Laboratórios de campeões

Por a 28 Outubro 2013 19:00

Sébastien e Sebastian e Sébastien. As três grandes figuras do WRC e da Fórmula 1 foram descobertas e lapidadas por programas de jovens talentos. É possível ‘fabricar’ um campeão?

Será difícil quantificar a astronómica verba que a Red Bull gastou no seu programa para jovens pilotos desde a sua criação, em 2001. Dezenas de milhões? Centenas de milhões? O certo é que o mais famoso Junior Team do mundo teve até ao momento resultados muito discutíveis… isto, se excetuarmos um jovem alemão chamado Sebastian Vettel.

De facto, o recém coroado tetracampeão do Mundo não foi apenas o único membro do Red Bull Junior Team a conquistar um título na Fórmula 1: é o único a vencer sequer um Grande Prémio… depois de centenas de pilotos apoiados ao longo de 12 anos em dezenas de categorias desde o karting às fórmulas de promoção e, claro, à Fórmula 1.

Em 2004, Christian Klien (austríaco, pois claro) tornou-se o primeiro piloto saído do Junior Team a competir na Fórmula 1. Acompanhá-lo-iam nomes como Enrique Bernoldi, Robert Doornbos, Patrick Friesacher, Scott Speed, Vitantonio Liuzzi, Karun Chandhok e, mais recentemente, Sébastien Buemi, Jaime Alguersuari, Daniel Ricciardo ou Jean-Éric Vergne. Todos eles com resultados que vão desde o medíocre até ao medianamente interessante. E isto nem falando nas centenas de pilotos abandonados pelo caminho, desde o português Filipe Albuquerque a nomes agora caídos na obscuridade, como Adrian Zaugg, Michael Ammermüller, Jean-Karl Vernay, Tom Dillmann, Mika Mäki, entre tantos, tantos outros. Robert Wickens, o canadiano campeão da World Series by Renault em 2011 e atual piloto do DTM, é um ex-protegido e rejeitado da Red Bull.

Entre tamanha quantidade (de pilotos e de recursos), a falta de coerência do polémico Helmut Marko provocou mais estragos do que títulos, de tal forma que muitos acreditam que Vettel foi a ‘salvação’ do megalómano programa gerido pelo austríaco. Mais do que tudo o resto, o relativo insucesso do RBJT provou que é preciso muito mais do que euros para se ‘construir’ um campeão. É preciso critério, é preciso apoio (material mas também psicológico), e, em última análise, é preciso talento.

Margem de manobra

Nuno Pinto é um antigo campeão da Fórmula BMW portuguesa que hoje se dedica ao ‘coaching’ e gestão da carreira de jovens pilotos de monolugares. Um dos seus clientes é o espanhol Daniel Juncadella, vencedor do GP de Macau de F3 de 2011 e que pertenceu ao programa da Red Bull em 2008 e 2009. “No primeiro ano ele foi quarto na F. BMW Europeia e no segundo ano foi vice-campeão”, contou o ‘coach’ português, criador da empresa WinWay. “No final dessa época o Dr. Marko chamou-o e disse-lhe que o ia dispensar por não ter cumprido o objetivo, que era ser campeão. Uma situação semelhante à do Filipe Albuquerque, mas se pensarmos bem o Vettel não foi dispensado depois de não ter ganho a F3 Euroseries no seu segundo ano, em 2006 (o alemão ficou atrás de Paul di Resta). O próprio (Jean-Éric) Vergne não conseguiu ganhar a World Series. Ou seja, há uma pressão enorme da Red Bull sobre estes jovens pilotos mas há uns que têm maior margem de erro do que outros. E isso pode ser fundamental para o sucesso das suas carreiras.”

Curioso é que Juncadella, que em 2012 repetiu a F3 Euroseries, acabou por ser recrutado por outro programa para jovens pilotos, o da Mercedes. “Ali o ambiente é completamente diferente”, revela Nuno Pinto. “Na primeira reunião, o Dani começou a justificar por que motivo algumas provas tinham corrido mal e eles disseram, ‘Calma, não te preocupes. Nós sabemos o que aconteceu’. Quando ele ganhou em Macau a Mercedes propôs-lhe continuar na F3 Euroseries para bater a Volkswagen, pagando-lhe 90 por cento do orçamento, sendo que se fosse campeão o Dani estaria com eles no DTM em 2013. Isto sim é um programa de apoio. Veja-se como a Audi ‘pegou’ no (Edoardo) Mortara e no Albuquerque, que, claro, aproveitaram a oportunidade e são hoje pilotos profissionais.”

O (bom) exemplo da FFSA

E será por acaso que a França tem o piloto mais bem-sucedido da história dos ralis (Sébastien Loeb) e outro, mais novo, bem colocado para prosseguir esse legado no futuro (Sébastien Ogier)? Claro que não… Loeb e Ogier são dois talentos natos que chegaram onde estão por dois motivos: primeiro, pelas suas inegáveis capacidades naturais e segundo, porque o seu país tem toda uma cultura de apoio a jovens talentos exemplificada no programa Rally Jeunes da Federação francesa (FFSA), onde os dois Sébastien foram descobertos para a modalidade.

O Rally Jeunes é uma gigantesca operação de deteção de jovens talentos por toda a França, com cinco eliminatórias regionais e uma Final nacional onde são escolhidos normalmente um ou dois pilotos por época. Os vencedores disputam provas no Campeonato de França de Ralis no ano seguinte. As eliminatórias regionais receberam quatro mil candidatos (!) na estrada, tendo sido apurados 40 finalistas. Os jovens vencedores tiveram sete ralis gratuitos para mostrarem o que valiam.

Em 1995, isso representou uma oportunidade de ouro para um jovem de Haguenau chamado Sébastien Loeb. Em 2005 foi a vez de Ogier. Ambos deram os primeiros passos no Mundial, sagrando-se campeões JWRC em carros apoiados pela FFSA, mas também já existiram campeões nacionais de França saídos do Rally Jeunes como Bryan Bouffier, Alexandre Bengué e Nicolas Bernardi. “A dimensão do país e o facto de terem construtores como a Peugeot e a Citroën são importantes para este trabalho da FFSA”, aponta Carlos Barros, o antigo diretor da Peugeot Sport Portugal. “Mas assim que percebem que há talento fazem tudo para que os pilotos deles tenham condições para evoluir. O Ogier, por exemplo, em pouco tempo passou do Peugeot 207 S2000, para o Citroën C4 WRC, depois para o DS3 WRC, e isto estando sempre em atividade, com testes e ralis todas as semanas. Isso, juntamente com o talento dele, foi fundamental para a sua ‘explosão’. Eles fazem com que os pilotos não estejam mais de 15 dias sem se sentarem num carro de corridas. Não há milagres. É preciso talento mas se não se testar e competir muito, não adianta.”

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