WRC: Onde se gasta mais dinheiro no Mundial de Ralis?

Por a 28 Março 2020 16:46

Coronavírus! Crise! Novas regras! Tudo misturado, pode estar a preparar-se uma ‘receita’ que não tem grande potencial para ser ‘saborosa’. A FIA anda à procura das melhores soluções para o WRC, mas os tempos que aí vêm podem ser tudo menos fáceis…

A FIA ‘atirou’ para o próximo Conselho Mundial de FIA – previsto para junho e que provavelmente será adiado – a decisão quanto aos novos regulamento dos Rally1 para o WRC 2022. Algumas coisas, como as transmissões, suspensões e aerodinâmica, já estão ‘fechadas’, o motor e especificação da tecnologia híbrida, ainda serão alvo de mais discussões e análises nos próximos meses. Como se sabe com o contexto que atualmente vivemos, com o coronavírus em força, tempo é ‘coisa’ que não vai faltar a ninguém, mas enquanto se estão a decidir novas regras, as equipas do WRC em particular, o automobilismo e o mundo, em geral, estão a viver momentos tensos sem saber muito bem o que para aí pode vir…

O WRC perdeu no final de 2019 uma equipa oficial, reduzindo o número de equipas a três, algo que já não sucedia no Mundial de Ralis desde 2012 (a Citroën fez um ano sabático oficialmente em 2016, mas ainda assim ainda participou com pelo menos um carro em nove ralis).

As razões da Citroën são conhecidas e nunca variam muito de caso para caso. Quando a competição deixa de lhes oferecer o retorno que as administrações das marcas entendem que deve existir o resultado é sempre o mesmo. Faz parte do jogo, cada um sabe das linhas com que se cose.

Por isso, esta questão das saídas e entradas de equipas oficiais no Mundial de Ralis sempre foi e sempre há-de ser um equilíbrio entre o que a competição pode oferecer às marcas e o que estas gastam. E as razões para o ‘corropio’ são imensas, sendo que a maior parte delas acompanham o estado da economia mundial, com algumas exceções ou anomalias estatísticas.

Recordando um pouco a história, se olharmos para o ‘sobe e desce’ de equipas oficiais do Mundial de Ralis, aproveitando o início da era WRC (World Rally Car) em 1997, concluímos entre 1999 e 2002 tivemos o maior número de sempre, com sete equipas oficiais no WRC. Nem todas ao mesmo tempo, mas nesses quatro anos, Citroën, Ford, Hyundai, Mitsubishi, Peugeot, Skoda, Subaru, Suzuki, Toyota, estiveram representadas oficialmente na competição, nunca o número tenha subido ou caí para baixo do número sete.

As coisas não mudaram muito nos anos seguintes, mas quando se chegou a 2005, um ano depois da FIA ter introduzido novas regras com a oposição das equipas e dois anos depois de ter alargado o calendário de 14 para 16 provas totalmente em contra ciclo, numa altura em que a indústria automóvel se debatia com um fraco mercado, a FIA quis reduzir os custos do Mundial de Ralis, tal como está a tentar fazer agora.

Na altura, com a Peugeot, Citroën e Subaru muito pouco satisfeitas, alegando que ter 16 ralis numa só temporada era demasiado. Como resultado, as duas marcas do Grupo PSA anunciaram ao mundo que em 2006 não estariam presentes no Mundial de Ralis, virando a sua atividade para outras disciplinas, mais baratas.

Como consequência, na altura, questionou-se, que regras poupavam, de facto, custos ou quais os custos realmente razoáveis para poupar uma regra? E esta é uma pergunta que faz todo o sentido neste momento. Por norma, as equipas sempre dão respostas ambivalentes quanto ao efeito do aumento do número de provas do campeonato, pois essa é e sempre será uma das principais causas apontadas para o agravamento dos custos no Mundial de Ralis. O aumento quantitativo do número de provas é, normalmente, sequência do sucesso das competições, mas também pode ser visto como um erro.

Aprender a poupar

Um dos poucos aspetos que se podem revelar positivos depois de passar toda esta questão do coronavírus, será o mundo aprender como poupar.

E também o automobilismo. Tal como ainda hoje sucede e com a maioria das competições, logicamente devido à falta de força da FIA – face aos promotores de cada uma das competições – em fazer o que é correto, ainda não se aprendeu a poupar… a sério.

Por exemplo e só para ficar nos ralis, há muito que se avançou para o emparelhamento de peças, motores e caixas, que têm de durar várias provas, e sendo verdade que isso traz sempre benefícios financeiros, estes são pequenos para as equipas.

Reduzir o número de peças sobressalentes é sempre uma ajuda em matéria de custos, mas quando isso tem como contrapeso ter que desenvolver peças mais fiáveis, os custos voltam a subir.

Ter motores, caixas ou suspensões que durem muito mais do que era suposto, implica muito mais testes, logo aumentam os custos de desenvolvimento. Fazer um motor que aguente duas provas implica duas vezes mais testes do que anteriormente para se chegar ao um grau de fiabilidade semelhante.

Por esse prisma facilmente se percebe que a maior parte do orçamento que uma equipa do Campeonato do Mundo de Ralis gasta pode nem sequer ser gasto nas despesas logísticas (que são em anos normais sem grandes mudanças técnicas a maior fatia nos custos), mas sim para desenvolver e se adaptar às novas regras técnicas. Que é o que vai suceder novamente numa era em que estamos a passar pelo que todos sabem – o coronavírus.

Claro que já estavam pensadas há muito, tem de se avançar para elas, mas juntamente com o que se está a passar no mundo atualmente, pode haver problemas a curto, médio prazo, que logicamente não se resumem só ao WRC.

Por outro lado, muitas vezes, em teoria, muitas das regras parecem boas, mas, na prática, acabam por não o ser. Um exemplo: Passou-se com os Parques de Assistência únicos que, à primeira vista, funcionaram bem, pois impediram a deslocação de meios e respetivos custos, mas que acabaram por inflacionar os preços dos hotéis pelo facto das equipas estarem mais dias em determinada zona. É cíclico.

Podemos dar as voltas que quisermos à cabeça, mas a verdade é que com o coronavírus, um campeonato que provavelmente vai levar uma forte machadada em 2020, com novas regras e as equipas a precisarem de dinheiro, e de tempo para desenvolver os novos carros (não para os pensar, pois agora têm-no, mesmo com muita gente a trabalhar de casa), é bem capaz de ser necessário olhar para um calendário melhor pensado em 2021, isto passando completamente por cima do que (não) pode ser 2020.

Vêm aí tempos difíceis, e provavelmente será necessário pensar muito bem nos próximos passos. Por exemplo, a Fórmula 1 adiou por um ano a entrada em vigor dos novos regulamentos e sem ser necessário que o WRC faça o mesmo, atirando os novos regulamentos para 2023, não seria mal pensado ter muito cuidado com a época de 2021, e com as decisões que estão agora para ser tomadas, para não fazer cair mais nenhuma equipa.

A Hyundai e Toyota parecem seguras, mas M-Sport não está muito bem. Depois da crise de 2008, em 2009 e 2010 o WRC ficou reduzido a duas equipas, o que virá aí com ‘este’ coronavírus?

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