F1, Sebastian Vettel: tendência ou circunstancial?

Por a 11 Abril 2021 09:47

Sebastian Vettel não teve uma estreia de sonho com a Aston Martin, muito longe disso, mas será o mau resultado de Sakhir o seguir de uma tendência ou meramente circunstancial?

Os últimos anos do alemão na Ferrari foram deprimentes, marcados por erros grosseiros, desde 2017 e, sobretudo, de 2018, ao passo que no ano passado foi completamente trucidado por Charles Leclerc, tendo marcado apenas trinta e três pontos, contra noventa e oito do lado do monegasco.

Também na qualificação o tetracampeão mundial foi inapelavelmente esmagado pelo seu colega de equipa, sendo batido por treze vezes em dezassete corridas e perdendo em média 0,354% para Leclerc nas sessões do sábado à tarde. Parecia que Vettel não queria estar no carro de Maranello, até porque foi colecionando erros e queixas sobre o comportamento do seu monolugar.

Desilusão Ferrari

Como pano de fundo da temporada de 2020 do tetracampeão mundial estava o facto da Ferrari lhe ter comunicado ainda antes do campeonato ter começado que não pretendia manter os seus serviços para lá do ano em questão, o que deixava o piloto germânico na estranha situação de defender as cores de uma equipa que já não o desejava e da qual não tinha confiança.

Este ambiente não foi, seguramente, capaz de oferecer a Vettel a estabilidade desejável e não será anormal pensar que as suas performances sofreram com situação em que viveu ao longo de toda a temporada.

Esperava-se, portanto, que este ano, numa nova equipa, que foi capaz de despedir o seu melhor piloto das últimas épocas, em que se sentisse acarinhado pudesse reflorescer e regressar às boas performances.

Passo em falso

No entanto, no primeiro Grande Prémio da época, disputado em Sakhir, Vettel voltou a passar por dificuldades.

Na qualificação, foi eliminado logo na Q1, sendo batido copiosamente pelo seu novo colega de equipa, Lance Stroll, que nunca, até este ano, tinha conseguido dominar um colega de equipa – Felipe Massa, Sergey Sirotkin e Sérgio Pérez.

Na corrida, o alemão voltou a cometer um erro, embatendo em Esteban Ocon depois de este o ter ultrapassado, acabando no penúltimo posto e com uma penalização nas costas por ter sido responsabilizado pelos Comissários pelo incidente com o piloto da Alpine.

A favor de Vettel está o facto de ser o piloto titular que menos quilómetros completou ao longo dos três dias de testes de pré-temporada.

O alemão conseguiu apenas realizar seiscentos e vinte e dois quilómetros. Para colocar este número em perspectiva, Nikita Mazepin, o terceiro piloto com mais voltas, alcançou os mil cento e quarenta e sete, quase o dobro.

Com tão poucas voltas realizadas numa nova equipa e com um carro completamente diferente, inclusivamente com unidade de potência distinta, era evidente que Sebastian Vettel não poderia chegar à qualificação para o primeiro Grande Prémio da temporada em condições de explorar o máximo da sua nova montada.

Para além disso, o Aston Martin AMR21 mostrou desde os testes de pré-temporada uma traseira complicada e instável, trato que prejudica profundamente o estilo de pilotagem de Vettel, que precisa de um eixo traseiro que lhe inspire confiança na entrada da curva e capaz de lhe permitir acelerar com decisão.

Porém, e apesar de todas as contrariedades, um tetracampeão mundial teria de fazer mais e melhor e nem o facto de ter sido apanhado pelas bandeiras amarelas, que surgiram na sua derradeira volta lançada da qualificação – o que lhe acabaria por valer uma penalização de cinco lugares na grelha de partida por ter ignorado as citadas bandeiras –, justificam a eliminação na Q1.

Começar atrás de Stroll

Como ficou bem patente por Stroll, o Aston Martin é um carro capaz de lutar por lugares dentro dos dez primeiros, logo, o alemão não se poderia encontrar numa situação como aquela que viveu na qualificação para o Grande Prémio do Bahrein.

Para além disso, perder quase 0,8s para Stroll, que se traduz em 0,871%, é uma diferença demasiado grande para um piloto que tem quatro títulos no seu currículo., face a um jovem piloto com potencial, mas que não é visto por ninguém como um futuro Campeão Mundial.

A sua prestação na corrida estava já condicionada pela qualificação, e adopção de uma estratégia de uma paragem, quando uma de três paragens chegou a estar em cima da mesa para as equipas da frente, dificilmente poderiam ajudar Vettel a guindar-se a um bom resultado.

Ma mais preocupante que a sua performance, foi a forma como se envolveu no incidente com Ocon.

Ao longo dos últimos anos, a grande parte dos erros que o alemão cometeu têm em comum o facto de surgirem quando está muito perto de outro carro, numa luta corpo a corpo, parecendo que Vettel não leva em consideração a perda de apoio aerodinâmica habitual resultante da proximidade entre dois automóveis de Fórmula 1.

Se voltarmos atrás no tempo, verificamos que estes incidentes começaram a ocorrer em 2017, aquando da entrada em pista dos actuais monolugares, carregados de apoio aerodinâmico.

Erros recorrentes

A repetição destes incidentes parece indicar que Vettel ainda não compreendeu o porquê dos seus erros e neste mais recente exemplo, no Bahrein, o apontar de culpas imediato a Ocon, que acusou de ter alterado a sua trajetória durante a travagem, algo todos viram não ter qualquer aderência com a realidade, é mais uma evidência de que o alemão continua sem olhar para dentro de si para procurar uma resposta para o que tem vindo a acontecer desde há demasiados anos.

É muito natural que a falta de competitividade que Vettel demonstrou face a Stroll venha a ser superada com a acumulação de quilómetros aos comandos do Aston Martin e esta pode ser, de facto, uma questão circunstancial.

Maiores dúvidas surgem quanto à capacidade do alemão em se manter ao abrigo dos erros que tem vindo a cometer desde 2017, sobretudo num cenário em que terá de lutar no meio do pelotão e com diversos carros à sua volta.

Para já, existe ainda alguma benevolência para com Vettel, mas os próximos Grandes Prémios serão determinantes para perceber se conseguirá sair do buraco em que se enfiou nos últimos anos ou se escavará um buraco ainda mais fundo e que impacto terá isso no seu futuro…

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