António Félix da Costa: e se os astros se alinhassem?

Poucos esperariam que Portugal voltasse a ter um piloto na Fórmula 1 nos próximos anos, quanto mais no regresso da categoria máxima do desporto automóvel ao nosso país, mas subitamente, António Félix da Costa está a trabalhar na possibilidade de tomar parte no Grande Prémio de Portugal e, até, em algo mais.

Segundo o que Tiago Monteiro disse ao AutoSport, existe uma forte possibilidade de o Campeão da Fórmula E em título poder estar no Algarve aos comandos de um monolugar de Fórmula 1 aquando do Grande Prémio de Portugal, dado interesse da parte de diversas equipas, assim como da Parkalgar – o organizador de evento – e da FOM, o que criaria uma história em tons de azul dourado para os adeptos portugueses.

Mas o responsável pela carreira do português vai mais longe, deixando escapar que um lugar no plantel do próximo ano do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 é um desejo para o qual toda a equipa de gestão de Félix da Costa está a trabalhar. “O António está muito cobiçado neste momento – na IndyCar, em Le Mans na Fórmula 1 – há muito interesse. Fiz alguns contactos, fui também contactado, há muita curiosidade. Mas não podemos esquecer que tem contrato com a DS, mas tudo é possível”, começou por dizer Monteiro, acrescentando depois que a continuidade em 2021 é uma possibilidade: “Há muito interesse de muita gente em que ele esteja presente no Grande Prémio de Portugal, mas se for para acontecer, queremos algo mais concreto e duradoiro. O meu papel é arranjar as melhores soluções para ele e estar a par do que se passa no mercado. É isso que tenho vindo a fazer. Não vou entrar em detalhes, mas não há nada a esconder, o tempo dirá o que vai acontecer”.

Então quais serão as equipas que poderão oferecer um lugar a António Félix da Costa no Grande Prémio de Portugal e garantir uma ligação a longo prazo com o português?

Não é incomum pilotos de Fórmula E terem funções em equipas de Fórmula 1, basta atentar aos casos de Stoffel Vandoorne, piloto de reserva da Mercedes, Sebastien Buemi, Red Bull / AlphaTauri, Pascal Wehrlein, Ferrari, e Sérgio Sette Câmara, Red Bull / AlphaTauri.

Se o objectivo do português e da sua equipa de gestão for estar presente na primeira sessão de treinos-livres do nosso Grande Prémio e manter esse laço para futuro, assumindo o papel de piloto de reserva/testes paralelamente às suas funções com a DS Techeetah na Fórmula E, as possibilidades são diversas.

Claro que as portas da Mercedes, Red Bull, Ferrari podem estar vedadas, assim como as da Renault, McLaren, dado que não estariam em condições de poder ceder um dos seus monolugares para que António Félix da Costa pudesse estar em pista frente ao seu público.

No entanto, certamente que com AlphaTauri, Racing Point, Alfa Romeo, Haas e Williams poderiam estar em condições de poder dispensar um monolugar para uma primeira sessão de treinos-livres para o Grande Prémio de Portugal.

Qualquer uma destas cinco equipas poderia até estar aberta a manter um laço com português a médio prazo e as duas primeiras não são desconhecidas dele, tendo já testado por ambas.

É, contudo, quando colocamos em cima da mesa a possibilidade de António Félix da Costa poder participar no Grande Prémio de Portugal que as coisas começam a ficar a interessantes.

Podemos excluir a Racing Point que tem dois pilotos com contrato válido para 2021 e que só em circunstâncias muito especiais poderão ser substituídos.

A Williams também podemos colocar de lado. George Russell está instalado em Grove pela Mercedes e é em quem a equipa confia para assegurar resultados, ao passo que Nicholas Latifi tem o apoio da sua família, que continua a deter uma parte da formação britânica, estando duo confirmado para o próximo ano.

A Haas não pode oferecer ao português um lugar no Grande Prémio de Portugal, porém, não tem ainda pilotos definidos para 2021.

Mas se quisermos sonhar, a formação de Kannapolis poderia colocar o Campeão da Fórmula E em título na primeira sessão de treinos da prova portuguesa e avaliá-lo, tendo em vista um lugar de piloto titular em 2021.

No entanto, é com a AlphaTauri que tudo fica mais interessante…

A equipa de Faenza, conhecida anteriormente como Toro Rosso, funciona como um tirocínio para jovens pilotos com ambições em subir à Red Bull e Helmut Marko, que tem uma forte palavra a dizer sobre quem entra e quem sai, não é um homem de muita paciência.

Presentemente, os homens da companhia sediada em Viena têm dois problemas para resolver – Alex Albon tarda em conseguir acompanhar Max Verstappen e presentemente a Red Bull é uma equipa coxa e, se com duas pernas já seria difícil lutar com a Mercedes, assim a situação é insustentável. Precisa, portanto, de encontrar alguém que possa secundar de forma efectiva o holandês.

Por outro lado, na AlphaTauri, Pierre Gasly tem vindo a impressionar, depois da sua despromoção da Red Bull, ao passo que Daniil Kvyat tem vindo a desapontar, tendo por uma só vez conseguido bater este ano o seu colega de equipa em qualificação, figurando no Campeonato de Pilotos no décimo quinto posto com quatro pontos, contra quarente e três do francês, que está em oitavo depois do triunfo no Grande Prémio de Itália.

A manter este nível de performances, dificilmente o russo sustentará o seu lugar para lá do final do ano, tendo a equipa de Faenza de encontrar um substituto.

Uma das possibilidades, seria despromover Albon da Red Bull, caso não suba de nível, entretanto…

Os homens de Milton Keynes, temendo que Gasly não suporte psicologicamente o confronto com o holandês, poderão sentir-se tentados a ir buscar um piloto sólido e capaz de poder ser escudeiro de Verstappen, tendo no mercado Nico Hulkenberg que, quando confrontado com Daniel Ricciardo na Renault, não se saiu mal frente a um piloto que a Red Bull conhece muito bem e que lutou olhos nos olhos com o holandês quando foram colegas de equipa.

Dificilmente, recorreriam a António Félix da Costa para colocar ao lado do holandês, uma vez que, por muito talento que possa ter, e tem, falta-lhe a experiência e ninguém na Red Bull quereria arriscar ter uma situação semelhante à vivida desde que Ricciardo deixou a equipa.

Contudo, poderá existir uma janela de oportunidade para o português que assenta que nem uma luva para todos, menos para Kvyat, é claro…

Como já apontámos, será muito difícil que o russo continue na AlphaTauri para lá deste ano e, neste momento, a Red Bull poderá estar na situação de não ter piloto para o substituir na sua “cantera”. Yuki Tsunoda, a estrela em ascensão no seio da Honda e da marca de bebidas energéticas, não tem ainda superlicença e poderá não a obter este ano, caso não termine entre os quatro primeiros do Campeonato de Fórmula 2.

Os homens de Faenza têm de se preparar para qualquer eventualidade e uma das hipóteses seria colocar Félix da Costa no lugar de Kvyat a partir do Grande Prémio de Portugal.

Isso daria ao português seis Grandes Prémios para poder mostrar o seu valor e garantir o seu lugar para a temporada seguinte.

Se Albon mantiver o seu lugar ou se trocar de volantes com Gasly, o Campeão de Fórmula E teria o seu assento garantido na AlphaTauri para a época de 2021.

Este cenário nem sequer seria uma novidade na esfera da Red Bull, que em 2017 mostrou a porta a Kvyat a meio da temporada para avaliar Gasly para 2018 e, quando Sainz rumou à Renault no Grande Prémio dos Estados Unidos da América, foi buscar Brendon Hartley, que já nem sequer fazia parte da sua “cantera”, acabando os dois por formar equipa no ano seguinte.

Para além disso, haveria uma certa justiça poética na eventualidade de Félix da Costa substituir o russo, uma vez que em 2014 Kvyat foi promovido à Toro Rosso à custa do português…