WRC50: Shekhar Mehta, as cinco vitórias do Leão Africano no Rali Safari

Por a 5 Novembro 2022 12:51

Com um recorde de cinco vitórias no Rally Safari, o falecido Shekhar Mehta é considerado uma das lendas dos ralis em África. Mas e a sua primeira vitória?

Mehta, um queniano de ascendência indiana, já tinha disputado o Rali Safari várias vezes, mas até então tinha sido mal sucedido na obtenção da vitória que tão desesperadamente queria. Isso foi até 1973, quando o evento fez parte da temporada inaugural do WRC.

Quando os líderes até então, Harry Källström e Claes Billstam lutaram na lama da última secção, a tripulação local de Mehta e o navegador Lofty Drews anteciparam-se a eles e venceram-nos por um minuto. No entanto, Mehta recebeu uma penalização nas verificações devido a um farol que não funcionava, ou melhor… não havia farol. Isto colocou as suas pontuações iguais em 406 pontos. Então, o que fazer? As regras diziam que o vencedor seria então o carro que tivesse ido mais longe desde o início sem incorrer em penalizações – e esse era o Datsun 240Z de Mehta.

As cinco vitórias no Safari

1973 (21º East African Safari Rally, c./Lofty Drews, Datsun 240 Z)

Depois do seu 2º lugar em 1971, já então com um Datsun 240 Z, dois anos mais tarde finalmente Shekhar Mehta venceu a “sua” prova, o Safari, na que foi a sua quarta participação. E a que foi também a mas curta vitória da história do Safari , pois o 2º classificado, Harry Kallström, num Datsun Bluebird 1800 SSS, terminou exatamente com a mesma penalização: 6m46s (ou 406 pontos) e o desempate foi favorável a Mehta porque, na estrada, tinha sido penalizado em 405 pontos e o 406º sucedeu como “castigo” por ter perdido um dos faróis dianteiros!

1979 (27º Safari Rally, c./Mike Doughty, Datsun 160J)

Shekhar Mehta não estava entre os favoritos à partida para a prova, ois estes eram os Mercedes 450 SL em especial o de Björn Waldegaard, bem como os Peugeot 504 V6 Coupé, com Timo Makinen na frente das apostas e os FIAT 131 Abarth, em especial o de Sandro Munari. Afinal nenhuma das previsões se concretizou. Logo desde a segunda etapa, Mehta ficou na frente do rali e de precisamente Makinen, Waldegaard e Munari, por esta ordem. Porém, até ao fim somente o queniano sobreviveu à dureza das picadas africanas… e ganhou! Logo na etapa seguinte, a tradicional lama fez as suas vítimas, nomeadamente os Mercedes, que então até estavam na frente do menos potente Datsun 160J de Mehta – o sueco desistiu com um eixo partido e Mikkola atrasou-se com um buraco no radiador, terminando em 2º lugar, atrás de Mehta. Markku Alen foi o melhor dos FIAT e dos Peugeot nem sinal: o melhor foi o de Lefebvre, em 12º.

1980 (28º Safari Rally, c./Mike Doughty, Datsun 160J)

Em 1980, os Mercedes queriam a todo o custo vingar a humilhação do ao anterior e, assim, inscreveram cinco 450 SLC. Além disso, estavam lá também os Opel Ascona 400 oficiais. Mas o duelo, que durou até final, deu-se entre os Datsun 160 J e os Mercedes, com vantagem para os primeiros, que terminaram nos dois primeiros lugares, apesar de a certa altura tudo parecer estar perdido, quando Andrew Cowan estava na frente com um dos 450 SLC, antes de se atrasar, acabando em 6º. O melhor dos alemães foi o elo mais fraco, Vic Preston Jr., em 3º lugar. Mehta ganhou assim pela terceira vez, agora com 35 minutos de avanço sobre o seu colega de equipa, Rauno Aaltonen. Curiosamente, o principal inimigo natural dos pilotos foi o pó e não a lama!

1981 (29º Safari Rally, c./Mike Doughty, Datsun Violet GT)

Com duas vitórias consecutivas no seu cardápio, desta feita Shekhar Mehta começou o Safari como principal favorito. Afinal, chovesse ou fizesse sol, com ou sem Mercedes, ninguém parecia capaz de o travar nas difíceis e longas estradas africanas. E, uma vez mais, deixou isso provado: agora de fato sem os Mercedes e com um carro novo e mais desenvolvido, o Datsun Violet GT, com o seu moderno motor de dupla árvore de cames, Mehta deu “baile” à concorrência, composta pelos Peugeot 504 V6 Coupé e pelos Opel Ascona 400. Mas foi de dentro de “casa” que vieram as preocupações, com Rauno Aaltonen a conseguir dar-lhe réplica até final, terminando em 2º lugar a 5 minutos, aceitando de forma relutante as ordens da equipa (no final, protestou mesmo o triunfo de Mehta!), pois tinha o seu Violet GT em melhores condições “físicas”. Na realidade, este Safari, onde a chuva alternou com o pó, foi todo para a Datsun, que colocou quatro carros nos quatro primeiros lugares. O melhor Opel foi o de Jochi Kleint, em 5º e o melhor Peugeot foi o de Jean-Claude Lefebvre, logo a seguir.

1982 (30º Marlboro Safari Rally, c./Mike Doughty, Datsun Violet GT)

Em 1982, a Datsun tornou-se Nissan… e Aaltonen, furioso com a marca japonesa, trocou-a pela Opel. Por isso, era grande o interesse naquilo que ele e Mehta iriam fazer, numa prova que cheirava a vingança por parte do finlandês. Afinal, a montanha pariu um rato: na primeira etapa, Aaltonen assumiu mesmo o comando, apesar de alguns problemas com uma junta. Nessa altura, também Mehta estava com problemas, mas no diferencial do seu Violet GT. Esta foi uma das mais duras edições do Safari, com uma verdadeira razia na caravana. A meio da segunda etapa, Mehta viu Aaltonen desistir, com problemas no motor do Ascona 400 e, como estava a apenas 16 minutos, no final da mesma já era líder, posição de onde nunca saiu, controlando a seu bel-prazer o outro Opel, pilotado por Walter Röhrl, para conquistar a sua quarta vitória consecutiva no Safari – e a quinta e última da sua carreira no WRC.

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