F1: Será o momento para “Grandes Prémios de reserva”?

Por a 26 Fevereiro 2020 14:10

Por Jorge Girão

O Campeonato do Mundo de Fórmula 1 de 2020 tem previstas vinte e duas provas, o mais longo de sempre, mas corre o risco de ficar sem dois Grandes Prémios (se não mais) devido à crise do Coronavírus, não tendo um verdadeiro plano de contingência que garanta o número de corridas planeadas. Algo estranho para um desporto em que a preparação é meio caminho andado para o sucesso.

O vírus que tem afetado a China, a segunda maior economia do mundo, terá um impacto económico global, muitas a companhias viram as suas linhas produção diminuírem a sua capacidade, tendo a Apple já afirmado que espera um prejuízo de cerca de sete mil milhões de euros devido à epidemia.

Muito embora a Fórmula 1 por vezes sinta estar imune ao mundo que a rodeia, o COVID-19 teve já impacto no seu calendário, tendo o Grande Prémio da China, previsto para 19 de abril, sido adiado, ao passo que a prova do Vietname continua em risco, apesar de todos os responsáveis afirmarem que estão prontos para que a prova aconteça. Até o Bahrein já dá sinais de poder haver ‘crise’.

Subitamente, a temporada poderá perder várias corridas, e as soluções que se apresentam à FOM e à FIA não são muitas.

Nos últimos dias tem sido aventada a possibilidade da prova de Xangai ser realizada entre os Grandes Prémios do Brasil e de Abu Dhabi, o que obrigaria o “Grande Circo” a viajar entre três continentes ao longo de três semanas, colocando forte pressão sobre a logística das equipas, muito embora esteja a ser contemplada a hipótese de o fim-de-semana chinês ter apenas dois dias para facilitar todo o procedimento.

No entanto, para que isto aconteça, é necessário que as equipas aceitem unanimemente esta solução, o que não é uma situação líquida, muito embora lhes permita fortalecer os respetivos cofres.

Mas se o Grande Prémio do Vietname for adiado, muito dificilmente poderá ser encontrada uma solução para a prova de Hanoi, dada a profunda compressão do calendário após o verão – serão realizadas nove corridas em treze fins-de-semana.

Num desporto em que a preparação é tudo e em que tudo é previsto, a FOM parece não estar bem preparada para a eventualidade de ver uma das suas provas canceladas, olhando para uma possibilidade destas como uma fatalidade e sem capacidade de reação.

O Campeonato do Mundo de Ralis vive uma situação de algum modo diferente, já que se no caso da Fórmula 1, ou da Fórmula E, quando se adia uma prova de F1 ou anula a de Fórmula E (Sanya), não há forma das substituir com facilidade e a tempo, mas no caso dos ralis isso é um pouco diferente. Logicamente que são sempre precisos alguns meses de antecipação, pois se assim não fosse teria havido substituto para o Rali do Chile, que foi anulado em dezembro, quando a prova se realizaria apenas em abril. Mas o calendário do WRC ficou reduzido a 13 provas, por causa dessa ausência em 2020.

Contudo, e ao contrário da Fórmula 1, uma prova do WRC que não se realiza num ano, há várias outras que podem aproveitar facilmente esse ‘slot’, porque todas elas, num campeonato ou noutro, se realizam. Claro que seriam sempre necessários ajustes, mas o que não falta são provas que podem ser incluídas no calendário com alguma facilidade. Reforçamos que seria sempre necessário, pelo menos, alguns meses para isso suceder. Por exemplo, se o Rali do Chile tivesse sido anulado um pouco mais cedo, não haveria necessidade de Espanha ficar de fora em 2020, e mesmo com alguns reajustes seria possível manter as 14 provas. Ou mesmo a Córsega, que se disputou em 2019 e não vai ter lugar este ano. O caso do WRC é bem diferente da F1, pois é bem mais fácil haver um substituto que bem depressa fica pronto para avançar.

O Circuito Enzo e Dino Ferrari já mostrou interesse em ficar com a data do Grande Prémio da China, muito embora a logística para colocar de pé uma corrida de Fórmula 1 no dia 19 de abril seja muito apertada, não havendo tempo para realizar uma venda estruturada de bilhetes.

Mas como em tudo na vida, tudo se arranja pelo preço certo – com um ‘fee’ exigido pela FOM mais baixo, ao invés dos mais de trinta milhões de euros por Grande Prémio, Imola voltaria ao calendário no lugar de Xangai.

A crise do Coronavírus evidenciou que a Fórmula 1 está exposta a problemas que lhe são exteriores, mas que podem ter um impacto no seu calendário, sendo talvez o momento de serem equacionadas provas de reserva.

Teriam de ser organizadores capazes de edificar um Grande Prémio num curto prazo de tempo e num país que, naturalmente, enchesse um circuito, de preferência num que não fosse ainda contemplado pelo calendário.

Por outro lado, as exigências financeiras teriam de ser substancialmente menores, dado que organizar um Grande Prémio em poucas semanas é mais oneroso e o organizador corre o risco de nunca deixar o papel de prova de reserva.

Deixando-nos levar pelo sonho, caso não fosse requerida a passagem a “corrida efetiva”, o organizador poderia receber algo em troca, sendo um “fan-day” uma possibilidade, com uma corrida entre os vinte pilotos em carros iguais – de uma marca sem ambições comerciais – e com acesso do público ao paddock e aos seus heróis… Certamente, que o interesse dos adeptos seria grande.

Difícil seria, mas impossível, não parece e o Autódromo Internacional do Algarve poderia estar interessado em assegurar um lugar de prova de reserva, desde que com a conjuntura certa. “Como é óbvio gostaríamos muito, e penso que temos as condições em termos de infraestruturas, mas penso que só o poderíamos ser numa situação em que a FOM assumisse um modelo diferente para organizar a corrida que não o atualmente em vigor”, afirmou Paulo Pinheiro, o CEO da Parkalgar, ao AutoSport, acrescentando: “Nesse novo cenário, sim poderíamos e gostaríamos muito de ser prova de reserva”.

Veremos como a FIA e a FOM reagem à situação que se vive este ano com o coronavírus e se reage à falta de preparação que reina presentemente nesta área.

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