F1, Pierre Gasly: “Não posso estar mais feliz com a equipa que tenho…”

Por a 8 Setembro 2020 10:45

Pierre Gasly vive momentos de sonho com a Alpha Tauri, e é difícil não sentir simpatia por um piloto que, como tantos outros anteriormente, teve dificuldades em vingar na Red Bull, foi despromovido, perdeu um amigo de infância, Anthoine Hubert, reencontrou-se, tem feito boas exibições tendo em conta o contexto atual que vive e depois de ter ido ao pódio no GP do Brasil do ano passado, aproveitou a única oportunidade que provavelmente a equipa teve numa década e fez o que tinha a fazer, venceu. O que lhe passa na cabeça neste momento é um turbilhão de tudo e mais alguma coisa…

Pierre! No teu curto período na Fórmula 1 passaste por tanta coisa, tantas emoções, altos, baixos… Isto é fenomenal. Deves sentir-se muito especial?

Pierre Gasly: “É inacreditável. Não me estou a aperceber bem do que está a acontecer neste momento. Foi uma corrida tão louca. Capitalizámos a bandeira vermelha. O carro estava muito rápido, mas também tínhamos um carro bastante veloz atrás de nós. Como disse, já passei por tanta coisa no espaço de 18 meses. O meu primeiro pódio no ano passado, já estava como ‘uau, com AlphaTauri e agora a minha primeira vitória na Fórmula 1, em Monza, tenho dificuldade em realizar o que está a acontecer…”

A emoção da tua equipa. Em Itália, venceram sendo uma equipa italiana. Calculas o que isso significa para eles?

PG: “Não tenho palavras. Esta equipa tem feito tanto por mim. Deram-me a minha primeira oportunidade na F1. Deram-me o meu primeiro pódio e agora estão a dar-me a minha primeira vitória. É uma loucura, honestamente, é uma loucura e estou muito feliz, que não consigo agradecer-lhes o suficiente. Todos, desde AlphaTauri, até à Honda. É uma pista sensível à potência e ganhámos a corrida à frente de todos os carros Mercedes, Ferrari e Renault, por isso foi um dia fantástico”.

É és o primeiro piloto francês a vencer desde 1996…

PG: “É verdade. Olivier Panis foi o último (ndr, Mónaco). Sempre disse que ao vir para a F1 essa era uma coisa que precisava mudar porque já passou tanto tempo, mas nunca esperei que isso nos acontecesse com a AlphaTauri”.

P: É uma vitória feliz, sem dúvida que sonhaste com este momento. Como é que a realidade se compara ao sonho?

PG: “É espantoso. Sinceramente, estou perdido nas palavras neste momento. Ainda estou a tentar perceber o que me aconteceu. A minha primeira vitória na Fórmula 1… Há um par de meses atrás obtive o meu primeiro pódio no Brasil e depois hoje é a minha primeira vitória, em Monza com Alpha Tauri, que é uma equipa italiana. Não podia ter sido melhor e trabalhámos tanto, dia após dia, corrida após corrida, depois de tudo o que me aconteceu nos últimos 18 meses, não podia ter esperado uma melhor forma de conseguir a minha primeira vitória”.

P: E parece que querias ficar naquele pódio. Não querias sair…

PG: “Não queria sair, porque este tipo de momentos… Nunca se sabe quantas vezes se vai poder desfrutar deste tipo de momentos. Gostava que pudéssemos ter tido os tifosi e todas as bancadas cheias de gente, porque é provavelmente uma das melhores corridas para estar no pódio, mesmo ali em cima. Obviamente que 2020 é diferente, mas mesmo assim eu só queria sentar-me e tirar um momento para mim para passar por tudo o que tinha na cabeça e apenas desfrutar desses momentos”.

P: E na corrida: o timing da tua paragem nas boxes foi perfeito, mas também aquelas últimas voltas em que Carlos Sainz se aproximava de ti, quanta pressão estavas a sofrer?

PG: “Depois do reinício, penso que ainda nos faltavam 28 voltas. Consegui passar Lance (Stroll) na Curva 1 e penso que isso me ajudou para o resto da corrida. O Lewis perdeu a liderança, penso que na primeira volta, (ndr, foi cumprir a penalização) e depois disso fiquei por minha conta. Fez-me lembrar os meus dias de Fórmula 2, em que liderava a corrida e me concentrava apenas na condução, curva a curva. Forcei tanto após a partida porque queria ‘partir o reboque’ dos pilotos atrás de mim e não tinha ninguém à minha frente, por isso sabia o que tinha de fazer e as últimas cinco voltas foram realmente difíceis e os meus pneus tinham ‘desaparecido’ completamente. Andava de lado a cada curva e podia ver o Carlos (Sainz) a recuperar lentamente e sei que teria ficado tão chateado comigo mesmo se tivesse perdido esta corrida nas últimas voltas. Dei tudo o que tinha e estou muito feliz por ter conseguido a minha primeira vitória na Fórmula 1”.

P: Em que estavas a pensar em termos de táticos quando a diferença desceu mesmo no fim. A certa altura, vimos-te a tentar quebrar o reboque….

PG: Eu sabia que quanto mais próximo Carlos estivesse, mais vácuo conseguiria. Por isso, ele ia aproximar-se cada vez mais. Tentei forçar o mais forte que pude nas curvas, o que obviamente significa que tinha mais degradação nos pneus, mas era a única forma de fazer tempos. Nas últimas voltas tive grandes, grandes momentos através de Lesmos, na Ascari, apenas tentando dar tudo porque o via a ficar cada vez maior nos meus espelhos. Eu sabia que estava a lutar muito com a tração na Curva 1. Assim, havia um local onde ele podia tentar, a primeira chicane ou a segunda chicane, mas eu tentei… sim, vi que ele não se estava a aproximar demais, exceto naquela última volta, consegui poupar a energia, só para poder defender no caso de ele tentar alguma coisa. E sim, mantivemo-lo atrás mas felizmente a corrida não durou muito mais porque com este pneu médio penso que já não tinha borracha no final. Por isso, era o momento certo para terminar a corrida…”

P: É justo dizer que os adeptos franceses não estavam realmente emocionalmente preparados para um dia como este. Estás ciente da dimensão disto no cenário dos desportos motorizados franceses? E também, o que te passou pela cabeça no final quando te vimos sentado num estado de espírito reflexivo, no pódio?

PG: “Pessoalmente sei como foi importante para mim conseguir a minha primeira vitória na Fórmula 1 e no final é apenas a minha terceira temporada na F1, apesar de ter passado por muito nos últimos dois anos, continuo a sentir-me bastante novo neste mundo e a melhorar de ano após ano. Por isso, nunca teria esperado isto há um ano, quando voltei para a Toro Rosso. O pódio já era inesperado e um grande, grande destaque no ano passado. E então não estava pronto para esta vitória, embora se tente sempre imaginar o melhor cenário, o melhor carro, a melhor corrida, tudo de melhor. Sabemos que aconteceu apenas uma vez em toda a história do Toro Rosso na Fórmula 1. Franz disse-me, de facto, ‘sabes, a outra vitória foi no molhado, mas estou realmente orgulhoso de ti, porque desta vez ganhámos com pista seca’. Sim, foi muito difícil, mas estou feliz por mostrar a minha velocidade. Tenho trabalhado dia após dia, corrida após corrida desde o ano passado e estou sempre a tentar ficar mais forte. Estou realmente feliz por hoje receber a recompensa por todo o trabalho árduo que fizemos com AlphaTauri e também com Honda”.

O que te passou pela cabeça no pódio?

PG: “Sentei-me e tinha muitas coisas a passar-me pela cabeça. Em primeiro lugar, a minha família, os meus amigos, os meus irmãos e todas estas pessoas que me apoiaram e que me ’empurraram’ o tempo todo, e lembramos-nos de tudo o que passámos. Estava apenas a tentar imaginar todas estas pessoas lá em baixo do pódio, todos os tifosi que deveriam estar lá. Foi um momento muito especial. Como disse, tem sido um passeio louco nos últimos meses e é simplesmente inacreditável. Ainda estou a tentar perceber o que acabámos de alcançar.”

P: O único piloto que ganhou uma corrida para a tua equipa, também em Monza, chegou depressa à Red Bull. Será isso que gostarias de fazer na próxima época, estás pronto para ela?

PG: “Penso que estou pronto, mas como disse, não me cabe a mim tomar essa decisão. A única coisa que fiz desde que me mandaram de volta para a Toro Rosso foi apenas concentrar-me em mim e mostrar o que posso fazer. Quando tenho as ferramentas certas na mão, fico realmente feliz pelo desempenho que mostrámos – e não estou apenas a falar do Brasil, mas penso que, de um modo geral, temos sido bastante fortes a maior parte do tempo. Tivemos algumas boas classificações, corridas realmente fortes desde então. Vamos ver o que acontece, mas penso que houve muitos, muitos pilotos fortes na Toro Rosso. Estou realmente feliz por ser um dos dois que conseguiram ganhar com esta equipa. Obviamente, acho que os bons resultados devem ser recompensados com algo, mas veremos o que acontece. De momento, não é algo em que eu queira realmente pensar. Só quero desfrutar deste momento, porque é a minha primeira vitória em F1 e terei tempo para pensar nisso mais tarde”.

P: Obviamente a chave foi o timing da primeira paragem nas boxes, mas em que estavas a pensar na altura em que isso aconteceu?

PG: “Sim, quando saí do pit lane e vi o Safety Car, perguntei via rádio ‘isto é uma piada?’ Apenas tínhamos ido às boxes na pior altura possível”. Disseram-me apenas ‘OK, a entrada nas boxes está fechada’ e foi isso que aconteceu, no final acabou por ser uma ‘jogada’ de muita sorte. Não havia maneira de podermos ter planeado isto. Penso que tivemos connosco uma pequena estrela, um pequeno anjo, digamos, a tomar conta de nós e, obviamente, tivemos muita sorte. Depois, obviamente ainda havia trinta voltas, que foram muito difíceis, mas isso foi claramente um ponto de viragem”.

P: Durante o período da bandeira vermelha, sabiam que o Lewis ia ter de suportar essa penalização, por isso estavam todos em disputa pela vitória. O que te passou pela cabeça naquele momento?

PG: “Sim, sabia que o Lewis tinha que cumprir a penalização e disseram-me para fazer a nossa própria corrida, concentrarmos-nos nos pilotos à nossa volta. Foi difícil escolher entre o pneu duro e o pneu médio, porque ainda não sabíamos se era uma partida parados ou atrás do Safety Car. Optámos pelo pneu médio. Sinceramente pensei que o Valtteri e mesmo o Lewis passariam por nós a voar mas não foi o caso. Mas sim, a equipa sabia, aparentemente, que não ia ser assim tão fácil para eles apanharem-nos”.

P: É óbvio que passaste por muita coisa no último ano. Podes dizer-nos como conseguiste manter-te forte na tua autoconfiança após a tua despromoção de volta à Toro Rosso no ano passado e depois, claro, perdeste também o Anthoine Hubert. Como te ‘reconstruiste’ até esta vitória e como te sentes por tê-la conseguido?

PG: “Esse foi um momento muito difícil no ano passado. Cresci com quatro irmãos e tive momentos bastante difíceis, o que me construiu um carácter bastante forte. Sempre tive de lutar por tudo o que queria. Sempre, de alguma forma, consegui transformar essa energia negativa em algo positivo e no ano passado, com o que aconteceu, no meu íntimo, senti-me magoado e não senti que fosse justo para mim mesmo e quisesse realmente deixar bem claro nesse momento, que sabia que era rápido e o que podia fazer. Na minha carreira lutei por vitórias, poles, por campeonatos, e é isso que quero na F1. Trabalhei muito com a equipa e sabia que tinha tudo nas minhas mãos para mostrar o meu potencial. Depois, apenas tentei concentrar-me no meu próprio desempenho, não olhando realmente para os outros, fazendo corrida após corrida, olhando para o que posso melhorar do meu lado, o que posso melhorar com a equipa, com os meus engenheiros, apenas para extrair mais de mim e do ‘pacote’ que temos, e honestamente, não posso estar mais feliz com a equipa que tenho neste momento. Eles estão a fazer um trabalho espantoso; estão a dar-me tudo o que preciso para ser competitivo todos os fins-de-semana. Às vezes somos suficientemente rápidos para os oito primeiros, às vezes para os dez primeiros, às vezes para os doze primeiros, mas no final do dia, eles realmente colocam toda a energia no meu próprio desempenho, o que eu realmente aprecio e estou muito grato porque graças a isso, venci a minha primeira corrida na Fórmula 1.”

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