F1: Jean-Pierre Beltoise, um leão das pistas

Por a 11 Fevereiro 2024 15:26

Jean-Pierre Beltoise morreu na sua casa de férias, em Dakar, capital do Senegal. Tinha 77 anos e ficou conhecido por ter ganho, debaixo de chuva, no GP do Mónaco de 1972, ao volante de um BRM, na que ficou como a sua única vitória na F1.

Jean-Pierre Maurice Georges Beltoise começou a sua carreira como piloto de motos, passando pelas 50cc, 125cc, 250cc e 500cc, tendo nestas condições conquistado 11 títulos de Campeão Nacional, antes de se tentar a sorte nas quatro rodas. Na realidade, correu em motos entre 1962 e 1964, terminando em 6º lugar o Mundial de 50cc neste ano, com uma Kreidler, depois de um 3º lugar no GP de França.

Estreou-se em 1963 nos automóveis, ao volante de um René Bonnet 1.1 de “sport”, mas a sua carreira quase teve um fim prematuro, com um acidente grave nas 12 Horas de Reims, em 1964. Nunca mais recuperou totalmente a mobilidade do seu braço esquerdo, fraturado em vários sítios.

Beltoise, apesar das dificuldades, nunca pensou em desistir de correr e, depois de boas exibições na F3 (vitória no GP de Reims, em 1965) e na F2, aqui em 1966 e 1967, sempre com a Matra, subiu com esta marca à F1. A sua estreia (na verdade, já tinha participado, no GP da Alemanha de 1966, com um Matra MS5 de F2, classificando-se em 8º… da geral!) Foi no GP dos Estados Unidos de 1967, depois de ter falhado a qualificação no GP do Mónaco desse ano – e de ter ganho o GP de Buenos Aires, que não contava para o Mundial. No seguinte, subiu ao pódio pela primeira vez, ao acabar em 2º lugar o GP da Holanda.

Em Janeiro de 1971, a sua carreira quase acabou de novo, ao ficar com a licença internacional suspensa indefinidamente, depois de ter sido considerado culpado no acidente que matou Ignazio Giunti, durante os 1000 Km. de Buenos Aires. Porém, semanas depois viu esta suspensão ser revogada e suspirou de alívio…

Ficou na Matra até ao final da temporada de 1971, antes de passar brevemente pela Tyrrell (apesar de nunca ter corrido nenhuma prova… pois depressa se desentendeu com o “velho lenhador”) e de, a partir do GP da África do Sul, assinar com a BRM, com que conquistou a sua primeira (e única) vitória na F1 – ao mesmo tempo, a derradeira da BRM.

Na verdade, a temporada de 1972 começou de maneira frustrante, mas Beltoise teve arte e engenho suficientes para passar por entre os (grossos) pingos da chuva do GP Mónaco e bater os seus rivais, vencendo com 38,2s de vantagem sobre Jacky Ickx (Ferrari), na altura o mais reputado especialista à chuva.

Permaneceu na BRM por mais duas temporadas, abandonando a F1 no final de 1974 e passando a concentrar-se nas corridas de “Sport”, antes de passar para os carros de Turismo, em França – onde conquistou por duas vezes o título de Campeão, com um BMW e, a partir de 1981, correndo como piloto oficial da Peugeot.

Beltoise, já com perto de 50 anos, ainda competiu de forma regular no ralicross, com um Alpine-Renault, sagrando-se também campeão nacional e nas corridas em pista de gelo (Trophée Andros, por exemplo), tendo ainda testado algumas vezes monolugares da Ligier, no que foi o seu último trabalho na F1, nos finais de década de 70.

Jean-Pierre Beltoise era casado com a irmã de François Cévert, Jacqueline e tinha dois filhos, ambos pilotos de automóveis – Anthony e Julien.

GP do Mónaco 1972: Rei da chuva por um dia

14 de maio de 1972: GP do Mónaco, quarta prova do Campeonato do Mundo. Foi a última corrida na pista original, pois ainda nesse ano foi inaugurada a piscina e o túnel foi encurtado. As boxes foram mudadas para frente ao porto e a entrada que hoje dá para a chicane do Porto servia para lá entrar. Havia ainda outra chicane, que servia para abrandar os carros antes da curva do Tabaco [Tabac].

Ao volante de um BRM P160B, qualificou-se em 4º lugar, atrás dos favoritos Ferrari (Clay Regazzoni, 3º, e Jacky Ickx, 2º) e do Lotus de Emerson Fittipaldi, que fez a ‘pole position’.

No dia da corrida chovia torrencialmente e não se via quase nada. Na largada, a surpresa foi geral, quando Beltoise apareceu em primeiro lugar, tendo largado de quatro e garantindo para si uma improvável visão da pista totalmente limpa de ‘spray’. Até ao fim, nunca perdeu o comando, o que foi uma surpresa ainda maior, já que tinha mesmo atrás de si aquele que era então considerado o maior especialista a correr nestas difíceis condições: Jacky Ickx.

Mas a prova de Beltoise não foi isenta de sustos. Na curva do Porteiro [Portier], perdeu a traseira do carro e foi buscá-la mesmo nos limites, escapando do muro por uma unha negra. Mais tarde, na que era então a curva da Estação (mais tarde demolida, para dar lugar ao que hoje é o Hotel Loews) tocou no Surtees de Tim Schenken, quando estava a dobrá-lo.

A chuva foi um problema constante para todos os pilotos, incluindo Beltoise e Ickx, apesar destes estarem a controlar os acontecimentos. E até Stewart ficou chocado quando, quase no final, perdeu o 3º lugar para Fittipaldi, quando o motor do seu Tyrrell começou a falhar, tal era a água na pista, tendo ainda sido dobrado duas vezes antes de a corrida acabar.

Apesar da chuva, a corrida foi completa em toda a inicia extensão, 80 voltas – dando 2h25m54,7s, algo hoje impensável, pois a máxima distância de um GP está limitado às duas horas. E, apesar da chuva insistente, que por vezes engrossava bastante, tornando a visibilidade nula, somente seis dos 25 carros que partiram desistiram por acidente. Um deles foi Peter Gethin, que bateu na nova chicane e, quando os comissários estavam a retirar os destroços do carro, o resto do pelotão, por inteiro, quase seguiu o mesmo caminho…

A vitória de Beltoise foi a única na sua carreira na F1 – e a última para a BRM.

Vencer por todo o lado

A carreira de Jean-Pierre Beltoise na F1 foi curta, terminando porém quando ele tinha já 37 anos, em 1974. Depois disso, contudo, continuou bem ativo, dedicando-se às corridas de carros de Turismo e de Sport.

Nos primeiros, com a BMW, foi campeão de França por duas vezes e, mais tarde, foi piloto oficial da Peugeot, com um 505 Turbo. Venceu 12 provas de Sport-Protótipos, 24 corridas de Turismo e, além disso, também 12 corridas de rampa e oito de ralicross e – até pendurar o capacete em definitivo, passando a dar a bandeirada de xadrez no GP de Pau, a partir de 1993.

Além disso, deixou a sua marca nas 24 Horas de Le Mans, onde ganhou o Índice Energético em 1963, com um minúsculo René Bonnet. Mas, na verdade, não ficou com grandes recordações da clássica prova de resistência, onde esteve presente por 14 vezes. O seu melhor resultado foi o 4º lugar na edição de 1969, com um Matra MS650, que partilhou com Piers Courage, piloto inglês de F1 que veio a morrer, no ano seguinte, em Zandvoort.

Este foi um período penoso para Beltoise que, além de Courage, viu partir, em acidente de competição, o seu cunhado François Cévert e os amigos Jochen Rindt, Jim Clark e Ronnie Peterson. Por isso, a segurança tornou-se uma obsessão, depois de deixar as pistas. No seu caso, a segurança rodoviária – iniciou uma campanha pedagógica intitulada “Condução Correta”, espalhando-a desde aos condutores às crianças. O método era simples: levado pela sua enorme experiência, insistia que o melhor era aperfeiçoar a condução pela técnica, em vez de reprimir. Por isso, foi eleito mais tarde Presidente de Honra da Associação de Defesa dos Cidadãos Automobilistas.

JEAN-PIERRE BELTOISE

B.I.

Nome: JEAN-PIERRE Maurice Georges BELTOISE

Nascimento: Boulogne-Billancourt, 26 de abril de 1937

Falecimento: Dakar, Senegal, 5 de janeiro de 2015 (77 anos)

Causa da morte: dois ataques cardíacos consecutivos

Atividade na F1: [07/08/1966] 01/10/1967-06/10/1974

Primeiro GP F1: GP Estados Unidos 1967 [GP Alemanha 1966]

Último GP F1: GP Estados Unidos 1974

GP disputados: 88 (86 largadas)

Vitórias: 1

1ª Vitória: GP Mónaco 1972

Última vitória: GP Mónaco 1972

“Pole positions”: –

Melhores voltas em corrida: 4

Pódios: 8

Pontos: 77

Melhor resultado CM F1: 5º, em 1969 (21 pontos)

Marcas/Equipas: Matra (1966/67 – 1971); BRM (1972-1974)

PALMARÉS (F1)

1966 – Matra: 1 GP. Não pontuou (F2)

1967 – Matra: 3 GP. 1 NQ. Não pontuou

1968 – Matra: 12 GP. 9º CM, 11 pontos

1969 – Matra: 11 GP. 5º CM, 21 pontos

1970 – Matra: 13 GP. 9º CM, 16 pontos

1971 – Matra: 7 GP. 22º CM, 1 ponto

1972 – BRM: 11 GP. 1 vit. (Mónaco). 11º CM, 9 pontos

1973 – BRM: 15 GP. 10º CM, 9 pontos

1974 – BRM: 15 GP. 1 NQ. 13º CM, 10 pontos

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