Como sobrevive um segundo piloto de Fórmula 1

Por a 13 Dezembro 2010 15:16

Não sendo o primeiro a passar por esta experiência desagradável, o brasileiro está com o moral de rastos. Por isso quisemos saber como se mantém a motivação em alta quando a equipa só tem olhos para o companheiro de equipa.

O contraste não podia ser mais gritante: quando os dois pilotos da Ferrari percorreram o paddock, a caminho da parada dos pilotos, duas horas antes do início duma corrida, Fernando Alonso é rodeado por dezenas de adeptos, assinando autógrafos e tirando fotografias desde que saiu da área restrita da Ferrari e chegou ao pit lane. Dez passos atrás, Felipe Massa caminha sozinho, de semblante carregado e sem ninguém à sua volta.

O mau desempenho do brasileiro nas últimas corridas do ano, quando era suposto terminar imediatamente atrás de Alonso e ajudá-lo a tirar pontos aos seus rivais, foi tema quente de conversa, ao ponto de se especular com a saída de Massa da Ferrari no final da temporada. Mas isso não passa mesmo de especulação e a Ferrari tudo fez para que o paulista se tivesse motivado para as últimas corridas e dessa forma ajudasse Alonso. Agora todos sabemos que não foi assim. Só que não é fácil um piloto habituado a lutar pelas vitórias aceitar que é segundo piloto e são poucos os que sobrevivem competitivos a uma experiência do género.

Na sombra de Michael Schumacher

A principal exceção à regra é Eddie Irvine. O irlandês assinou como segundo piloto de Michael Schumacher quando ambos chegaram à Ferrari em 1996 e nunca teve flutuações de motivação nos quatro anos em que correram juntos: “Entre ficar na Jordan e esperar por um ou dois pódios por ano ou ir como segundo piloto para a Ferrari não havia escolha possível. Ofereciam-me muito mais dinheiro que o Eddie Jordan e davam-me um carro ganhador; em contrapartida, tinha de trabalhar para o Michael, mas isso não era um problema. Foi isso que fiz até ao acidente dele em Silverstone, em 1999, e quando ele regressou, trabalhou para mim na Malásia, onde ganhamos com grande vantagem sobre os McLaren. Para dizer a verdade o Michael não precisava que estivesse escrito no contrato que era primeiro piloto, porque era o mais rápido do mundo, mas algumas vezes consegui andar na frente dele e não tive problemas em deixá-lo passar. Era a regra do jogo, eu tinha assinado de olhos abertos e, por isso, não tinha nada que me queixar. E, claro, havia sempre a possibilidade dele escorregar numa casca de banana e partir uma perna, como aconteceu em 1999, em Silverstone, e aí a Ferrari ajudou-me a lutar pelo título até à última corrida. Se tivesse ficado na Jordan nunca teria ganho Grandes Prémios nem sido vice-campeão do Mundo. Nem teria ganho o dinheiro que ganhei…”

Já Rubens Barrichello foi apanhado de surpresa pelo tratamento que lhe foi reservado na Ferrari pois o seu contrato não era taxativo como o de Irvine: “Não é um tema de que goste muito de falar, mas toda a gente sabe como se passaram as coisas na Ferrari. Foi na Áustria, em 2002, que senti pela primeira vez na pele o que era ser segundo piloto, quando tive de perder a corrida, mas sempre acreditei que se iniciasse melhor o Mundial que o Michael a situação mudaria. Só que em 2005 percebi que isso nunca iria acontecer e foi por isso que me vim embora. Não podia continuar numa equipa sabendo que o melhor material e o tratamento preferencial iriam sempre para o outro piloto.”

Danos podem ser permanentes

Johnny Herbert passou por uma experiência semelhante, em 1995, mas se Barrichello se refez imediatamente, quando se juntou à Honda, o inglês admite que passou por momentos complicados antes de recuperar a auto confiança: “Não havia nada no meu contrato que dissesse que eu era segundo piloto. Mas foi o Michael que fez os testes todos, desenvolveu o carro para o seu estilo de pilotagem e da primeira vez que fui mais rápido do que ele, à chuva em Buenos Aires, fui proibido de voltar a ver a sua telemetria. Eu era, de facto, inexistente na equipa, o Flavio Briatore nem falou comigo na segunda metade do ano e como prefiro trabalhar em ambientes mais abertos e amistosos, acabei por sofrer bastante e só na segunda temporada com a Sauber, em 1997, é que voltei a ser eu mesmo.”

Pior foi a experiencia de Ivan Capelli, também na Ferrari, em 1992. O F92A nem sequer era competitivo, mas a equipa concentrou-se em Alesi e abandonou o italiano, que com o moral de rastos acabou por deixar a F1 no inicio do ano seguinte: “Cheguei eufórico à Ferrari – era a concretização do meu sonho. Mas bastou o primeiro teste para tudo desabar; o Jean tinha dito, como de costume, que aquele era o melhor carro que já tinha pilotado e quando eu disse que achava o F92A lento e pesado ninguém me ligou nenhuma. Era melhor para eles acreditar no Jean e mesmo se os resultados me deram razão, só o que ele dizia é que contava. Fiz metade da temporada com uma caixa de velocidades longitudinal, enquanto o carro do Jean já tinha a caixa transversal; assumi a culpa de alguns acidentes que aconteceram por erros dos mecânicos; Nunca me queixei publicamente e a paga foi despedirem-me antes do final do ano. Fiquei tão desiludido, porque não tinha estrutura mental para aguentar aquilo, que a minha carreira acabou ali.” É contra um destino semelhante que Massa tem de lutar, pois se ainda goza de crédito em Maranello, pelo que fez nos anos anteriores, tem mesmo de começar 2011 em grande forma, para evitar a repetição do que lhe aconteceu este ano e uma saída antecipada da Scuderia.

Barrichello: “O Felipe é muito forte!”

Amigo e confidente de Felipe Massa, o veterano Rubens Barrichello tem passado largas horas na companhia do seu compatriota e sabe bem o que lhe vai na alma. Sem abrir o jogo, Barrichello dá, no entanto, um forte voto de confiança ao seu sucessor na Ferrari: “A situação que o Felipe vive nesta altura não é fácil mas ele vai dar a volta por cima. Ele é um piloto muito rápido e competente, que só não foi Campeão do Mundo em 2008 por uma margem muito pequena; e é uma pessoa forte, que consegue ultrapassar os momentos menos bons e regressar sempre ao seu melhor nível. Nos primeiros anos em que esteve na Ferrari muita gente o criticou mas ele calou todas essas bocas em 2008. E no próximo ano vai voltar a ganhar corridas, tenho a certeza.”

Lugar de Massa não está em perigo

Sendo o elo mais fraco dos pilotos das três equipas de ponta, pois foi o único que não lutou pelo título deste ano, Felipe Massa foi alvo de especulação nas últimas semanas, com o seu lugar na Ferrari, para 2011, a ser dado como em risco. Mas o paulista vai mesmo manter-se em Maranello, como nos disse Stefano Domenicali: “Não existe a menor possibilidade do Felipe sair no final do ano e ponto final! Não se discutiu essa possibilidade, não falamos com mais nenhum piloto nem o vamos fazer; o Felipe é um elemento valioso da Ferrari, que teve um ano difícil sobretudo devido às características dos pneus – e relembro que outros pilotos, até mais famosos, passam pela mesma situação – mas como em 2011 passaremos todos a usar pneus da Pirelli, acredito que o vamos voltar a ter ao nível a que nos habituou até aqui. Agora temos é de lhe dar tranquilidade e apoio; a pressão é enorme, mas ele sabe lidar com ela e tem a garantia de que estamos cem por cento com ele.”

Capelli aponta caminho para a auto motivação

Sabendo que tinha de trabalhar para Alonso, Felipe Massa necessitava de auto-motivar-se e Ivan Capelli dá a receita: “O Felipe teve de estabelecer os seus próprios objetivos: se andava com mais dez quilos de gasolina que o Fernando nos treinos livres, tinha de tentar ficar a menos de 0,3s por volta, porque isso significava que era mais rápido levando o peso em consideração; se a equipa lhe pedia para segurar outro piloto, tinha de fazer alguns setores a fundo e mais depressa que o Alonso, para deixar claro internamente que está a perder tempo porque quer. Ou seja, se na prática vai ter de ajudar o Alonso, pode marcar pontos internamente e dar-se pequenas satisfações. Afundar-se por completo, como aconteceu em Suzuka, é que não é solução; tem de mostrar o que vale, mas de forma subtil para não estragar a campanha do seu companheiro de equipa.”

Luis Vasconcelos

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