Lembra-se de: Carrera Panamericana, a prova mais dura de todas

Não, o leitor não se deve recordar da Carrera Panamericana. Talvez já dela tenha ouvido falar mas, de uma prova cuja última edição aconteceu há mais de 50 anos, não terá nenhuma imagem presente na retina. Claro que a mítica prova de estrada mexicana foi reeditada, para veículos construídos até 1954 (ano da derradeira edição), mas nas listas de inscritos hoje não constam nomes do calibre de Juan Manuel Fangio, Hans Hermann, Karl Kling, Felice Bonetto, Piero Taruffi – para só falar de alguns dos mais conhecidos europeus, aos quais havia que incluir os maiores pilotos norte-americanos e mexicanos da altura.

A velha estrada mexicana que se estende, ao longo de 3114 km, para norte a partir de Tuxtla e terminandoem Juárez, era, de acordo com o director desportivo da Mercedes Alfred Neubauer, uma mistura do GP de Tripoli, das Mille Miglia, do velho Nurburgring e das 24 Horas de Le Mans. Começava num clima tropical, com altas temperaturas e uma humidade viscosa, subindo do nível do mar aos 3000 metros de altura. As variações de temperatura iam dos 34 graus aos dois negativos, em apenas 72 horas! Nestas condições, nem a mais cuidadosa afinação de motor resistia – as velas tinham de ser mudadas e a carburação alterada a cada 160 km. O piso estava coberto por uma mistura de cinza vulcânica, extremamente abrasiva, que reduzia um pneu novinho em folha a uma frágil capa, em poucas centenas de quilómetros.

A Carrera Panamericana realizou-se entre 1950 e 1954. Contudo, o enorme número de mortes, em cada edição, que vitimaram não apenas pilotos como dezenas de espectadores, bem como o acidente de Le Mans, em 1955, onde perderam a vida mais de 80 pessoas, levou o Governo mexicano a cancelar definitivamente o evento.

Entre as vítimas fatais, talvez a mais chorada tenha sido o veterano italiano Felice Bonetto, aquele que conduzia de dentes cerrados num cachimbo apagado. Em1953, quando atravessava a povoação de Silao, o seu Ferrari levantou numa lomba e o piloto embateu com a cabeça no parapeito saliente de uma janela, morrendo de imediato.