Robert Kubica volta a um F1 seis anos depois

Por a 5 Junho 2017 17:10

Robert Kubica vai fazer o seu primeiro teste com um Fórmula 1, desde 2011, quando pilotar amanhã, em Valência, um Lotus de 2012. O piloto polaco pilotou pela última vez um Fórmula 1, em fevereiro de 2011, precisamente em Valência, poucos dias antes do acidente em Andorra, que quase acabou com a sua carreira do piloto.

Depois de fazer uma tentativa de voltar aos circuitos, o ano passado, Kubica tem testado vários carros nos últimos tempos, incluindo do GP3, da Fórmula E e o LMP2 Dallara da SMP Racing. Esteve quase ainda para fazer parte do WEC, com a ByKolles LMP1, mas acabou por não avançar no último momento em Silverstone. Amanhã ele vai juntar-se a Sergey Sirotkin para o seu primeiro teste em mais de seis anos, numa demonstração da Renault, um Lotus E20 de 2012.

Recordamos aqui excertos duma entrevista que deu em 2015 e que mostra muito do que pensa:

Lembro-me de uma entrevista há muito tempo em que te perguntaram se eras mais polaco ou italiano. Respondeste que eras um piloto de corridas. E agora, és mais um piloto de circuitos ou um piloto de ralis?

Robert Kubica: Sou um piloto de automóveis. Foi assim que cresci. Não conseguimos apagar algo que fizemos durante 20 anos. O meu objetivo foi sempre ser um piloto melhor, mas as duas modalidades são tão diferentes que tens de desenvolver certas características e predisposição ao volante para cada uma delas.

Então és um piloto de automóveis que faz ralis. Quais são as diferenças entre os dois mundos? Não me refiro a diferenças desportivas, essas são claras. Mas como é, por exemplo, o ambiente nos ralis?

É bem mais relaxado do que nos circuitos. Acredito que isso se deve ao formato dos fins-de-semana e à competição propriamente dita. Num circuito tudo é operado no paddock e cada equipa está a trabalhar, digamos assim, no seu ‘território’: a sua box, as motorhomes, os camiões. Ficas nesta área e quase nunca sais dali durante o fim-de-semana. Quando o fazes é para teres um briefing com a FIA ou o diretor de prova. Na maior parte das vezes, os pilotos só se vêem no hotel mas aí queres é descansar.

Nos ralis há muito tempo ‘livre’. Por exemplo, nós fazemos uma ligação e quando chegamos ao início da especial, às vezes temos 20-30 minutos de espera. Então tu sentas-te a olhar para o céu ou então começas a conversar com alguém. O ambiente é mais relaxado e há maior interação entre os pilotos.

Gostas desse ambiente? Nos ralis pareces sorrir mais do que o fazias nos circuitos…

Nos circuitos eu estava em trabalho e neste momento nos ralis ainda não me sinto ‘em trabalho’. Nem toda a gente entende que eu não encaro a minha vida nos ralis da mesma forma que encarava a minha vida na Fórmula 1. Eu ainda não estou pronto, ainda não atingi o nível que me permita encarar os ralis da mesma forma… o que não quer dizer que os ralis sejam um hobby para mim. Simplesmente a abordagem é diferente e devemos saber o nosso lugar. Em 2007, na minha segunda época na Fórmula 1, eu tinha uma abordagem psicológica diferente e prioridades diferentes do que tenho na minha segunda época no WRC.

O teu objetivo atual para a tua carreira é diferente daquele que tinhas em 2011 (ndr, logo após o grave acidente em Itália)?

A questão é se terei tempo de atingir o meu objetivo inicial, isso também é um risco. Atualmente, tenho limitações que não me permitem guiar um Fórmula 1 em todos os circuitos. Não quer dizer que não o conseguisse – acredito que conseguiria guiar em quase todas as pistas mas a questão é sempre o objetivo que colocas a ti próprio. Se o objetivo for voltar ao nível de pilotagem que eu tinha antes, não vou conseguir. Duas das minhas três últimas épocas na Fórmula 1 foram excelentes…

2008 e 2010?

Sim, essas foram as épocas em que atingi o pico das minhas capacidades. E não é apenas isso. Entras numa espécie de transe, em que tudo corre bem. Mesmo que não corra, estás tão confiante que nem te apercebes porque sabes que o que fizeres a seguir vai resultar. E isso é crucial. A auto-confiança e o pensamento positivo são os factores que realmente te permitem chegar ao topo das tuas capacidades e pilotares ao mais alto nível.

Claro que é tudo um pouco ilusório porque o automobilismo não é um desporto individual. Há a máquina, há as equipas, há um grupo enorme de pessoas que trabalham contigo, há imensa tecnologia… E quanto mais pessoas e mais tecnologia, menor é a influência que tu tens. Mas às vezes parece que o próprio carro é parte daquele ‘transe’. Claro que na prática é apenas uma máquina mas a situação do Vettel é um bom exemplo. Durante quatro anos tudo lhe correu de feição, nada lhe acontecia mesmo se o carro dele levasse um toque. Agora não consegue terminar uma corrida sem problemas. É por isso que eu acho que 2008 e 2010 foram as minhas melhores épocas na Fórmula 1, pela conjugação de todos os fatores.

Antes do acidente em 2011 tu dominavas as circunstâncias quase por completo, fazias aquilo que mais gostavas. Agora estás limitado pelo problema na tua mão. Quão difícil é lidar com essa nova realidade da tua vida?

Digamos que os ralis me ajudam imenso porque exigem muito tempo e trabalho. Acho que não há nada pior do que ficar em casa e pensar no que poderia ter sido, e felizmente os ralis deixam-me pouco tempo para isso. Claro que sinto falta da Fórmula 1, não o posso esconder. Daria tudo para poder voltar a competir como antes, mas a realidade é diferente e há que seguir em frente. Há coisas que estão fora do meu controlo e é difícil estar à espera de algo que não podes controlar. É por isso que decidi dar outro rumo à minha carreira e ver os resultados que virão daqui.

Há quem diga que os teus acidentes e problemas nos ralis podem ser, em parte, causados pelas limitações na tua mão…

Sim, eu concordo. Trata-se sobretudo da capacidade de reagir ao imprevisto e de salvar uma situação. Principalmente na terra, onde isto não se aplica só a situações de emergência mas por exemplo quando estamos a guiar num rego e o carro subitamente salta do trilho. Digamos que na terra o raio operacional de uma curva é muito longo quando comparado com o de um circuito ou de um troço de asfalto.

Num circuito é mais fácil porque é tudo mais previsível. Tu rodas menos o volante, os movimentos são mais subtis, e o raio de uma curva também é menor. Num troço de terra é tudo multiplicado por dez e isso torna tudo menos previsível. Acredito que teria sido possível evitar alguns dos meus acidentes nos ralis se pudesse guiar sem limitações e evitar parar o carro. Infelizmente, tenho de ter noção das minhas limitações e sei que atingir os meus objetivos será muito mais difícil.

As pessoas que se riem ao verem mais um acidente do Kubica na internet não se apercebem disso…

Simplesmente não leio essas coisas, é a melhor cura… Normalmente aprendemos através de erros e mesmo se eu acho que no desporto motorizado não há azares, há momentos em que tens sorte e outros em que não tens. Os ralis podem dar-te uma enorme satisfação pessoal mas também são implacáveis, podem ser ingratos. Talvez seja por isso que é um desporto popular mas o espectador em casa nunca conseguirá perceber verdadeiramente estas coisas se nunca tiver corrido num rali.

Vês a Fórmula 1 hoje em dia? O que achas do som dos novos motores?

Sim, vejo às vezes. E soam mal. O Thierry Neuville vive em Monte Carlo relativamente perto do circuito e ele disse-me que quando os Fórmula 1 estavam em pista ele não ouvia nada; quando os GP2 saíam para a pista era outra coisa. Os pneus a chiarem fazem-me lembrar aqueles karts de aluguer em pistas indoor.

 

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2 Comentários
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MiguelCosta
MiguelCosta
6 anos atrás

Grande piloto, fez falta à F1. Talvez o mais espetacular dos últimos 20 anos a par do Kobayashi.

Kimi Iceman
Kimi Iceman
6 anos atrás

Uns treininhos e ainda vai a tempo de substituir o Palmer 😆
Alguém falsifique uma super licença e está feito.

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