Rallycross com mais de cinco décadas

Foi no dia 4 de fevereiro de 1967 que o circuito de Lydden Hill, uma pista que pertencia ao Grupo McLaren, nasceu o Rallycross. Robert Reed (um produtor de TV, do programa desportivo ‘World Sport’ da ITV na década de 60, e o organizador de corridas, Bud Smith (750 Motor Club) levaram a cabo um evento disputado num traçado misto de asfalto e terra, numa corrida ganha por Vic Elford num Porsche 911. Rapidamente a disciplina se tornou uma instituição como desporto de sábado à tarde no Reino Unido, sendo transmitido tanto na ITV como na BBC.

A popularidade da modalidade cresceu a olhos vistos, com o primeiro evento no continente europeu a ter lugar na Holanda, em 1969, seguido pela Suécia, dois anos depois. Os nórdicos tornar-se-iam nos grandes especialistas, tanto na condução como na própria preparação dos carros. Um dos mais populares foi Martin Schanche, também conhecido por Mr.Rallycross, que ficou famoso pela táctica do “maximum attack” levada ao extremo e pelos duelos fora dos limites travados com Will Gollop, Matti Alamaki ou Pat Doran, todos ao volante dos Grupo B que tinham sido banidos e evoluídos pós-Mundial de Ralis, tendo este sido um pormenor que ajudou em muito o Rallycross, pois com os adeptos dos ralis ‘órfãos’ dos carros de Grupo B, estes foram ‘matando’ a curiosidade de ver esses mesmos carros a lutarem entre si no mesmo circuito de terra e asfalto. E nessa altura o Rallycross ganhou muitos desses adeptos.

No início de 1993, os Grupos B desapareceram da cena do Rallycross e foram subsituídos por carros de quatro rodas motrizes ‘especiais’, no que se tornaria numa nova era do Rallycross, que perduraria no tempo.

Entretanto Jaime Moura, fundador do Clube Automóvel de Lousada, foi um dos grandes responsáveis pela vinda para o nosso país do Campeonato Europeu em 1991 e os adeptos portugueses responderam da melhor forma, com a pista da Costilha, ano após ano a receber a visita de muitos milhares de espectadores, com assistência ao nível das super-especiais do Mundial de Ralis que também ali se realizavam.

Pouco depois veio o tempo de Kenneth Hansen, o Mr.Perfect, de Jean-Luc Pailler ou Per Eklund, com a evolução do regulamento técnico para uma mistura entre o Grupo A e o WRC. O Campeonato nunca deixou de ter bancadas cheias em cada prova, mas faltava-lhe um promotor para maior visibilidade global: um promotor com capacidade dinamizadora. E isso aconteceu apenas em 2013, com a nomeação da IMG por parte da FIA. Os resultados do trabalho realizado estão à vista, com um rápido crescimento mediático em todo o globo a uma velocidade jamais pensada, sendo que a base do sucesso continua a ser a mesma: corridas rápidas, intensas, com potentes carros a proporcionarem uma condução espetacular e imprevisibilidade no vencedor final.

Mr.Ralicross vs Mr.Hollywood

São ambos noruegueses, e em cada uma das suas ‘eras’, dominaram o Ralicross. Falamos de Martin Schanche e Petter Solberg, dois grandes pilotos que por acaso partilham a nacionalidade, e também a paixão pela modalidade. O primeiro, marcou uma geração inteira e foi um dos principais ‘culpados’ que o Ralicross se tenha tornado na modalidade que é hoje e Petter solberg, depois duma grande carreira nos ralis, coroada com um título Mundial, tem sido o mais forte nas pistas do ‘novo’ Mundial, assegurando os títulos nos dois anos em que a competição ‘saltou’ o Oceano Atlântico. O Ralicross foi quase sempre um feudo nórdico, e era entre suecos e noruegueses quase sempre que se disputavam os títulos, com raríssimas exceções.

Recordando o percurso de dois dos nomes mais fortes da competição, Martin Schanche, ou ‘Mister Rallycross’ se preferir, iniciou-se na modalidade relativamente tarde já com 27 anos, corria o longínquo ano de 1972 mas rapidamente consolidou uma carreira repleta de êxitos. Depois de se iniciar nos campeonatos noruegueses, Schanche depressa ascendeu ao Europeu de Ralicross onde conseguiu alcançar seis títulos (1978, 1979, 1981, 1984, 1991 e 1995). Mas engane-se quem pensar que foram os títulos a demarcar tão ilustre estrela de outras que brilhavam no mesmo firmamento. Nomes como os históricos Franz Wurz (Audi Quattro), Seppo Niittymäki (Porsche 911 Biturbo 4×4), Olle Arnesson (Audi Quattro), Matti Alamäki (Porsche 911, Lancia Delta S4 e Peugeot 205 T16) e Will Gollop (MG Metro 6R4 Biturbo) ou os mais recentes Kenneth Hansen (Citroen ZX), Jean-Luc Pailler (Citroen ZX e Xantia), Per Eklund (Subaru Impreza e Saab 9.3) ou Ludvig Hunsbedt (Ford Escort Cosworth) foram os seus mais fortes adversários mas Schanche era de outra fibra… O norueguês, sempre fiel à Ford (desde o Ford Escort RS1800 ao enorme Ford Escort RS2000 com asas de F1) era controverso e fazia sempre por ser notado: ora era idolatrado pela sua condução espetacularmente agressiva ou odiado pelas suas manobras pouco ortodoxas quando colocava fora de pista os seus adversários… só porque lhe apetecia! O seu epíteto de Mr. Rallycross justifica-se ainda hoje pois continua a deter o recorde de vitórias no Europeu de Ralicross, agora Mundial!

Já Petter Solberg começou a sua carreira desportiva em 1992, quando o seu ídolo Schanche estava no auge, estreando-se no Ralicross um dia depois de ter tirado a carta de condução! Depois disso a ascensão foi meteórica e de campeão norueguês de ralis em 1998 passou desde logo a encabeçar as fileiras das principais equipas do WRC: estreou-se com a Ford no Rali Safari com um positivo quinto lugar mas pouco tempo depois foi contratado pela Subaru onde conseguiu o seu único título mundial em 2003. A sua alcunha de Mr. Hollywood foi sendo conquistada ao longo dos anos pela sua irreverência e simpatia com os fãs e pela relação amorosa com as câmaras, não sendo raro vê-lo no fim das especiais aos pulos no tejadilho dos seus carros na celebração de uma vitória!

Saído do WRC, Solberg regressou às origens e nestes dois anos tem conseguido sobrepor-se aos seus adversários, com maior ou menor facilidade, mas esta temporada foi épica, já que para ajudar à festa também lá esteve Sébastien Loeb. Venham mais 50 anos…

PALMARÉS

1976 Franz Wurz Lancia Stratos HF 2.4

1977 Herbert Grünsteidl Alpine A310 16V

1978 Martin Schanche Ford Escort RS1800

1979 Martin Schanche Ford Escort RS1800

1980 Per-Inge Walfridsson Volvo 343 Turbo

1981 Martin Schanche Ford Escort RS1800 Turbo

1982 Egil Stenshagen Volkswagen Golf GTi 1.6

1983 Egil Stenshagen Volkswagen Golf GTi 1.8

1984 Anders Norstedt Saab 900 Turbo

1985 Anders Norstedt Saab 900 Turbo

1986 Anders Norstedt Saab 900 Turbo

1987 Per-Ove Davidsson Volvo 240 Turbo

1988 Bjørn Skogstad Ford Sierra RS500 Cosworth

1989 Kenneth Hansen Ford Sierra RS500 Cosworth

1990 Kenneth Hansen Ford Sierra RS500 Cosworth

1991 Kenneth Hansen Ford Sierra RS500 Cosworth

1992 Kenneth Hansen Ford Sierra RS500 Cosworth

1993 Ludvig Hunsbedt Ford Escort RS Cosworth

1994 Richard Hutton Ford Escort RS Cosworth

1995 Eivind Opland Mitsubishi Lancer Evolution II

1996 Eivind Opland Mitsubishi Lancer Evolution III

1997 Ludvig Hunsbedt Ford Escort RS2000 T16 4×4

1998 Kenneth Hansen Citroën Xsara VTS T16 4×4

1999 Per Eklund Saab 9-3 T16 4×4

2000 Kenneth Hansen Citroën Xsara WRC

2001 Kenneth Hansen Citroën Xsara WRC

2002 Kenneth Hansen Citroën Xsara WRC

2003 Kenneth Hansen Citroën Xsara T16 4×4

2004 Kenneth Hansen Citroën Xsara T16 4×4

2005 Kenneth Hansen Citroën Xsara T16 4×4

2006 Lars Larsson Škoda Fabia T16 4×4

2007 Lars Larsson Škoda Fabia T16 4×4

2008 Kenneth Hansen Citroën C4 T16 4×4

2009 Sverre Isachsen Ford Focus ST T16 4×4

2010 Sverre Isachsen Ford Focus ST T16 4×4

2011 Sverre Isachsen Ford Focus Mk2 T16 4×4

2012 Timur Timerzyanov Citroën DS3 T16 4×4

2013 Timur Timerzyanov Citroën DS3 T16 4×4

2014 Petter Solberg Citroën DS3 T16 4×4

2015 Petter Solberg Citroën DS3 T16 4×4

2016 Mattias Ekström Audi S1 Quattro

Palmarés da prova portuguesa pontuável para o Europeu/Mundial de Ralicross

Ano Vencedor

1991 Martin Schanche – Ford RS 200 Evolution 2

1992 Martin Schanche – Ford RS 200 Evolution 2

1993 Jean-Luc Pailler – Citroën BX GTI T16 4WD

1994 Kenneth Hansen – Citroën ZX T16 4WD

1995 Bjørn Skogstad – Ford Escort RS Cosworth

1996 Ludvig Hunsbedt – Ford Escort RS 2000 T16 4WD

1997 Michael Jernberg – Ford Escort RS Cosworth

1998 Per Eklund – SAAB 900 T16 4WD

1999 Kenneth Hansen – Citroën Xsara T16 4WD

2000 Per Eklund – SAAB 9-3 T16 4WD

2001 Kenneth Hansen – Citroën Xsara WRC

2002 Kenneth Hansen – Citroën Xsara WRC

2003 Kenneth Hansen – Citroën Xsara WRC

2004 Morten Bermingrud – Citroën Xsara WRC

2005 Kenneth Hansen – Citroën Xsara WRC

2006 Kenneth Hansen – Citroën C4 WRC

2007 Lars Larsson – Škoda Fabia WRC

2008 Ludvig Hunsbedt – Volvo S40 T16 4WD

2009 Andréas Eriksson – Ford Fiesta ST 4WD

2010 Michael Jernberg – Škoda Fabia RS 4WD

2012 Tanner Foust – Ford Fiesta ST 4WD

2013 Liam Doran – Citroen DS3 T16 4WD

2014 Petter Solberg – Citroen DS3 T16 4WD

2015 Johan Kristoffersson – VW Polo RX

2016 Petter Solberg – Citroën DS3 T16 4×4

Desde 2007 que a localização da prova passou de Lousada para Montalegre (excetuando 2008).