GP de Portugal de Fórmula 1: Lewis Hamilton faz história

Por a 26 Outubro 2020 19:33

Lewis Hamilton venceu confortavelmente o Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1, assegurando a 92ª vitória da sua carreira na disciplina, batendo dessa forma o anterior recorde de Michael Schumacher, que tinha igualado há uma semana na Alemanha.

O início do Grande Prémio de Portugal parecia não ir de encontro aos desejos de Lewis Hamilton, mas a sua superior capacidade de gestão dos pneus guindou-o ao degrau mais alto do pódio, tornando-se no piloto mais vitorioso da história da Fórmula 1.

Quando a categoria máxima do desporto automóvel assentou arraiais no Autódromo Internacional do Algarve o desconhecimento do circuito por parte das equipas era profundo, dado ser uma nova pista no calendário, mas foram diversos os episódios que levaram a que as incógnitas se tenham mantido até ao dia da corrida.

Antes de mais, o facto de ter um novo asfalto, muito liso, levou a que o circuito se apresentasse sem borracha e muito escorregadio, para além disso, a temperatura esteve sempre relativamente baixa. Ora com uma pista pouco abrasiva e pouco calor, juntamente com os pneus mais duros da gama da Pirelli, aquecer as borrachas até à sua janela correcta de funcionamento foi um desafio.

Por outro lado, um teste de meia hora com os pneus protótipos de 2021 da Pirelli e duas bandeiras vermelhas na segunda sessão de treinos-livre implicava que o conhecimento reunido pelas equipas acerca do circuito algarvio fosse baixo para que se sentissem confortáveis para todo o fim-de-semana.

Nestas condições, e como tem sido useiro e vezeiro ao longo desta temporada, Valtteri Bottas parecia imbatível, ajustando-se bem à baixa aderência proporcionada pela pista portuguesa, tendo sido o mais rápido em todas as sessões de treinos-livres.

Hamilton parecia não conseguir encontrar a forma de acompanhar o seu colega de equipa, ao passo que Max Verstappen mostrava-se, aparentemente, mais ameaçador que nas corridas mais recentes, dando ideia que o último pacote de desenvolvimento da Red Bull lhe poderia permitir lutar pela pole-position.

Nos dois primeiros segmentos da qualificação Valtteri Bottas continuou a impor o seu domínio, ao passo que o holandês parecia realmente ser capaz de se imiscuir na batalha pela melhor posição da grelha de partida.

Mas foi logo na Q2 que a Red Bull começou a reduzir as suas possibilidades de poder ser uma ameaça para os Mercedes, ao montar pneus macios para que Verstappen avançasse para a Q3, ao passo que Bottas e Hamilton usavam médios.

A decisão da formação de Milton Keynes foi ainda mais estranha uma vez que o holandês se mostrara bastante confortável com os pneus amarelos da Pirelli e, muito embora pudessem demorar um pouco mais a aquecer no início da corrida, dariam uma elasticidade estratégica muito superiores relativamente aos marcados de vermelho.

Mas no seio da Mercedes o finlandês parecia capaz de manter o seu ascendente sobre o seu colega de equipa e conquistar a pole-position para o Grande Prémio de Portugal, sendo o mais rápido na primeira ronda de voltas lançadas da Q3, realizadas por ambos com pneus macios.

Para o derradeiro embate a equipa de Brackley, confiante de que as médias eram as borrachas mais eficazes, disponibilizou para os seus pilotos jogos deste composto, dando-lhes a opção de realizar uma ou duas voltas lançadas – Bottas escolheu a primeira e Hamilton a segunda.

Uma vez mais, depois da qualificação, o finlandês via-se na desconfortável posição de se ver batido pelo seu colega de equipa, assistindo de camarote à nonagésima sétima pole-position de Hamilton. Parece que, faça o que fizer, o inglês consegue sempre fazer melhor, o que deve estar a deixar Bottas num estado depressivo profundo, até por que, se tivesse conseguido replicar a sua melhor volta da Q2, teria a pole-position no bolso.

Uma vez mais, quando realmente contava, era Hamilton que aparecia.

Max Verstappen mostrou-se ameaçador para o domínio da Mercedes, mas acabaria no terceiro posto a dois décimos de segundo do líder do Campeonato de Pilotos.

No dia da corrida a temperatura era a mais baixa do fim-de-semana, apenas 25ºC no asfalto, o que colocava maiores dificuldades aos pilotos que arrancavam com pneus médios – os dois Mercedes e Charles Leclerc – e com um ligeiro aguaceiro a fazer-se sentir assim que as luzes dos semáforos se apagaram, este parecia ser o cenário perfeito para que Verstappen, com macios, pudesse guindar-se ao comando, até porque arrancava do lado limpo da pista.

No entanto, muito embora tenha chegado a estar à frente de Valtteri Bottas, o holandês viu-se envolvido num toque com Sérgio Pérez, em que mexicano levou a pior, e na segunda volta rodou brevemente no sexto lugar, atrás de Kimi Raikkonen, não conseguindo impor a sua vantagem no campo dos pneus face aos Mercedes.

Os pilotos da formação de Brackley passaram também por dificuldades, vendo Carlos Sainz a assumir a liderança, enquanto os médios que tinham montados não atingiam a temperatura correcta.

Bottas mostrava-se capaz de recuperar o seu ascendente dos treinos-livres e começou a usar as borrachas de forma efectiva mais cedo, passando o inglês ainda durante a primeira volta, assumindo o comando, por troca com o espanhol da McLaren, na quinta.

Com a passagem do breve aguaceiro, a normalidade foi restaurada na oitava volta – ou seja com os suspeitos do costume nas três primeiras posições – liderando Bottas com uma vantagem de 1,8s face a Hamilton e de 4,6s relativamente a Verstappen.

Rapidamente ficou claro que a Red Bull tinha errado na sua estratégia, ao começar a corrida com borrachas macias, e até à sua paragem nas boxes, na vigésima terceira volta, Verstappen perdia quase quinze segundos para o líder.

Entre os dois homens da Mercedes, Bottas estava no comando das operações nas primeiras catorze voltas, momento em que ostentou a sua maior vantagem para Hamilton, 2,3s, mas a partir de então a situação alterava-se significativamente.

Uma vez mais, a superior gestão dos pneus por parte do inglês entrava em consideração, conseguindo manter os médios com que realizara a Q2, portanto, com mais três voltas que os do finlandês, na janela de temperatura correcta e começava a aproximar-se consistentemente do seu colega de equipa.

Bottas, com os pneus perto do seu fim e com vibrações por ter a banda de rolamento bastante desgastada, acabaria por ceder o comando na vigésima volta e, até à quadragésima, momento em que Hamilton foi às boxes, perdia quase dez segundos para o seu colega de equipa.

O finlandês voltava a não ter resposta para o inglês, que para além de consistentemente mais rápido, é também superior na gestão dos pneus, ostentando um conjunto das capacidades que, Bottas simplesmente não pode dentro do seu potencial suplantar.

A superioridade de Hamilton ficaria ainda mais vincada após as trocas de pneus. O seu colega de equipa nunca conseguiu colocar os duros na temperatura correcta, perdendo mais 13,5 segundos para Campeão do Mundo entre a quadragésima primeira volta, momento em que passou pela boxe, e o fim da corrida, tendo o triunfo de Hamilton no Grande Prémio de Portugal sido o que maior vantagem ostentou para o segundo classificado este ano.

Atentando aos números, verificamos que, após as paragens, Bottas perdeu exactamente o mesmo tempo para o seu colega de equipa que Verstappen, que tinha pneus médios com mais dezoito voltas em cima

Esta constatação deixa no ar a ideia de que, caso tivesse arrancado com borrachas marcadas a amarelo, o holandês poderia ser uma pedra no sapato de Bottas, mas sem nunca conseguir ameaçar Hamilton que esteve num nível à parte.

O inglês, uma vez mais, evidenciou que está num plano diferente do do seu colega de equipa e registou a sua nonagésima segunda vitória, batendo o recorde de Michael Schumacher, com uma prestação notável perante o público português, tal como Alain Prost o fizera em 1987, quando batera o recorde maior número de triunfos que então estava na posse de Jackie Stewart.

Esperemos agora que os fãs lusos não tenham de esperar tanto tempo para assistir in-loco a prestações magistrais, como a que testemunhámos no domingo. Pelo menos, o Autódromo Internacional do Algarve mostrou que pode ser o palco de grandes corridas.

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