Alberto Ascari: Encontro com o destino

Por a 28 Março 2020 19:03

Dia 26 de Maio de 1955, uma hora da tarde. Sol primaveril, calor, algumas nuvens, a prometerem mais frio para a tardinha. Local: Parco di Monza, onde se situa a pista mais mítica de Itália. Àquela hora, não se ouviam os ruídos dos trabalhos de construção da nova pista em oval, que seria terminada meses depois. Estava-se na hora reservada ao almoço. Sozinho na bancada principal, Gigi Villoresi olhava para lá das boxes, para o outro lado da pista. Seguia com os olhos o barulho do Ferrari 3000 S, que sabia ser prateado e que, de repente, brilhou no Vialone.

Via distintamente o capacete branco, encimando uma camisa azul – era o seu amigo Alberto Ascari, com quem tinha chegado à pista, depois deste lhe ter telefonado a convidá-lo, minutos depois de ter sido, por sua vez, convidado por Eugénio Castelloti. Este, jovem, descomprometido, era não só uma das esperanças do automobilismo italiano, como também o protegido de Alberto – que aceitou o desafio para vê-lo testar um novíssimo Ferrari, de Sport, com que iria disputar os 1000 Kms naquela pista, dias mais tarde. Tão novo que nem sequer estava ainda pintado. Ascari tinha, quatro dias antes, sofrido o choque da sua vida, ao mergulhar na baía do Mónaco, durante o Grande Prémio de F1. A parte esquerda do seu corpo ainda não reagia totalmente aos estímulos cerebrais, mas o piloto não coxeava, nem mostrava sinais exteriores do acidente.

Mentalmente, talvez: o que ele mais queria era voltar a sentar-se no cockpit de um carro de corrida, perder o medo de ter medo. Por isso, desceu

da bancada, atravessou a pista e, no intervalo do almoço, perguntou ao seu amigo Eugenio se podia dar umas voltinhas como 3000 S.Nem sequer tinha trazido o seu capacete azul, que estava num artesão a ser reparado.

Por isso, arregaçou as mangas da camisa, pôs para dentro da mesma a gravata também azul, para não atrapalhar e colocou o capacete.

Saiu para a pista, engrenado com decisão as mudanças. Nada parecia dizer que aquele piloto, fazendo corpo com o Ferrari prateado, tinha saído de um acidente potencialmente mortal, dias antes.

Uma volta, duas voltas – na terceira, o barulho do motor parou. Fez-se silêncio no ar límpido de Monza. Gigi empalideceu e correu. Encontraram o Ferrari capotado, no bosque, do outro lado das proteções. Ninguém sabe com exatidão o que se passou – mas acredita-se que um operário, um jovem, se atravessou no caminho de Ascari, quando este negociava, a mais de 200 km/h, a rápida esquerda de Vialone. Para o evitar, morreu.

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