Adruzilo Lopes faz 60 anos: “Muitos parabéns, feliz aniversário, e obrigado pelo que fazes pelos ralis…”

Por a 16 Outubro 2022 12:17

Completa hoje 60 belas primaveras um dos melhores pilotos de sempre do desporto motorizado português, ralis em particular, Adruzilo Lopes. Nasceu a 16 de Outubro de 1962 em Regilde, Felgueiras. No seu historial contam-se 3 títulos de campeão nacional de ralis (1997, 1998, 2001) e 2 de campeão nacional F2, entre vários outros.

Há oito anos, entrevistámos José Carlos Macedo que nos disse uma coisa que define bem quem ainda é Adruzilo Lopes, mesmo aos 60 anos: “o Adruzilo Lopes obrigava-me a andar a 110%”.

A Macedo, e a muitos outros. Até hoje!

No seu extenso palmarés é verdade que se destacam os três títulos de campeão absoluto, em 1997, 1998 e 2001, mas também um vice-campeonato da Europa (2001), sempre com a Peugeot. Ao todo, venceu 21 ralis à geral no campeonato nacional.

Mais recentemente, a ligação à ARC Sport rendeu-lhe ainda dois títulos no Agrupamento de Produção, além de uma passagem pelo todo-o-terreno. Curiosamente foi na velocidade que se iniciou na competição, em 1987, com um Toyota Corolla. Só depois viria a despontar nos ralis ao vencer por duas vezes o Troféu Citroën AX, em 1992 e 1993.

Atualmente, aos 60 anos, continua a fazer ralis e pode ser este ano novamente campeão, agora nos Promo, com a Domingos Sport.

Palmarés:

• Piloto Oficial Citroen Portugal e Peugeot Portugal

• Tri-campeão nacional Absoluto de ralis Portugal 1997/98/01

• Campeão nacional F2 96/97/98

• Campeão nacional Agrupamento de produção 2008/09

• Campeão nacional CPR2 2010

• Campeão Portugal GT 2016

• Campeão Portugal Norte 2021

• Campeão Taça FPAK 2000

• Título à Classe: P3/Norte 2021; RC2N/Portugal 2015; RC2N/Portugal 2014; A/N 1601 – 2000 / Diesel/Portugal 2010; A/N 1601 – 2000 / Diesel/Portugal 2L/2RM 2010

• Piloto Português melhor classificado de sempre no Rali Monte Carlo(98),integrado na equipa Oficial Peugeot Sport

• Vencedor do Trofeu Tomas Melo Breyner By Nissan 2006

• Vice Campeão Europeu 2001 Ralis

• Campeão Europeu Oeste 2001 Ralis

• Vice campeão Nacional agrupamento Produção 2013

• 6 vitorias consecutivas no rali Dota do Sol (Camp da Europa Ralis)

• Vitoria absoluta no Rali Vinho Madeira 2001

• 22 vitórias Absolutas

Momentos:

Adruzilo Lopes: português voador

Adruzilo Lopes tem também uma passagem pelo Rali da Finlândia no seu longo currículo de ralis. Foi em 1999, quando com Luís Lisboa, participou no Mitsubishi Lancer Evo V, inscrito no Grupo N. Habituado a vencer em Portugal, o piloto de Vizela deparou-se com a dura realidade da falta de experiência nos troços finlandeses e não foi além do 43º lugar. Como melhor registo deixou um 31º tempo obtido no terceira passagem pela Super Especial de Hippos, na segunda etapa.

“Este gajo é maluco…”

Jorge Cunha, contou-nos um dia uma história da participação de Adruzilo Lopes em 1998 com o Peugeot 306 Maxi no Rali de Monte Carlo: “Uns dias antes ele foi testar com a Peugeot Sport, mas só conseguiu andar mesmo no fim do teste, só uma volta para sentir o carro, e o engenheiro que foi com ele avisou-o que a estrada já podia estar aberta, mas o Adruzilo não falava francês, e disse ‘oui’ sem perceber nada. Claro está que foi a abrir, e o engenheiro apanhou um grande cagaço, pois sabia que a estrada já podia estar aberta. No final, quando chegou a assistência dizia que este gajo é maluco…”

‘Estórias’ de Adruzilo Lopes

Ou começas a andar mais devagar, ou fico já aqui!’

“Histórias sobre o Rali de Portugal, passadas no Rali de Portugal, tenho muitas. Podíamos ficar aqui a tarde toda a conversas que não falava delas todas! Mas, assim de repente, lembrei-me de quatro situações que, penso eu, são curiosas.

A primeira foi logo no meu primeiro Rali de Portugal [1988], que fiz com o Toyota [Corolla GT] com que tinha feito o troféu [de Velocidade], no ano anterior. Nessa prova, levei comigo o meu irmão Vítor [Lopes] como navegador. Lá fui andando, ao meu ritmo e, quando chegámos a Fafe, ele virou-se para mim e disse-me: ‘Ou começas a andar mais devagar, ou fico já aqui!’ Nessa altura, ainda não existiam parques de assistência, que eram feitas à beira da estrada. Então, quando foi a altura de sair para o troço seguinte, que era Rossas, eu não fui de modas e arranquei para a estrada sozinho no carro, sem o meu irmão. Mas lá comecei a refletir melhor e pensei que não me iriam deixar entrar no troço sozinho. Por isso, virei para trás e fui buscar o meu irmão, que só aceitou voltar a sentar-se a meu lado depois de eu lhe prometer que iria passar a andar mais devagar.

Claro que não fiz nada disso e, como tinha o nº 87, era obrigado a passar três ou quatro carros, por troço, sempre no meio do pó. Acabei a prova em 18º da geral, como melhor estreante… Mas não foi nada fácil, com aquele carro, que não tinha recebido nenhuma preparação especial e estava tal como tinha feito o troféu no ano anterior. De tal forma que, na última etapa, que ligava Viseu ao Estoril, o carro estava preso por arames. E quando digo arames, eram mesmo arames, que uniam a parte da frente à parte de trás. E era uma coisa impressionante, pois o chassis estava partido em dois e a frente passava o tempo a ‘flutuar’ sozinha!

A curva do Macedo…sem notas

A segunda história passou-se no meu primeiro ano no Troféu [Citroën] AX [GTi, 1992]. Saí de Ponte de Lima, para ir para [os troços de] São Lourenço e Orbacém e, a meio da ligação, o meu navegador, que era o António Abreu, virou-se para mim e disse-me que não tinha as notas dos troços. Então, pelo rádio pedi ao [João] Anjos – eu andava com o carro dele – para nos ir levar as notas ao princípio do troço, mas ele disse que já não havia tempo e então decidimos partir mesmo sem notas. No início do troço, existia uma parte em que o público estava todo de um lado e o Abreu, para as pessoas não perceberem que ele estava sem notas, pegou num caderno e pô-lo nos joelhos, como se estivesse a ditar.

Irritado, atirei-lhe o caderno para o chão do carro, mas ele conseguiu chegar ao caderno e voltou a pô-lo no colo e eu voltei a atirá-lo ao chão. Isso foi no ano em que, no Sopete, o [José Carlos] Macedo teve um grande acidente, na zona do Cerquido. Então, na parte final do troço, o Abreu, com o ‘stress’, só dizia ‘Esta é a curva do Macedo, esta é a curva do Macedo’. Eu passava e ele dizia: ‘Não, não era esta, é esta agora!’ ‘Esta é que é a curva do Macedo’ A certa altura, eu, farto de ouvir aquilo, disse-lhe que, se ele não sabia qual era a curva do Macedo, então o melhor era calar-se de vez. E ele calou-se… e lá passámos, a fundo, a curva do Macedo, que ele sabia qual era, é verdade, mas desde que tivesse as notas consigo!

‘Agora, vou ‘dar-te’ três minutos!’

Em 1998, com o [Peugeot] 306 Maxi, eu estava à frente, no ano em que veio a equipa oficial da SEAT, com o [Harri] Rovanpera e o Oriol [Gómez]. Saímos da assistência, em Amarante, em direção a Viseu, para o troço de Vila Nova de Paiva, um troço longo e muito duro, junto ao aeródromo e que o Rovanpera já tinha ganho. Antes da partida, cheguei à beira dele e disse-lhe: ‘Agora, vou ‘dar-te’ três minutos!’ Então, ele arrancou feito louco… mas, logo a seguir, mesmo antes de eu partir, o troço foi neutralizado e, nas calmas, segui até ao final. E lá esteve o Rovanpera, à minha espera, furioso.

Mal cheguei, foi ao pé de mim e disse-me logo: ‘Fizeste de propósito! Tu já sabias que o troço ia ser neutralizado! E eu vim por aqui fora, todo doido, a partir o carro todo e tu vieste atrás de mim, a poupar o teu!’ Claro que isso não era verdade, eu não sabia de nada, tive foi sorte de [o troço] ter sido neutralizado antes de eu partir.

Banho de pó ao Colin McRae

A outra história passou-se talvez nesse ano, ou no seguinte, 1999. Ainda estava com o [Peugeot] 306 Maxi. Nos reconhecimentos de Arganil, estávamos todos parados, em fila, antes do troço, à espera que o pó baixasse, para arrancarmos. Então, apareceu o Colin McRae que, sem se deter, passou por nós que nem uma flecha e seguiu troço fora, como se não fosse nada com ele. Eu não gostei daquilo e fui atrás dele. Só que ele estava com um Subaru Impreza e eu com um [Peugeot] 306 GTi e, quando cheguei ao final do troço, já ele lá estava, sentado a almoçar com os mecânicos, Enraivecido, dei-lhe um banho de pó e parei. Então, ele veio ter comigo, todo chateado, a clamar que era uma falta de respeito, isto e mais aquilo. Eu perguntei-lhe o que ele achava que tinha feito lá atrás, se isso não uma falta de respeito, passar pelos outros pilotos todos. A resposta dele foi que não havia nenhuma razão para estarmos lá parados… Depois disso, fizemos mais alguns ralis juntos, mas nunca mais lhe falei. Ao contrário do irmão [Alastair McRae], que estava nesse ano na Hyundai e que era cinco estrelas… e com quem falei sempre.»

Circo de Feras com Panizzi e Delecour

Entre as centenas de ralis que disputou ao longo da sua carreira, nenhum marcou tanto Adruzilo Lopes como o Monte Carlo em 1998, disputado com oPeugeot 306 Maxi oficial.

À semelhança de muitos outros, Adruzilo Lopes não tem dúvidas: “É o rali mais difícil do Mundo. Só participei uma vez em Monte Carlo mas trouxe ‘milhões’ de coisas para contar.” A primeira foi o facto de ter integrado a equipa oficial da Peugeot, liderada por Jean-Pierre Nicholas e que inscrevia na altura os espetaculares 306 Maxi. Como pilotos oficiais, a dupla francesa Gilles Panizzi e François Delecour, que já aí protagonizaram uma intensa e visceral rivalidade que Adruzilo pôde acompanhar na ‘primeira fila’. “Aquilo chegava mesmo a ‘chispar’”, conta o piloto de Regilde.

“Nesse ano a FIA acabou com os reconhecimentos livres e introduziu três passagens antes de cada troço. Só que o Delecour soube que o Panizzi fazia reconhecimentos ilegais… e o Panizzi acusava-o do mesmo. Nós ficávamos todos no mesmo hotel mas depois de saber aquilo, o Delecour, com o feitio que todos conhecemos, tornou-se insuportável.” As coisas haveriam mesmo de extremar-se dois anos depois, no Rali de San Remo, quando Delecour foi filmado de cabeça perdida a interromper uma reunião entre Nicolas e Panizzi, com o patrão da Peugeot a pedir-lhe para sair dali e Delecour mais tarde a desfazer-se em lágrimas na TV por ser alegadamente preterido face ao compatriota.

“Mas Monte Carlo é realmente incrível pelas mudanças no estado do piso durante o mesmo rali, até durante o mesmo troço”, conta Adruzilo.“ Com apenas três passagens nos reconhecimentos – quando as conseguíamos fazer todas! – eu estava perdido sobre as melhores escolhas de pneus. O Jean-Pierre veio ter comigo e perguntou-me que pneus eu queria. ‘Sei lá, não faço a mínima! Por mim levo os mesmos do Delecour’, respondi. Ele disse, ‘Lopes, então vamos apostar no joker. Levas pneus diferentes dos deles. Se acertarmos vais fazer um tempo-canhão, se não acertarmos vais penar como nunca pensaste na vida. E foi assim que parti para o troço do Turini com pneus ‘slicks’.

No início do troço, tinha de ir com calma para não derreter os pneus. A meio do troço, com gelo e neve, ia ‘parado’. Só depois de passar o Col duTurini, nos últimos 8 quilómetros, a descer, é que pude atacar. Mas era a loucura…”, conta.

“Apanhava mais sustos a andar a 20 km/h sobre o gelo, com ravinas de 300 metros ali ao lado, do que a 200 km/h a fundo no asfalto seco!”.

100 metros em marcha-atrás

Outro episódio para mais tarde recordar “foi quando perdi três minutos num troço onde fiz um pião. Aquilo era tão estreito que não tinha espaço para dar a volta e regressar ao sentido do troço! Devia ser algo tão normal ali que de repente vejo um miúdo a correr em direção ao carro e a gesticular para o seguirmos. Andamos para aí 100 metros em sentido contrário e o miúdo lá nos mostrou uma pequena entrada onde tínhamos espaço para dar a volta!”. Mas foi na última classificativa que Adruzilo e o navegador Luís Lisboa perceberam o valor da experiência no Monte Carlo. “Não tínhamos nem a noção de como usar os batedores. Quando estávamos parados na entrada para o último troço, numa estância de inverno, começamos a ouvir as comunicações dos batedores da Peugeot para o Delecour. Eles descreviam tudo ao detalhe, tipo ‘Naquela reta de 200 metros tens gelo a começar aos 180 metros, até podes ir a fundo, depois do gelo a travagem está boa’, e assim sucessivamente, em cada parte de cada troço. Quando ouvimos aquele nível de detalhe, eu e o Luís viramo-nos um para o outro e dissemos ‘Somos mesmo ‘patinhos’…”. Ah, e o resultado final? Um quarto lugar entre os duas rodas motrizes (Panizzi foi o primeiro na frente de Delecour e do SEAT de Rovanpera), e o 12º à geral num rali ganho pelo Toyota Corolla WRC de Carlos Sainz.

Adruzilo o único (verdadeiro) oficial

Se se considerar que a equipa WRC Team MINI Portugal era uma equipa oficial muito peculiar, mais no papel do que em termos práticos, poder-se-á dizer que o único piloto português de ralis que realmente disputou provas integrado numa formação oficial foi Adruzilo Lopes.

Em 1998, a equipa Peugeot Sport chamou o piloto de Vizela para disputar o Rali de Monte Carlo, ao lado de Gilles Panizzi e François Delecour no 306 Maxi, que o piloto terminou em 12º lugar. É Luís Lisboa, então o seu navegador, que explica como tudo se passou: “o Jean Pierre Nicolas, o diretor de equipa, convidou o Adruzilo porque se revia nele quando era jovem: um piloto que guiava muito e falava pouco! Quis dar ao Adruzilo esse reconhecimento e também à Peugeot Portugal por ser o melhor cliente da Peugeot Sport”. Mas este é também um bom exemplo da dura realidade que é ter um passaporte português: “o Adruzilo sabia que independentemente do resultado alcançado, não defenderia mais as cores da Peugeot oficial pois o Nicolas foi peremtório: Portugal vende o mesmo número de carros num mês que França numa semana pelo que se precisar de um terceiro piloto não será um português!” , relembra Lisboa.

Tal como diz o Adruzilo, podíamos ficar aqui dias a relembrar histórias.

Muitos parabéns, feliz aniversário, o obrigado pelo que sempre fizeste pelos ralis

Caro leitor, esta é uma mensagem importante.
Já não é mais possível o Autosport continuar a disponibilizar todos os seus artigos gratuitamente.
Para que os leitores possam contribuir para a existência e evolução da qualidade do seu site preferido, criámos o Clube Autosport com inúmeras vantagens e descontos que permitirá a cada membro aceder a todos os artigos do site Autosport e ainda recuperar (varias vezes) o custo de ser membro.
Os membros do Clube Autosport receberão um cartão de membro com validade de 1 ano, que apresentarão junto das empresas parceiras como identificação.
Lista de Vantagens:
-Acesso a todos os conteúdos no site Autosport sem ter que ver a publicidade
-Oferta de um carro telecomandado da Shell Motorsport Collection (promoção de lançamento)
-Desconto nos combustíveis Shell
-Acesso a seguros especialmente desenvolvidos pela Vitorinos seguros a preços imbatíveis
-Descontos em oficinas, lojas e serviços auto
-Acesso exclusivo a eventos especialmente organizados para membros
Saiba mais AQUI
Subscribe
Notify of
2 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
FRL
FRL
1 ano atrás

TOP!!

christopher-shean
christopher-shean
1 ano atrás

Muitos Parabéns! (Belo artigo)

últimas Ralis
últimas Autosport
ralis
últimas Automais
ralis
Ativar notificações? Sim Não, obrigado