O que pensam das pistas, quem mais desfruta delas.. os pilotos

Não é muito difícil escolher quatro dos mais emblemáticos circuitos europeus. Os seus nomes fazem parte do imaginário de todos os que adoram pilotar – Silverstone (Inglaterra), Nurburgring (Alemanha), Spa-Francorchamps (Bélgica) e Monza (Itália). Catedrais verdadeiras do desporto automóvel, nas suas curvas estão também algumas páginas escritas na língua de Camões. Por isso, fomos aos álbuns de recordações e pedimos a quatro pilotos e ex-pilotos portugueses com ampla ‘bagagem’ internacional, para darem a sua opinião. Os eleitos foram Pedro Lamy, Ni Amorim, Pedro Couceiro e Pedro Matos Chaves.

Silverstone

Silverstone é uma pista jovem, quando comparada com as restantes de que aqui falamos. Desenhada num aeródromo usado durante a Segunda Guerra Mundial, as corridas começaram apenas em 1948, usando somente as pistas dos aviões. Entrou na história do automobilismo mundial ao acolher a primeira prova do Campeonato do Mundo, em 1950. Até hoje, sofreu diversas alterações, mas continuando a ser uma pista muito rápida e completa, com curvas emocionantes, como Abbey, Copse e Stowe. Silverstone ainda hoje é a casa do Grande Prémio da Grã-Bretanha de F1.

Spa-Francorchamps

Hoje, o velho circuito original, com mais de 14 quilómetros, construído no início dos anos 20 do século passado, já não existe. Algumas partes desapareceram mesmo, alteradas pelas necessidades locais. Mesmo assim, aquilo que resta e é usado por diversos campeonatos internacionais, destacando-se o de F1, é ainda suficientemente notável e genuíno para a pista belga ser considerada uma das mais carismáticas e completas do mundo. A versão actual tem 6,976 km de perímetro e, entre as suas zonas mais emblemáticas, destacam-se a curva de Eau Rouge, que dá acesso ao medonho Radillion, que só os pilotos mais corajosos fazem de acelerador a fundo.

Nurburgring

Quando se fala em Nurburgring, a maioria das vezes estamos a referir-nos ao Nordschleife, a velha e gloriosa pista, começada a construir em 1924 e que entrou ao serviço a 18 de Junho de 1927. Arredada, por questões de segurança, das grandes provas mundiais desde o acidente de Niki Lauda, no GPda Alemanha de F1 em 1976, hoje é principalmente utilizada em corridas com carros de turismo, sendo a prova mais emblemática as 24 Horas. O seu perímetro é de 20,830m e possui mais de 200 curvas, de todas as formas e feitios. Estreita e ondulante, tem subidas e descidas e está traçada na floresta em redor do castelo de Nurburg. Mantém intacto hoje em dia todo o seu carisma e intensidade.

Monza

Monza nasceu também nos anos 20, mais precisamente em 1922. Desde essa altura, conheceu diversas variantes, sendo sempre no entanto conhecida como uma pista de velocidade por excelência. Teve uma versão oval, que evoluiu nos anos 50 para uma pista semelhante às super-speedway norte-americanas, tendo por modelo a de Indianapolis. É considerada a catedral do automobilismo, em Itália e não só. Muito rápida, por questões de segurança viu serem implantadas diversas chicanes, para reduzirem a velocidade nas rectas, onde são atingidas as velocidades máximas conseguidas pelos F1 e que já ultrapassaram os 370 km/h.

Pedro Chaves

Silverstone

«Para mim, a melhor era a versão antiga, antes de 1991, quando remodelaram a pista e deixaram aquilo cheio de curvas. Nessa altura, 1990, eu estava na Fórmula 3000 britânica, e Silverstone era uma pista fantástica, uma das mais rápidas da Europa, quase tudo com rectas. Nas qualificações, então, andávamos tão depressa que a nossa percepção se reduzia a velocidade pura.»

Nurburgring

«O atual circuito do Nurburgring é uma pista que não me diz nada, moderna e asséptica, sem personalidade. Tem um desenho da pista perfeitamente normal, onde nem uma única curva se destaca. Sinceramente, não me dá prazer correr lá. Com o antigo circuito, esta pista apenas tem em comum o nome.»

Spa-Francorchamps

«Esta, sim, é uma pista à moda antiga. No circuito de Spa, tenho sempre muito prazer em conduzir, deixou-me sempre muito boas lembranças, independentemente dos resultados. Não é por acaso que Spa deixa a sua marca em todos os pilotos que por lá passam. Este circuito tem secções muito rápidas e muito técnicas. Um aspecto que me atrai particularmente em Spa é a sua instabilidade climatérica. É complicado mas interessante ter chuva numa zona da pista e sol na outra. Só não gostei tanto das modificações que fizeram nos últimos anos, especialmente na chicane do autocarro, que descaracterizaram o circuito.

Monza

«De cada vez que visitei Monza, ficou-me na memória cada uma das curvas Lesmo. Desde então, já foram modificadas, como acontece com muitos circuitos hoje em dia, mas foram uma das coisas que mais me marcaram em todas ocasiões que lá estive. A outra parte que também me impressionava era a longa reta da meta.»

Pedro Couceiro

Silverstone

«Para mim, Silverstone é uma das catedrais do desporto automóvel. Foi lá que eu tive o meu melhor resultado na Fórmula 3000, logo na corrida de abertura do campeonato de 1997, quando estava a correr pela Draco. Este é um circuito com condições fantásticas para a prática do desporto, muito exigente, com um conjunto de curvas muito técnicas. As curvas mais rápidas são bastante importantes para se conseguir fazer uma boa volta.»

Nurburgring

«Apesar de ser um nome associado à mística, o circuito pequeno, que foi aquele em que corri, não tem história. Já experimentei as duas versões da pista moderna, mas não gosto muito da última, por causa do gancho no final da reta da meta. Tenho boas recordações do Nurburgring, onde pontuei na primeira corrida que lá realizei, e obtive, depois, vários pódios. Mas também lá passei situações terríveis, porque Nurburgring é muito complicado para conseguir as afinações corretas e alguns pequenos ajustes tornam-se quebra-cabeças.»

Spa-Francorchamps

«Esta é talvez uma das pistas mais fantásticas do mundo a par de Macau, com um circuito envolvente, um dos últimos a ser descaracterizados pelo Bernie Ecclestone. Tem um perímetro maior que o normal, com curvas fascinantes e uma condução mais técnica que Silverstone. A curva de Eau Rouge não tem comparação possível com qualquer outra curva em qualquer outro circuito é única. Agrada-me a sua particularidade de poder estar a chover torrencialmente num ponto da pista e estar completamente seco noutro, é muito engraçado.»

Monza

«É um dos meus circuitos preferidos. À parte de ser um circuito mítico, Monza é uma pista bonita e exigente, embora não seja fantástica. Como tem velocidades médias elevadas, à primeira vista parece ser fácil, mas a realidade é bem diferente da teoria, pois qualquer ligeiro erro tem como penalização uma perda de tempo que pode significar perder o contacto com o piloto que segue à nossa frente.»

Pedro Lamy

Silverstone

«É o circuito mais carismático, em termos de história do automobilismo, na Grã-Bretanha. É muito rápido, muito difícil, e traz-me algumas boas recordações, mas também algumas más – de vitórias e do meu acidente na F1. Tem muitas curvas interessantes, mas a minha preferida é Becketts, muito rápida e em que é preciso ter uma boa afinação para se ser rápido. Aliás, em Silverstone tem sempre que existir um bom compromisso de aerodinâmica, para as curvas rápidas e as curvas lentas.»

Nurburgring

«Este circuito mete respeito. É muito perigoso. Tem todo o estilo de curvas e é difícil de memorizar. Em termos de pilotagem, é um circuito espetacular, mas é difícil fazer uma volta sem perder tempo, pois há sempre muitos carros em pista. Por isso, nunca podemos baixar os braços numa volta, temos de ir sempre ao ataque durante os mais de 20 quilómetros, até porque é complicado termos uma ideia de tudo aquilo que se passou durante uma volta e do tempo que perdemos.»

Spa-Francorchamps

«Spa é o circuito de crise de todos os pilotos. Todos gostam dele e eu também. É muito bonito, muito completo, com todo o tipo de curvas e, além disso, está numa zona em que o tempo é muito instável, podendo haver chuva mesmo no Verão. Para mim, é o meu preferido e tem Eau Rouge, a curva que mais adrenalina me dá. Sobe e desce muito, o que não se percebe nas imagens na televisão. É preciso lá estar e fazê-la. É única!»

Monza

«Monza é uma pista muito rápida, mas muito exigente. Como tem rectas muito longas, até parece ser fácil de fazer, mas não é. A potência do motor é muito importante, bem como ter um carro bem afinado, capaz de enfrentar as travagens para as chicanes, onde não pode existir nenhum desequilíbrio. É preciso andar sempre certinho, para não comprometer uma boa volta.»

Ni Amorim

Silverstone

«É um circuito rápido e variado, com curvas para todos os gostos. Normalmente chovia, o que dificultava a condução, pois a drenagem não era a melhor. Tinha que se utilizar mais ‘downforce’ que o normal, o que provocava desgaste de pneus. Se o carro tivesse um bom “setup”, podia-se atacar durante uma hora, com um enorme prazer de condução. Tinha diversos locais onde se podiam ensaiar ultrapassagens.»

Nurburgring

«É o circuito mais louco do mundo… Entre conhecer bem ou mais ou menos, podia haver uma diferença de 30 segundos por volta. E à noite, com nevoeiro e chuva, essa diferença podia ser maior. Tem subidas e descidas, é largo ou estreito, tem curvas com ‘camber’ negativo, lombas com saltos, enfim, tem de tudo! A prova de 24 horas era uma prova perigosa, pois tem normalmente mais de 200 carros à partida, com pilotos que só fazem essa prova uma vez por ano e, por isso, pouco rodados e que são um perigo em pista. A concentração tinha que ser total.»

Spa-Francorchamps

«Sem dúvida, um dos melhores circuitos do mundo. Muito rápido, é difícil encontrar-se um bom compromisso de setup. É um circuito que faz a diferença entre um piloto bom e outro menos bom. Ir lá ao pódio é um momento fantástico, pois creio que este circuito tem o respeito de todos os pilotos.»

Monza

«Destes quatro circuitos, é o menos exigente. Será porventura o que tem a média de velocidade mais alta, mas em termos de pilotagem é o mais fácil dos quatro. Tem que se possuir bons travões e um carro bem afinado para se poder subir as enormes lombas que estão no interior das curvas. Monza tem boxes e infra-estruturas muito boas.»