Fórmula 1, Análise: Quem está melhor – Mercedes ou Red Bull?

Por a 22 Outubro 2021 11:22

Faltam seis Grandes Prémios para o final da temporada, sendo esta a fase crítica da decisão dos títulos deste ano. Depois da paragem estival a Mercedes parece ter dado um passo competitivo que poderá ser determinante para o desfecho do campeonato, mas raramente as aparências conferem uma visão fiável da realidade.

Antes de mais é preciso ter em atenção as duas filosofias antagónicas dos dois carros mais eficazes do plantel – o Red Bull RB16B Honda adoptou o conceito de “high-rake”, o que o favorece em circuitos onde a carga aerodinâmica máxima é necessária; o Mercedes continua a abraçar o conceito “low-rake”, que se revela na sua melhor forma em traçados que exigem a eficácia aerodinâmica.

Para percebermos melhor, Monte Carlo é o exemplo extremo de uma pista que requer apoio aerodinâmico sem que o arrasto seja uma penalização a ter em conta, ao passo que Monza está do outro lado, exigindo o máximo de apoio possível sem que o arrasto trave o carro.

Ao longo da temporada temos vindo a verificar que o equilíbrio competitivo tende para um lado ou para o outro de acordo com as características dos circuitos, mas após as férias de verão tem vindo a notar-se um ascendente da Mercedes, mas será esta melhoria da equipa de Brackley uma situação circunstancial ou será algo mais profundo?

Vamos rever os últimos cinco Grandes Prémios

GP da Bélgica – Max Verstappen

Este deveria ser um fim-de-semana em que a Mercedes poderia ter algum ascendente, dado ser uma pista que privilegia a eficácia aerodinâmica, mas a Red Bull conseguiu apresentar uma solução técnica eficaz graças à sua asa traseira, o que colocou os homens da equipa do construtor germânico sob pressão.

Contudo, todo o exercício tornou-se académico com a chuva, tendo Verstappen vencido uma corrida que não existiu graças à sua pole-position.

GP da Holanda – Max Verstappen

O traçado holandês tinha tudo o que o Red Bull RB16B Honda gosta – encadeamento de curvas de média / alta velocidade e o holandês dominou completamente o fim-de-semana.

Lewis Hamilton nada pôde fazer quanto ao ascendente ao seu rival.

GP de Itália – Daniel Ricciardo

Em Monza esperava-se que a Mercedes dominasse e, na verdade, estava um passo à frente relativamente à Red Bull. Bottas foi o mais rápido na qualificação, seguido de Hamilton, e foi o primeiro na Qualificação Sprint. Mas o finlandês montou a sua quarta unidade de potência e teve de arrancar do final da grelha de partida.

Hamilton não arrancou bem nem para a Qualificação Sprint nem para o Grande Prémio, o que o deixou numa posição em que se envolveu num toque com Verstappen, abandonando os dois.

A Mercedes tinha o carro mais competitivo no traçado italiano, mas erros operacionais da equipa e maus arranques levaram à dobradinha da McLaren e ao triunfo de Daniel Ricciardo.

GP da Rússia – Lewis Hamilton

A Mercedes nunca foi batida em Sochi desde que o circuito russo passou a integrar o Campeonato do Mundo de Fórmula 1, sendo um traçado bastante simpático para o conceito do carro de Brackley.

Face ao ascendente esperado da sua adversária, a Red Bull elegeu montar uma quarta unidade de potência no monolugar de Max Verstappen, o que o enviou para o final da grelha de partida.

Com esta decisão, nunca se pôde perceber verdadeiramente se os Mercedes eram mais eficazes que o Red Bull do holandês, uma vez que este, ao longo do fim-de-semana, nunca realizou uma volta em configuração de qualificação.

Para além disso, o líder do Campeonato de Pilotos adotou uma afinação com pouca asa, para lhe permitir ultrapassar durante a corrida, ficando por saber qual o real valor do Red Bull em Sochi.

No entanto, a Mercedes capitalizou o seu ascendente, com o triunfo de Hamilton, mas Verstappen limitou os danos com um segundo lugar oportuno fruto da chuvada nos momentos finais da corrida.

GP da Turquia – Valtteri Bottas

O Istambul Park poderia cair para cada um dos lados – tem longas retas que vão de encontro às características do Mercedes e curvas de média / alta velocidade que poderiam beneficiar o Red Bull.

No entanto, os carros de Brackley mostraram-se claramente à frente e Valtteri Bottas venceu confortavelmente frente a Max Verstappen, que beneficiou da montagem do quarto motor de combustão interna no carro de Hamilton, que ficou em quinto, para terminar em segundo e recuperar a liderança no Campeonato de Pilotos.

Mas a Red Bull foi surpreendida pela crescente aderência do asfalto turco, o que lhe causou problemas de subviragem extrema na entrada das curvas, que se transformava em sobreviragem repentina a meio, quando os pneus dianteiros ganhavam ‘grip’.

Este comportamento permitiu a melhoria de andamento de Pérez, adepto de um monolugar subvirador, ao passo que Verstappen teve mais dificuldades já que gosta de um carro com a frente precisa.

Esta foi uma situação que já se verificou em Hungaroring, onde a Red Bull nunca conseguiu equilibrar o seu carro, perdendo muito para a Mercedes.

A equipa de Brackley foi mais forte, mas deveu-se mais às dificuldades da sua rival, que a uma superioridade técnica inerente da sua parte.

Face ao demonstrado, acreditar que existe agora algum tipo de ascendente da parte da equipa de Brackley parece ser extemporâneo, até porque estamos a falar de diferenças muito curtas – nunca excederam o meio segundo – e estas deveram-se às características dos circuitos e a questões episódicas.

Daqui para a frente veremos, mas pode-se prever que a Red Bull será forte no México e Qatar, ao passo que a Mercedes deverá ser melhor nos Estados Unidos da América na Arábia Saudita. Já o Brasil e Abu Dhabi podem pender para qualquer um dos lados.

Mas sem grandes surpresas ou abandonos, parece seguro que teremos um campeonato intenso até ao último Grande Prémio da temporada.

Caro leitor, esta é uma mensagem importante.
Já não é mais possível o Autosport continuar a disponibilizar todos os seus artigos gratuitamente.
Para que os leitores possam contribuir para a existência e evolução da qualidade do seu site preferido, criámos o Clube Autosport com inúmeras vantagens e descontos que permitirá a cada membro aceder a todos os artigos do site Autosport e ainda recuperar (varias vezes) o custo de ser membro.
Os membros do Clube Autosport receberão um cartão de membro com validade de 1 ano, que apresentarão junto das empresas parceiras como identificação.
Lista de Vantagens:
-Acesso a todos os conteúdos no site Autosport sem ter que ver a publicidade
-Oferta de um carro telecomandado da Shell Motorsport Collection (promoção de lançamento)
-Desconto nos combustíveis Shell
-Acesso a seguros especialmente desenvolvidos pela Vitorinos seguros a preços imbatíveis
-Descontos em oficinas, lojas e serviços auto
-Acesso exclusivo a eventos especialmente organizados para membros
Saiba mais AQUI
Subscribe
Notify of
7 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
831ABO
831ABO
2 anos atrás

Tenho dúvidas de que a Mercedes seja favorita para o Hermanos Rodríguez. Antes de mais, porque o Max Verstappen fez sempre corridas excelentes no México, e também porque o interior do circuito, bem como a parte sinuosa onde antes havia a Peraltada, favorecem as características dos Red Bull. É certo que a recta da meta é enorme, e as rectas que se seguem até chegar à chicana também são bastante rápidas, o que teoricamente favorece os Mercedes, mas o motor Honda tem potência suficiente para não perder muito tempo no primeiro sector. Salvo alguma surpresa, como a prestação dos Red… Ler mais »

jorge-girao
Editor
Reply to  831ABO
2 anos atrás

Boa tarde,
Obrigado pelas palavras e, sobretudo, pela correcção.
Devido a erro meu, tinha escrito: “Daqui para a frente veremos, mas pode-se prever que a Mercedes será forte no México e Qatar, ao passo que a Mercedes deverá ser melhor nos Estados Unidos da América na Arábia Saudita. Já o Brasil e Abu Dhabi podem pender para qualquer um dos lados.”
Mas agora já está corrigido.

FormulaTwo+1
2 anos atrás

Artigo de grande nível. Obrigado e parabéns pelas suas objetividade e isenção.

2fast4u
2fast4u
2 anos atrás

A Mercedes tem vindo a subir a traseira do carro aos poucos, passando a usar uma afinação de “high-rake” neste momento. Este processo foi feito ao longo de várias corridas, porque o aumento do arrasto do carro devido a elevarem a traseira obrigou a adaptar asa da frente, e por aí a fora…
Neste momento a Mercedes resolveu 2 problemas.
1- reforçaram o motor de combustão e aparentemente resultou, o que permite usar mapeamentos mais agressivos
2- estão a usar o carro com “high-rake” e com isso aproximam-se do desempenho dos Red Bull

2fast4u
2fast4u
Reply to  2fast4u
2 anos atrás

Na Turquia a Mercedes correu com a traseira bem elevada, o que contraria a tese de usarem “low-rake”

Last edited 2 anos atrás by Jabba
MiguelSilva
Reply to  2fast4u
2 anos atrás

Olhando para a foto parece que a Mercedes ainda tem uma traseira muito baixa comparativamente ao Red Bull. Pode depender da velocidade, claro, mas ambos vão depressa. Mas mesmo os carros low rake têm a traseira mais alta que a frente, por isso são low.

mercRB.png
NOTEAM1
NOTEAM1
2 anos atrás

Mais um excelente artigo. Eu diria que três são em teoria para a RB e outros três para a Mercedes. Austin, Brasil e Abu Dhabi mais favoráveis ao Max, já no México, Qatar e Arábia Saudita penderá mais a favor do Hamilton. Há um aspecto fundamental na minha opinião, a RB é habitualmente uma equipa que termina as temporadas em crescendo, quem se lembra das pontas finais de 2010 ou 2012 sabe bem do que falo, é uma espécie de imagem de marca da equipa. Mas não só durante esses anos de ouro, também em épocas mais recentes a RB… Ler mais »

últimas F1
últimas Autosport
f1
últimas Automais
f1
Ativar notificações? Sim Não, obrigado