F1, GP de Las Vegas: Milhões, atrasos e começo de festa estragada

Por a 17 Novembro 2023 08:36

O GP de Las Vegas foi pensado para ser a joia da coroa do calendário da F1. A “Cidade do Pecado” foi vista pelos responsáveis da F1 como a cereja no topo do bolo. Mas o primeiro capítulo desta história começa mal.

A Liberty Media sempre mostrou vontade de se virar para o mercado americano. O potencial desta aposta era grande, pois a F1 nos “States” era apenas mencionada com nota de rodapé. Mas a Liberty queria que a competição ganhasse força nos EUA e ao longo do tempo tem conseguido isso de forma brilhante. A F1 nunca foi tão popular na América (com todos os benefícios que isso implica ao nível de valorização da marca) e o GP de Las Vegas foi pensado para ser uma espécie de “Superbowl” da F1. À boa maneira americana, foi tudo pensado em grande. A pista, as infraestruturas, o evento, tudo foi pensado para ter o máximo de impacto, sem olhar a custos.

O terreno onde o paddock e o circuito foram construídos foram adquiridos por 240 milhões de dólares e gastaram uma quantia semelhante na construção de um edifício de topo para as boxes – o que significa que o custo total se aproxima dos 500 milhões de dólares. Isto só para o terreno e infraestrutura básica. Não está incluído o preço do, por exemplo, logótipo gigante da F1 no topo do edifício, de outras comodidades de topo e de toda uma estrutura pensada para que as pessoas fiquem deslumbradas. Estamos a falar de um investimento brutal, que tem de garantir retorno a médio prazo.

Mas, como em qualquer obra desta dimensão, há atrasos que prejudicam o processo. Não é novidade e a F1 já foi para Jidá com muitos dos trabalhos ainda por concluir. Aliás, são raros os eventos que estão completamente prontos na sua estreia. Mas em Las Vegas, onde a exigência era ainda maior, por todo o “hype” criado, era preciso ter cuidado extra.

Segundo o motorsport-total.com, diretor de corrida da FIA, Niels Wittich, fez a primeira inspeção da pista na terça-feira, mas quando ele andou pela pista com a sua equipa, ainda havia obras a decorrer e a inspeção teve de ser repetida no dia seguinte. No momento da cerimónia de abertura, ainda não estava claro se o Grande Prémio poderia acontecer.

Ora hoje, o TL1 é cancelado por uma tampa de drenagem solta, que danificou o Ferrari de Carlos Sainz, assim como o Alpine de Esteban Ocon. Dois carros que, em condições normais, não farão o TL2. E porquê condições normais? Porque à hora em que este artigo é escrito, não há ainda certezas de que o TL2 decorrerá hoje. Um começo de festa estragado.

Toto Wolff saiu em defesa da Liberty, questionando os jornalistas que olhavam para este incidente como algo grave para a imagem da F1: “Como é que se podem atrever a falar mal de um evento que estabelece novos padrões, novos padrões para tudo. E depois falam de uma tampa de esgoto que se soltou e que já aconteceu antes – não é nada, é o TL11. Deem crédito às pessoas que criaram este Grande Prémio, que tornaram este desporto muito maior do que alguma vez foi.”

É verdade que isso já aconteceu outras vezes, felizmente sem consequências. Mas não podemos fazer vista grossa ao que aconteceu. Dois treinos foram afetados no primeiro dia de ação em pista. Isto, num evento que foi pensado para ser a referência, em detrimento de outros eventos já estabelecidos e com tradição. Se para uns, esta nova forma de apresentar a F1 é o caminho para o futuro, outros olham para todo este show com muita desconfiança. Se para lá da desconfiança ainda são servidos com um cancelamento e um adiamento, é normal que mais interrogações surjam.

O que aconteceu foi grave, perigoso, numa altura em que a F1 perde gás, com o domínio de Max Verstappen a arrefecer o interesse pela competição. Além dos danos nos carros, do tempo de antena que se perdeu para as marcas que pagaram publicidade para o evento, a imagem do evento e do desporto ficam em causa. Nesta fase e neste evento, era a última coisa que a Liberty queria.

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