Os factos mais marcantes do WRC 2015

Caiu o pano sobre mais uma época do WRC. Não houve grandes surpresas, a Volkswagen dominou facilmente, mas o ano ficou marcado por alguns acontecimentos de relevo que têm lugar na história do Mundial de Ralis. Vamos relembrá-los…

1 – Sébastien Loeb mais uma vez…

Só sucedeu uma vez, mas o arranque do WRC 2015 proporcionou um enorme ‘boost’ de adrenalina junto dos adeptos com mais um regresso esporádico de Sébastien Loeb, novamente no Rali de Monte Carlo. Mas que fabulosa luta os dois Sébastien, Loeb e Ogier travaram nas estradas geladas ao redor do Mónaco. Sébastien Ogier acabou por vencer, mas só depois de Loeb cometer um erro que o colocaria fora da luta pela vitória. Para que se perceba o que fez Loeb na fase inicial do rali, atente-se nas palavras de Mestelan-Pinon, diretor técnico da Citroën: “quando vimos o primeiro split do Sébastien (Loeb) ficamos atónitos. Não podia deixar de pensar: “porque é que não o conseguimos segurar nos ralis mais um ou dois anos?” Esta é a questão que vale um milhão, continua a ser quase o único piloto que ainda é capaz de colocar Ogier em sentido, mas infelizmente para os ralis isso já não deverá voltar a suceder. Pelo menos uma coisa ficou provada: O VW Polo não é claramente superior ao Citroën DS3 WRC, a diferença está nos pilotos.

2 – Neuville no melhor e no pior da Hyundai

Depois do bom resultado em Monte Carlo onde foi melhor o resultado que a exibição, a Hyundai mostrou na Suécia um nível até ali muito pouco visto. Poucos esperavam que a Hyundai andasse aquele nível e Thierry Neuville esteve muito perto de assegurar a segunda vitória da história da Hyundai no WRC. A estratégia correu-lhe bem, o i20 WRC esteve perfeito e o piloto belga andou a um nível que dali para a frente pouco se lhe viu. Neuville ficou apenas a 6,4s do triunfo, foi um segundo lugar agridoce, mas com onze provas do WRC pela frente não mais se voltou a ver Neuville a este nível, chegando até a ser despromovido à equipa ‘B’. A Hyundai lutou até ao fim pelo segundo lugar dos construtores com a Citroën, mas a diferença esteve mesmo na má época de Neuville. Não é certamente ‘este’ Neuville de quem já foi dito ser o único com categoria para bater o pé a Ogier nos próximos anos, que o conseguirá fazer…

3 – Titanak no México

Vinte cinco anos depois do Rali de Portugal de 1990, o Mundial de Ralis voltou a ‘ver’ um piloto despistar-se e cair dentro de um lago, ou rio como sucedeu a Louis Aitken-Walker e Tina Thorner. O feito coube a Ott Tanak e Raigo Molder, que se despistaram direitinhos para um lago, num acontecimento que ficou conhecido como… Titanak. Um naufrágio com um final feliz, e um fabuloso trabalho de equipa na M-Sport, com portugueses à mistura, que recuperaram o carro a tempo de o ‘devolver’ ao rali. Tudo se passou muito rapidamente, a suspensão cedeu, o estónio não conseguiu curvar, e em 25 segundos o carro ficou totalmente submerso, mas piloto e navegador tiveram a frieza de se libertarem rapidamente e sobreviver para contar a história. Foi um grande susto para todos, por breves momentos a equipa não conseguiu saber nada dos dois, e a aflição foi tanta que Tanak queria telefonar de imediato para a Estónia a dizer que estava bem, mas o problema é que o telemóvel estava no fundo do lago… Afinal, Raigo Molder até as notas salvou e no final a equipa ainda encontrou um peixe dentro do carro. Terá sido grelhado ou frito com ‘chips’?…

4 – Acidente de Paddon Rali Argentina

Não é novidade para ninguém que os ralis são um desporto perigoso, e quando a isso se juntam adeptos tão fervorosos como os argentinos e ainda uma boa pitada de mau controlo de público o azar pode acontecer, e foi isso que sucedeu com Hayden Paddon a despistar-se e a ferir seis espectadores, alguns deles com fraturas graves. O piloto neozelandês perdeu o controlo do seu Hyundai i20 WRC à saída de um salto e entrou diretamente pelo público. A presença de espectadores naquele local era claramente perigosa, havia fitas muito perto da estrada. Um enorme erro dos organizadores argentinos e quem pagou foi… Portugal, que se disputou três semanas depois e no nosso país esteve um contingente da FIA nunca antes visto noutra prova. Estavam preocupados com o que podia acontecer, mas tiveram uma bela surpresa…

5 – “Para ti… Colin!”

O Rali da Argentina ficou igualmente marcado pela primeira vitória de Kris Meeke no WRC, que andou muito bem e mereceu vencer, mas o que se passou após o último troço ficará para sempre na memória dos adeptos… de Colin McRae. Foi de forma fortemente emocionada que Kris Meeke dedicou o triunfo ao malogrado Colin McRae, o seu mentor, um amigo que muito o ajudou no início da sua carreira. Meeke não o esqueceu e foi a chorar que disse para as camaras: “Esta é para ti, Colin…”. Aos 35 anos, Kris Meeke venceu finalmente a sua primeira prova do WRC, na sua 57ª tentativa, e tornou-se no primeiro piloto britânico a fazê-lo, depois da vitória de… Colin McRae no Rali Safari de 2002.

6 – Regresso de Portugal ao Norte

Foi um autêntico regresso às origens. Catorze anos depois o Rali de Portugal regressou ao Norte, numa aposta completamente ganha por Carlos Barbosa e toda a equipa do ACP Sport, que colocaram de pé uma prova fabulosa. Depois de dez edições no Algarve, sete delas no WRC, a fasquia estava bastante alta e a decisão de passar para o Norte originou incerteza e discussão. O comportamento do público era uma forte interrogação, mas se havia uma organização no WRC capaz de executar uma tarefa destas era a do ACP Motorsport. A verdade é que o evento foi um tremendo sucesso, não só para o ACP mas também para as autarquias que apoiaram a prova. Um dos grandes ‘medos’ dos organizadores, o público do Rali de Portugal comportou-se de forma exemplar, o rali foi um êxito do ponto de vista competitivo, decidido no último troço, e finalmente, a FIA saiu de Portugal absolutamente maravilhada com o que viu.

7 – Finlândia 2015 – O rali mais rápido da história

É somente um apontamento, mas Jari-Matti Latvala fez história no Rali da Finlândia. Não foi só a sua terceira vitória do ano, mas também a mais rápida de sempre na história do WRC. Latvala disputou a totalidade dos troços a uma média de 125,44 km/h. A marca é ainda mais impressionante que a anterior, estabelecida em 2012, que se tinha ficado pelos 122,89 km/h, também no Rali da Finlândia, na altura por Sébastien Loeb. Na história da competição, a Finlândia reserva para si nove dos primeiros dez lugares. De resto, não há qualquer prova dos anos 80 ou 90 no top 10, só mesmo de 2000 para cá. Como contraponto, a prova com média mais baixa de sempre é o Rali de Sanremo de 1973, 44.15 Km. Um ‘feito’ de Jean-Luc Therier (Renault Alpine A110 1800).

8 – Rali da Austrália Acidentes nos reconhecimentos

Mads Ostberg e Jonas Andersson protagonizaram um grave acidente nos reconhecimentos do Rali da Austrália, que os deixou fora de prova devido a algumas mazelas físicas. A dupla da Citroën Racing embateu de frente contra um camião que circulava em sentido contrário e apesar de ainda terem prosseguido os reconhecimentos, foram aconselhados a ficar de fora do rali, que seria bastante bem mais intenso em termos físicos. O norueguês foi substituído por Stéphane Lefebvre, que estava na Austrália a fazer os reconhecimentos e a aprender o rali, mas também ele sofreu um acidente durante o rali. Estava escrito que ‘aquele’ DS3 WRC não iria longe…

9 – Recordar Toivonen na Córsega

Regressou o Rali da Córsega ao WRC e com ele as memórias de Henri Toivonen. O AutoSport esteve presente no evento e no local onde Toivonen e Cresto perderam a vida. Já lá vão 29 anos, mas os adeptos não esquecem um dos grandes ícones da modalidade. E Jari-Matti Latvala tudo fez para vencer, conseguiu-o e dedicou o triunfo ao seu ídolo: “Tenho dificuldades em expressar-me por palavras. Vencer na Córsega é um sentimento fantástico. As condições não foram fáceis, o rali foi muito complicado devido à chuva e constantes mudanças climatéricas, mas tudo correu bem. Gostava de dedicar esta vitória ao meu ídolo, Henri Toivonen. É outra razão porque este dia foi tão especial para mim”, disse um emocionado Latvala no final.

10 – Primeira vitória de Andreas Mikkelsen

Caiu-lhe do céu na última especial, quando já ninguém esperava, mas Sébastien Ogier acabara de cometer um dos poucos erros da sua carreira ao bater na PowerStage, quando liderava confortavelmente a prova e quem venceu foi Andreas Mikkelsen. Os ralis são mesmo assim, e também ele se despistou no último troço do Rali da Suécia perdendo um possível e merecido triunfo: “Esperámos tanto por este momento” disse Mikkelsen, no final, depois de assegurar o seu primeiro triunfo no WRC. Depois de Petter Solberg (13 vitórias) e Mads Ostberg (1), agora Mikkelsen: “Trabalhámos tanto para chegar a este momento. Agora aconteceu e é difícil de acreditar nisso. Nós conseguimos ganhar o nosso primeiro rali no campeonato do mundo! Senti exatamente o oposto da Suécia e estou felicíssimo.”