MEMÓRIA: A (outra) cena de pugilato mais famosa da F1, Irvine X Senna


A primeira foi, em 1982, no GP da Alemanha, quando um irritadíssimo Nelson Piquet – que tinha sido colocado fora da corrida, que liderava por um retardatário, que estava a dobrar – se atirou contra um esgazeado e surpreso Eliseo Salazar (o infeliz retardatário), dando-lhe repetidos socos no capacete e empurrando-o várias vezes, até serem separados pelos comissários no local.

A segunda, aconteceu nas boxes de Suzuka, já depois da corrida japonesa, 11 anos mais tarde. E teve como intervenientes Ayrton Senna e um desbocado e estouvado estreante, chamado Eddie Irvine.

Personagem controverso e pouco dado a conveniências ou atitudes subservientes, Irvine foi convidado pelo seu conterrâneo Eddie Jordan para pilotar o Jordan 193/ Hart V10 nº 15, que nesse ano já tinha sido conduzido sucessivamente por Ivan Capelli, Thierry Boutsen, Marco Apicella e Emanuele Naspetti, nas duas últimas corridas da temporada. O seu colega de equipa era Rubens Barrichello, em início de carreira. Bom conhecedor de Suzuka, porque estava há dois anos a correr na F3000 japonesa, Irvine fez a oitava melhor marca nos treinos. Na partida, subiu três lugares, chegando em quinto à primeira travagem depois de andar com duas rodas pela relva, sem medos ou melindres. Mas, logo a seguir, foi posto no seu lugar por Michael Schumacher (Benetton), que tinha feito uma má partida, e por Damon Hill (Williams).

Desde o arranque, a Ayrton Senna e Alain Prost estiveram em luta pela liderança, que continuou mesmo depois da primeira paragem nas boxes e de começar a chover. Senna, com pneus para chuva. dobrou Irvine, que estava em luta pelo quinto lugar com Hill, que tinha slicks. O brasileiro aproximou-se então do Williams e, quando estava a procurar a melhor forma de o passar sem levar com ele em cima, foi surpreendido por uma atrevida manobra de Irvine, que quis desdobrar-se à força toda, em plena cuva Degner. Ninguém se tocou, mas a manobra deixou Senna muito irritado.

Depois da corrida acabar – com Irvine a pontuar logo na sua prova de estreia, coisa que já não sucedia desde que Jean Alesi tinha sido 4º em França, no ano de 1989 – Senna dirigiu-se às boxes da Jordan, acompanhado por Norman Howell, diretor de Comunicações da McLaren e Georgio Ascanelli, o engenheiro de Senna. Irvine estava na zona reservada da equipa, sentado a uma mesa, sozinho. No local, estavam também Barrichello e os outros membros da Jordan… precisamente a assistir a um replay do que sucedera entre Irvine e Senna. Este, quando entrou na sala, não reconheceu Irvine, que pressurosamente o chamou com um gesto. O diálogo entre ambos foi curto e grosso, com berros, vozes alteradas e muitos palavrões, em especial por parte do brasileiro que, de cabeça perdida, chamou várias vezes o irlandês de “fucking idiot”. Este, com uma calma e uma ingenuidade olímpicas, foi-se desculpando pelo incidente, deitando as culpas em Hill e, depois, o próprio Senna, acusando-o de ser o culpado… por não estar a ser suficientemente rápido!

Mas o copo de água transbordou quando Irvine, sem medos ou complexos de inferioridade, terá ameaçado Senna, dizendo repetidamente “vejo-te em pista”. O campeão do Mundo, que já se estava a afastar, voltou-se de repente para trás e, com a mão esquerda, pegou um valente soco na parte direita da cara de Irvine que, surpreendido e desequilibrado, caiu redondo no chão. A… cena não foi mas longe, porque Senna foi afastado do estirado piloto, que berrava que o ia processar e encaminhado para fora das boxes. Mas Eddie Irvine não se emendou com a troca de mimos em Suzuka – onde, para lá de se envolver com Senna, tentou atirar por várias vezes para fora da pista Damon Hill, tendo sucesso nestes propósitos quase no final da prova, mas com Derek Warwick!

A sua irreverência continuou bem ativa e, em 1994, logo na primeira prova, o GP do Brasil, provocou um acidente múltiplo, que envolveu também o Benetton de Jos Verstappen, o Ligier de Éric Bernard e o McLaren de Martin Brundle. Altamente irritada com a desfaçatez do novato, a FIA resolveu castigar Irvine com três GP de suspensão. Depois disso, apareceu bastante mais calmo e relaxado e não se envolveu mais em problemas ao longo da sua carreira na F1.

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