OPINIÃO: Para onde vai o Mundial de Ralis?

Por a 9 Abril 2021 14:45

Nos últimos tempos a discussão no Mundial de Ralis tem-se centrado nas regras, que carros, que tecnologia, e já se aponta para 2025. Mas não se fala doutra coisa bem distinta e também muito importante, talvez porque se ache que o que está bem não se mexe: a estrutura dos ralis. Tudo bem, mas porquê?

No passado era muito utilizada a frase do “sonho comanda a vida”, e mesmo sendo verdade que hoje em dia é o dinheiro, o seu ‘cheiro’ que dita ‘direções’ a verdade é que os adeptos mais antigos viam na diversidade dos ralis do passado, muito do seu brilho.

O Monte Carlo com partidas de várias cidades, e um percurso comum muito longo e com um pouco de tudo, asfalto neve gelo, e dezenas de milhar de pessoas no Turini, a Finlândia com os seus intermináveis saltos, que é provavelmente o rali que menos mudou ao longo dos quase 50 anos do WRC, as florestas com estradas enlameadas e as super especiais à volta de castelos dos Lordes, as duras pedras da Acrópole, as 10.000 curvas da Córsega, as paredes humanas de Portugal e Sanremo, o nevoeiro das fogueiras de Arganil, e especialmente a diversidade do que era o Rali da Costa do Marfim, e especialmente o Safari.

Como todos sabemos, a FIA decidiu alterar o formato dos ralis, para o célebre ‘trevo’ com parque de assistência central, e isso foi suficiente para alterar por completo o figurinos das provas com os organizadores obrigados a escolher uma zona e construir os ralis à volta dela. Com isso, perdeu-se muita da mística dos ralis.

Ficando-nos pelo Rali de Portugal, a maioria recorda-se do que era a prova portuguesa a fazer a ronda de Sintra, a primeira etapa de asfalto, Sintra, Gradil, Montejunto, Figueiró dos Vinhos, Lousã, Sever do Vouga, Arouca, Freita, e a fantástica ligação até à Póvoa de Varzim com muito mais gente na estrada do que muitas outras provas do WRC nos troços.

E se a FIA voltasse a moldar o Mundial de Ralis de outra forma? Estaria o WRC à altura das mudanças exigidas? Voltarmos a ter provas – pelo menos algumas – muito diferentes umas das outras.

Porque não haver sempre, pelo menos, duas ou três provas que trouxessem desafios diferentes ao WRC? A FIA fez recentemente alterações aos regulamentos técnicos por causa do Rali Safari. E se voltássemos a ter um Rali Safari com cinco ou seis dias e um desafio completamente para as equipas?

Claro que é fácil trazer já para cima da mesa questões financeiras, tudo bem, mas há que perceber também que por vezes vale a pena fazer diferente, pois pode ter também um impacto diferente. Porque não permitir aos organizadores mais assíduos do WRC, de cinco em cinco anos, por exemplo, ‘fazer’ um rali sem constrangimentos.

Imagine um Rali de Portugal de seis dias que fizesse um ronda em Lisboa/Sintra, Algarve, Arganil/Lousã/Góis, Ponte de Lima, Fafe/Vieira do Minho/Amarante, Viseu, etc. Misto. 1.200 Km de troços.

O desafio seria complexo, claro, mas tudo isto para nos resumirmos à pergunta: “Como será o Mundial de Ralis daqui a cinco ou 10 anos?” Ninguém fala em percursos, tipos de rali, mas será que só a técnica e os carros interessam. Portugal nesse aspeto até tem conseguido resolver bem a questão já que depois do Algarve foi para o Norte e não demorou a alargar-se para a zona centro.

O País é pequeno, mas continua a ser grande para os ralis.

Era bom que o espírito que presidisse ao Mundial de Ralis era que cada rali pudesse ter a sua filosofia própria e todas as filosofias seriam aceitáveis. No limite, como já referi, poderíamos voltar a ter um Rali Safari à ‘séria’ no WRC, porque na FIA devia vigorar a ideia de que os ralis não têm que ser todos iguais.

Acho que teríamos a ganhar com ralis menos ‘normalizados’, mas compreendo as dificuldades. Sonhar não custa…

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3 Comentários
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Scb2
Scb2
3 anos atrás

Um rali de 6 dias?????

christopher-shean
christopher-shean
Reply to  Scb2
3 anos atrás

Talvez um pouco exagerado… mas gostei do artigo!

JP INAU
JP INAU
Reply to  Scb2
3 anos atrás

Eu nasci em 1961, e nos anos 70 e 80 não havia nenhum rally com menos de 5 dias e 2.500km. O Safari tinha quase 6.000km com percurso secreto, e ganhava quem penalizasse menos, o RAC (Rally GB) tinha 3.000km e percurso secreto o navegador tinha mapas e o piloto umas pequenas setas de cartão que com a sua inclinação diziam se a curva era aberta ou apertada. “And the drivers had balls the size of coconuts”. As equipas inscreviam os pilotos em provas dos campeonatos nacionais, de forma a eles ficarem rodados nas estradas. e permitia aos pilotos locais… Ler mais »

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