F1: Jackie Stewart fala do peso da herança Hamilton

As comparações são inevitáveis. Face a uma novidade, iremos sempre ter tendência a comparar com o que conhecemos. E no desporto motorizado é também assim, quer se fale de carros ou pilotos.

No caso dos pilotos essa comparação tem sempre no fundo a vontade de perceber a valia dos pilotos que começam a destacar-se, comparando os seus feitos ao dos pilotos de maior sucesso. Aconteceu assim com Hamilton, o piloto que mais sucesso tem conseguido nos últimos anos. Também ele esteve sujeito a esse tipo de comparação. Seria ele capaz de chegar ao tri, como o seu ídolo Senna? Será ele agora capaz de chegar aos recordes de Schumacher?

São estas comparações, por vezes inevitáveis e sem maldade, que podem colocar pressão extra em pilotos com talento, mas que não conseguem chegar ao nível de outros, por vários motivos. Um exemplo claro vem do outro lado do atlântico, uma pátria que adora F1 e que deu alguns dos melhores pilotos da história. Os fãs brasileiros habituaram-se a ver a sua bandeira no topo da F1, mas enfrentam agora um período em que não estão representados no grande circo. Claro que o próximo talento a subir à F1 irá ter de lidar com comparações (muitas vezes injustas) e a consequente pressão que implica.

Com os pilotos britânicos que agora iniciam a sua carreira na F1 o mesmo é muito provável de acontecer. George Russell, Lando Norris, e Alex Albon terão ainda de provar o seu valor mas as comparações com os primeiros anos dos talentos britânicos serão inevitáveis, e Hamilton poderá ser o peso do outro lado da balança.

Jackie Stewart falou desse assunto e lembrou que por vezes, o talento não é forçosamente sinónimo de sucesso e que a sorte também joga um fator decisivo:

“Lewis atualmente não está apenas a pilotar bem, ele também tem a melhor equipa do mundo com o melhor motor do mundo à sua disposição”, disse Stewart. “É um facto que ele está em grande forma. Mas temos muitas outras dimensões, quando se é um piloto de Fórmula 1, assim como a dependência do carro.”

“Quando saí do Matra, fui a March [1970]. Isso foi um desafio! Se o Lewis saísse da Mercedes e fosse para uma equipa pouco competitiva, isso seria um grande desafio. O Lewis tem estado muito bem, mas ele tem tido também muita sorte de ter [o ex-chefe da McLaren] Ron Dennis a apoia-lo da forma como fez. Naqueles tempos, a McLaren era o melhor carro do mundo na Fórmula 1, incluindo a Ferrari.”

Um factor que deve ser realçado é que na F1, como em qualquer desporto de equipa, nem sempre o talento individual se consegue sobrepor à forma da equipa. Kevin Magnussen não é mau piloto, mas não foi capaz de o mostrar na McLaren, tal como Vandoorne. Alonso é considerado um dos melhores do mundo e os seu números ficam aquém de outros pilotos de igual valia, por estar em equipas que passavam momentos menos positivos. É por isso que as comparações nem sempre são justas para quem é alvo delas. Mas faz parte também da função dos pilotos ter força mental para superar e não ficar afectado com o ruído exterior. Só assim poderão desenvolver-se da melhor forma.

Quanto à sorte… Diz-se que dá muito trabalho ter sorte, mas sem ela é difícil ter sucesso. O caso de Alonso e das escolhas de equipa erradas é um caso disso. E são inúmeros os casos que poderíamos apontar. Para vencer na F1 é preciso ter os valores certos para todas as variáveis de uma equação complicada de resolver.