Na década de 80 despontaram novos valores, com destaque para Joaquim Moutinho, Joaquim Santos e Carlos Bica nos ralis, ou uma galeria de notáveis pilotos de velocidade como Pêqêpê, Mário Silva, Manuel Fernandes, António Rodrigues, os irmãos Mello Breyner, Ni Amorim – entre tantos outros. Foi também nessa década que José Megre e o Clube Aventura lançaram as raízes do TT nacional, que daria azo á criação do Campeonato Nacional de TT, ‘oficializado’ em 1994 e que consagrou João Vassalo como o primeiro campeão da especialidade.

Mas, a galeria de talentos e campeões nacionais não se esgota nos campeonatos de ralis, velocidade e TT. A competição motorizada com chancela FPAK consagra há décadas campeões regionais, de karting, de montanha e de off-road. Todos eles movidos pela mesma paixão que levava Fernando Stock e uma geração de pioneiros das corridas a meter o capacete e as luvas para desafiar os seus próprios limites e das máquinas que tripulavam.