Monte Redondo Automobile Country Club: Vem aí um novo circuito

Por a 7 Novembro 2019 09:32

Por Sérgio Fonseca

Portugal tem actualmente três circuitos permanentes a operar e, talvez já em 2022, terá pelo menos mais um, o Monte Redondo Automobile Country Club. A cerca de 30 minutos de Lisboa está para nascer o mais novo complexo dedicado aos desportos motorizados em Portugal, uma infra-estrutura que se quer destacar pela diferença.

No conselho de Alenquer, um consórcio liderado pelo grupo britânico Epinephrine UK Ltd. prepara-se para construir uma infra-estrutura de luxo dedicada aos desportos motorizados dentro do espírito do circuito espanhol Ascari, nos arredores de Málaga, virada essencialmente para o automobilismo de lazer e diversão.

Quando as primeiras notícias vieram a lume sobre a edificação deste novo recinto, os locais não estranharam. Há uns anos uma notícia num jornal de Torres Vedras terá levantado a “lebre” sem contactar a equipa do projecto. O impacto da novidade não fez moça, mas este projecto tem estado a ser construído há já algum tempo com uma discrição muito grande e cuidados justificáveis.

A sua posição geográfica fica a escassos quilómetros das antigas instalações da Base Aérea nº2, onde agora está localizado o Centro de Formação Militar e Técnica da Força Aérea (CFMTFA), o que não deixa de ser uma localização com simbolismo. Em tempos não muito longínquos, o complexo militar da freguesia da Ota recebeu provas da velocidade nacional.

Não só a proximidade ao recinto militar obriga a cuidados especiais, como a vertente paisagística da região merece uma atenção particular. Quem conhece a Serra da Ota considera a uma paisagem atraente que deve ser desenvolvida com simpatia e harmonia com a natureza. O nome Monte Redondo do circuito advém da conspícua elevação de terreno localizada nas proximidades do circuito e que terá estado para ser terraplanada por ficar no enfiamento de uma das pistas do projectado novo Aeroporto de Lisboa.

A escolha de Portugal para instalar este recinto desportivo não foi uma coincidência, pois neste momento país mais a sul da Europa reúne várias condições vantajosas ao lançamento de projectos desta natureza. Hoje, Portugal é um país diferente do que era há uma década. O nosso país alcançou o décimo segundo lugar global no Índice de Competitividade do Turismo e chegou mesmo ao primeiro lugar na categoria de Infra-estruturas Turísticas do Relatório de Competitividade no Turismo de 2019, elaborado pelo Fórum Económico Mundial.

“O clima de Portugal presta-se bem a uma estrutura deste tipo, especialmente se o foco está no lazer e turismo, a diversão”, esclareceu ao AS o responsável pela comunicação do Monte Redondo Automobile Country Club. “A localização foi escolhida, após analisarmos vários locais, pela sua proximidade a Lisboa e ao aeroporto da capital.”

Mas porquê agora? “O projecto nunca foi embora, apenas esteve suspenso. Os nossos investidores na altura, por volta de 2012 e 2013, foram claros. A economia de Portugal estava simplesmente muito fraca. O imobiliário e os negócios de lazer eram particularmente arriscados. As condições melhoraram imenso.”

Agora é a valer… mas não é para corridas

Apesar de reunir quase todas as condições para tal, a verdade é que os investidores neste projecto não têm ambições desportivas para o mesmo. O Monte Redondo Resort terá um traçado de cinco quilómetros e meio de perímetro, com vinte e uma curvas, construído segundo as rigorosas medidas de segurança da FIA, com diversas configurações para satisfazer a condução dos mais exigentes. No entanto, por agora e à imagem do circuito Ascari, organizar eventos de competição automóvel, como fazem os três actuais circuitos permanentes portugueses, está fora de questão.

“Não temos planos para organizar eventos desportivos nacionais ou internacionais”, afirma a mesma fonte. “Este tipo de evento realizam-se melhor no Estoril ou em Portimão. São pistas que foram desenhadas para isso mesmo que têm todas as infra-estruturas para receber eventos dessa natureza”, aclarou o nosso interlocutor.

“Este projecto é uma evolução do Race Resort Ascari, daí o título do trabalho ser ‘Race Resort Lisbon’, tendo como co-fundador o antigo responsável máximo pela área de negócios e desenvolvimento da Ascari, uma pessoa que tem mais de 30 anos de experiência no desporto motorizado. Eian Riddiford ajudou a conceber este projecto e tem ambições de trazer as visões que teve para a Ascari”, explicou o porta-voz do projecto.

Riddiford é um veterano do desporto, com mais de três décadas de experiência, tendo passado por várias posições, desde de pilotos, a instrutor, chefe de equipa, até a diversas posições em actividades promocionais. O britânico fez parte da equipa que implementou o BMW Performance Driving Centre, em Rockingham, o programa de clientes da Jaguar Land Rover, para além de passagens pela Alfa Romeo, Lotus, BBC Top Gear ou 20th Century Fox. O homem que implementou a visão mais comercial da Ascari foi igualmente consultor da Renault F1 Team e da Force India (agora Racing Point).

Riddiford esteve pessoalmente envolvido no “desenho do circuito, para assegurar, em primeiro lugar e acima de tudo, é um circuito de pilotos. É desafiante para pilotos experientes, enquanto também tem um alto grau de segurança, o que é primordial para um circuito de lazer que tem membros do público a usá-lo”.

Como é possível ver pelos primeiros desenhos do projecto, o circuito não terá bancadas destinadas a espectadores, embora tenha localizações estratégicas pensadas para dar uma vista global do que se passa em pista.

“O Monte Redondo será para utilizadores privados, embora vá ter eventos do clube no programa anual de 365 dias para manter a infra-estrutura ocupada e com interesse durante todo o ano”, aclara.

O traçado do futuro circuito alenquerense já foi alvo de vários testes de simulação por computador, uma tarefa que esteve a cargo da empresa de simuladores inglesa iZone Driver Performance, co-fundada pelo ex-campeão do mundo de carros de Turismo Andy Priaulx.

Olhar para fora

O entusiasmo pelos desportos motorizados em Portugal poderá ser muito grande, mas os investidores neste projecto têm a noção da realidade e que a maior parte dos futuros clientes virá certamente do estrangeiro, “cerca de 80%”, segundo os estudos realizados. Não será por acaso que o piloto britânico do mundial de endurance (FIA WEC), Oli Webb, sobejamente conhecido pelas suas faculdades como relações-públicas, foi recentemente contratado para fazer parte da equipa de projecto e desenvolvimento do negócio.

Num clima concorrencial existente entre os vários circuitos do sul da Europa, este circuito espera sobressair-se doutra forma: “A maioria dos circuitos têm alguma actividade de condução de lazer e track days, mas na Europa só há dois ‘club circuits’ construídos especialmente para o uso de membros privados – Ascari e Bilsterberg. Monte Redondo está especialmente a ser desenhado como uma infra-estrutura de diversão para os desportos motorizados e que difere dos outros circuitos como uma infra-estrutura olímpica difere de um ‘health club’. De facto, a nossa descrição é de ‘Automobile Country Club’. Evoluirá num centro para história, cultura e aprendizagem, preservando a condução como uma competência que certamente irá desaparecer num futuro muito próximo.”

Todo o projecto é gerido por uma equipa local, com base no nosso país e apoio de especialistas de todo o mundo, sob uma liderança recatada, mas experiente. “O objectivo é entregar uma infra-estrutura excepcional que complementará e reforçar a área, os espaços naturais envolventes e a economia local. Irá acrescentar ao já apelativo turismo de Portugal, Lisboa em particular. Não há outra cidade na Europa que actualmente possua isto”.

Ao mesmo tempo, o grupo de investidores sabe que este projecto pode ser uma mais valia para atrair mundo turistas do segmento mais alto. “Acreditamos que podemos ajudar a promover o turismo. Não queremos substituir os organismos que já existem, como o Turismo de Portugal e outras entidades de carácter regional que já fazem um bom trabalho nessa área, mas temos a responsabilidade moral de passar uma boa imagem do país fora de portas.”

O consórcio britânico prefere não revelar os valores envolvidos no projecto, mas confirma que não há qualquer investimento público. “O investimento é bastante substancial, embora este seja faseado durante muito anos para assegurar que é economicamente viável e sustentável. É uma colaboração anglo-portuguesa, com a maior parte da equipa do projecto a ser local.”

A Câmara Municipal de Alenquer “apoia o projecto”, mas de momento, “não há qualquer apoio financeiro de qualquer organismo público de Portugal. A nossa equipa sente privilegiada e agradecida por receber um alto nível de cooperação e profissionalismo da Câmara Municipal de Alenquer.”

Outras dinâmicas

A ser edificado numa área de 400 hectares, a infra-estrutura terá também ao dispor uma pista de karting e uma área para a prática de desportos de todo-o-terreno, com obstáculos naturais e outros artificiais introduzidos propositadamente. O recinto para o karting terá duas pistas: uma que será a versão em miniatura do circuito dos automóveis e outra que será um traçado para onde os mais novos poderão a partir dos quatros anos de idade aprender a dar os primeiros passos neste desporto.

No projecto também está desenhada uma estrada interna que permite aqueles que gostariam de experimentar o seu automóvel perto do limite em condições próximas do dia-a-dia sem terem que colocar outros automobilistas em perigo ou correrem o risco de ficarem sem carta de condução.

Basicamente, pretende-se criar um pólo para quem gosta de conduzir e conduzir depressa, o possa fazer no máximo de segurança. Combinando as instalações de um circuito de elevada categoria, com o conforto e o ambiente de um clube exclusivo, a infra-estrutura espera acolher viaturas privadas, prestando a assistência técnica e serviços especializados. “Teremos muitas garagens com temperatura controlada, com serviço e manutenção completos, se necessário”, é possível ler na apresentação.

Mas o Monte Redondo Automobile Country Club não será “fechado” aos sócios, pois “os não membros serão admitidos na base ‘arrive & drive’, sujeitos a verificações de segurança, etc. Visitante que não conduzem também serão sempre bem-vindos a usar as instalações de lazer do clube, a desfrutar da atmosfera, a socializar e “networking”.

Para além disso, é preciso não descurar as zonas extrínsecas, um pouco menos importantes para os “tolinhos dos automóveis”, mas que valem muito para atrair este tipo de clientela, como são a presença de um campo de golfe, um “country club & spa”, uma de propriedades qualificada para quem quiser pedir um “Golden Visa”, apartamentos e um hotel, numa fase mais adiantada, tudo rodeado de espaços verdes e lagos.

Quanto à muito esperada data de abertura, “é ainda difícil dar uma data fiável para a data de abertura, visto que há muitas variáveis envolvidas no processo com as autoridades, mas nós estamos a apontar para 2022. Há muito trabalho ainda para fazer, mas muito trabalho já foi feito e o projecto está em fase bastante avançada.”

Enquanto a primeira pedra não for colocada, os mais pessimistas vão obviamente dizer que é preciso “ver para querer”. Do outro lado da barricada, os mais realistas sabem que um projecto desta dimensão “não se faz o dia para a noite”. Uma coisa é certa, quando sopram ventos de mudança na indústria automóvel, o Monte Redondo Automobile Country Club trará consigo uma muito bem-vinda diversidade ao ecossistema automobilístico nacional.

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