Fórmula 1: O porquê de o Mónaco ter o seu lugar especial

Por a 20 Maio 2022 09:15

É já uma tradição todos os anos, a existência do Grande Prémio do Mónaco é questionada, havendo quem assuma que a prova de Monte Carlo já não tem lugar no Campeonato do Mundo de Fórmula 1. Mas a corrida monegasca tem vindo a manter-se e existem inúmeras razões para que tal aconteça.

A palavra certa para o circuito de Monte Carlo é anacronismo…

A pista é exígua, estreita e cravejada de curvas lentas que impedem as actuais bestas de Fórmula 1 de se aproximarem sequer do toda a performance que colocam ao dispor dos seus pilotos.

As condições, sobretudo para as competições de apoio, são péssimas, trabalhando algumas equipas em parques de estacionamento subterrâneos – à semelhança do que ocorre em Macau – o que exige um esforço suplementar aos mecânicos, que têm um ambiente difícil, com temperaturas elevadas e pouco ar fresco.

O trânsito é horrível, criando contrariedades a todos os envolvidos no Grande Prémio. Há até quem conte que um piloto português teve de se equipar na pré-grelha depois de filas intermináveis o deixarem em risco de não participar na sua corrida – que não era a de Fórmula 1.

O risco de ter contas onerosas são elevadíssimos, colocando pressão nos orçamentos das equipas e não é um caso virgem jovens pilotos verem os seus budgets levarem pesadas machadadas que os impedem de concluir a temporada. Ou de equipas de Fórmula 1 ficarem no risco no que diz respeito a peças suplentes.

Como se percebe, são muito os motivos que levam a que todos os anos o Grande Prémio do Mónaco seja colocado em causa, até porque o ACM, o clube organizador, é o que menos paga para ter uma prova de Fórmula 1, havendo quem garanta que não coloca um cêntimo nos cofres da Formula One Group (FOG).

Claro que os homens da organização comercial que gere a categoria máxima do desporto automóvel não veem esta situação de bom grado e desejariam alterá-la e obrigar os monegascos a desembolsar uma quantia considerável para terem uma prova e, talvez por isso, todos anos surge o tema.

Este ano acresce que o ACM não tem contrato para além de 2022 e, como seria de esperar, subitamente, começaram a surgir notícias que asseguravam que a Fórmula 1 não precisa do Mónaco, apontando as provas citadinas que actualmente se realizam em Miami, Singapura e Las Vegas, que será adicionada ao calendário no próximo ano, podem garantir à categoria máxima o glamour e a exclusividade até agora assegurada pela corrida de Monte Carlo.

Porém, qualquer uma destes novos Grandes Prémios não têm algo que o do Mónaco tem e continuará a ter – história e tradição.

A pista de Monte Carlos foi sofrendo algumas alterações ao longo desde que foi criada em 1929, mas na sua maior parte está imutável desde então, sendo uma constante ao longo da história da Fórmula 1 e um cenário por onde passaram todos os grandes campeões desde 1950 e mesmo antes disso.

São poucos os circuitos por onde passaram nomes como Nuvolari, Fangio, Clark, Stewart, Lauda, Prost, Senna, Schumacher, Alonso, Hamilton, etc. Para além do Mónaco, apenas Monza goza do mesmo estatuto.

Um circuito como o Mónaco é uma passagem para que se possam comparar os grandes nomes da Fórmula 1, uma vez que o seu traçado continua a exigir grande precisão, talento e consistência, independentemente das eras.

O traçado em si é um desfilar de curvas e zonas que fazem vibrar qualquer fã ou piloto, fazendo nomes como Sainte Dévote, Casino, Mirabeau, Túnel, Piscinas, La Rascasse parte do folclore do automobilismo e remetendo para acontecimentos que marcaram provas do passado.

O traçado dá-nos diversas vezes procissões dominicais, mas mesmo quando isso acontece, a natureza do circuito deixa-nos na expectativa de algo acontecer que possa ser uma fonte de drama, uma vez que qualquer erro é pago com um conhecimento aprofundado dos rails, podendo virar qualquer corrida do avesso.

Ao longo da história são muitos os episódios, basta recordar as vitórias de Daniel Ricciardo em 2018, de Ayrton Senna em 1992, a de Olivier Panis em 1996 ou de Ricardo Patrese em 1982, entre outras.

Depois há pompa que é característica do Mónaco…

Em quantos Grandes Prémios é um príncipe que entrega o prémio ao vencedor?

Se em Miami vimos a “realeza pop” – actores, cantores, desportistas, “influencers” – em Monte Carlo a realeza tem de facto sangue azul, algo raro de observar em outros eventos da Fórmula 1.

São estas tradições e características únicas que ajudam a tornar a Fórmula 1 em algo de especial e distinto de qualquer outro campeonato de automobilismo. Se começamos a desvalorizar este capital e a normalizar cada um dos eventos, perdemos aquele cunho que separa o mundo dos Grandes Prémios dos restantes. Miami tem o seu espaço, com a sua festa espalhafatosa, assim como o Mónaco, um evento de desmesura, mas muito mais sofisticado e com uma verdadeira marina…

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