WRC: Como foi o primeiro título de Sébastien Loeb?

Por a 18 Julho 2022 16:09

Já poucos duvidam de como irá terminar o WRC 2022, e quem vai ser o Campeão, quase de certeza Kalle Rovanpera. O trajeto, está a fazê-lo agora, para já leva cinco vitórias em sete ralis mas o que vamos recordar é como foi o primeiro… de Sébastien Loeb. Foi em 2004.

Começou a fazer provas do WRC em 1999, apenas três, com a Equipe de France, num Citroën Saxo Kit Kar. Fez algo semelhante em 200, mas já com um Toyota Corolla WRC.

Em 2001 foi Campeão Júnior com um Citroën Saxo Kit Car/S1600, em 2002 venceu a sua primeira prova do WRC na Alemanha, com o Citroën Xsara WRC, em 2003 ficou a dois pontos de ser campeão, e foi-o em 2004. Daí para cá conhecemos a longa história…

Kalle Rovanpera, em 2017, com apenas 17 anos, estreou-se no WRC, no ano seguinte já estava na equipa oficial da Skoda, onde esteve dois anos, em 2020 foi para a Toyota, no seu segundo rali com um WRC foi ao pódio na Suécia. Venceu o primeiro rali o ano passado na Estónia. Este ano está muito perto de ser campeão…

Sebastien Loeb assegurou o seu título na 14ª de 16 provas. A duas provas do final do Mundial, o piloto da Citroen concretizou as ‘ameaças’ que, durante um ano, estiveram em ‘hibernação’. 2004 ficou na sua memória por ter finalmente chegado ao primeiro título absoluto, sustentado em cinco triunfos (Monte Carlo, Suécia, Chipre, Turquia e Alemanha), seis segundos lugares (Grécia, Argentina, Japão, Gales/Grã-Bretanha, Itália/Sardenha e França/Córsega) e duas quartas posições (Nova Zelândia e Finlândia).

Uma rapidez e regularidade impressionantes a confirmarem a ascenção meteórica que fez, desde que, pela primeira vez, em 1995, participou num rali, ao volante de um Peugeot 106.

Daí até este primeiro título mundial vão apenas nove anos, precisamente também o número de vitórias que Loeb contava até aí no seu palmarés ao nível do Campeonato do Mundo de Ralis.

Mas, no final do Rali de França, os números tinham muito menos peso do que as emoções e por isso foi um Sebastien Loeb radiante que na altura nos explicou a conquista do ceptro: “É um momento único o primeiro título de Campeão do Mundo. Não pode haver melhor momento para um piloto de ralis. Além do mais, conseguimos este título em França com um carro francês, ganhando também o título de Construtores para a Citroen. Ainda não acredito e tenho que esperar pelos próximos dias para ver como é! O que posso dizer é que é bizarro dizer que sou Campeão do Mundo, mas bom!” O futuro, foi o que sabemos…

Recordar a primeira grande entrevista de Sebastien Loeb após o título mundial (2004)

“Tenho muito orgulho naquilo que consegui!”

Loeb é o novo Campeão do Mundo de Ralis. Em apenas cinco anos, o francês conquistou o topo da pirâmide e arrasou todos os adversários. Na mochila, uma capacidade estratégica invulgar, alguns “quilos” de maturidade e, claro está, um dote especial para manobrar o volante e os pedais. No fim de contas, “xeque-mate”!

A hora é de recordar: “Antes do Rali Sanremo de 2001, enviei diversas mensagens a marcas como a Subaru, Mitsubishi e Skoda para tentar guiar um World Rally Car. Amavelmente, todas me responderam o mesmo, dizendo que se lembrariam de mim se precisassem de um segundo piloto e que então me contatariam. Algo que nunca aconteceu!”.

No presente, não deve haver uma única marca que não esteja arrependida de ter negado às suas fileiras um prodígio como Sebastien Loeb. Tê-lo na equipa, como ficou agora provado, é meio caminho para o êxito no Campeonato do Mundo de Ralis, a diferença entre chegar ao título de Pilotos e de Marcas e poder obter um retorno mediático capaz de ultrapassar todo o investimento feito num ano. Para dizer a verdade, a Citroen foi a única a visionar esta “mensagem”, quando Guy Fréquelin estendeu uma caneta ao novo Campeão do Mundo para que este assinasse um contrato válido por dois anos. Um contrato que chegou na forma de título, três anos mais tarde.

Aprender com o passado

Loeb soube esperar a sua hora. Após lhe ser negada a possibilidade de lutar até ao final pelo título de Pilotos em 2003, o alsaciano voltou a investir tudo o que sabia esta temporada, mas com uma mais valia importante: o diagnóstico dos seus erros passados.

Começa aqui a história do título que para sempre lhe preencherá uma boa parte da memória: “comecei o ano com o meu pensamento ainda fresco na competição do ano passado e no magro ponto que me fez perder o campeonato para o Petter Solberg. Com a definição das regras de pontuação, o objectivo passou a ser claro este ano: somar pontos em todas as provas e ganhar quando possível; ou se a vitória fosse demasiado arriscada, aliviar o ritmo para garantir que o carro chegasse ao fim, ao invés de cometer qualquer erro infantil. E olhando para trás, nomeadamente para o campeonato de 2003, foi desde logo possível identificar os ralis onde perdemos para o Petter, o que, grosso modo, nos ajudou a fazer a diferença em 2004. Além disso, estivemos aptos a fazer jogadas menos arriscadas, prestando igualmente um maior cuidado nas escolhas de pneus”, recorda Loeb.

A estratégia acabou por ser, por estas e por outras razões, uma parte importante na trajetória do cetro e, desta vez, nem sempre foi a Citroen a delineá-la, já que o piloto teve muito mais margem de manobra do que no ano transato: “Sempre guiei e guio de acordo com as circunstâncias. O meu estilo é avaliar bem o que estou e o que posso fazer e, em princípio, atacar no início do rali para ver onde me situo e a partir daí adotar o ritmo mais adequado”.

Com um arranque de campeonato pleno de garra, onde venceu o Rali de Monte Carlo e Suécia, a que juntou, mais tarde, as vitórias no Chipre, Turquia e Alemanha, o antigo ginasta mostrou uma flexibilidade impressionante, conseguindo gerir a contabilidade do campeonato da forma que mais lhe conveio: “Comecei por conseguir muitas vitórias e depois tive que me contentar em acumular segundos lugares. À medida que a temporada avançava, o Petter foi cada vez mais rápido e consciencializámo-nos que seria muito difícil batê-lo, pelo que optamos por não correr demasiados riscos”.

Xsara foi um trunfo

Quando em 14 provas disputadas se ganham cinco e apenas se desiste numa, então outros factores entram em jogo. O Citroen Xsara WRC é, claramente, a outra parte do título que Loeb guarda agora na algibeira, como o próprio piloto o reconhece: “Quando me perguntam qual foi o segredo deste título, tenho que responder que esteve indubitavelmente na fiabilidade do Xsara. O carro nem sempre foi rápido, tendo algumas dificuldades de competitividade tanto na Nova Zelândia como na Finlândia, mas foi um dos mais robustos, como o provam os recordes de fiabilidade que conseguimos. Acho que este foi, verdadeiramente, o fator singular que mais contribuiu para a minha consagração e para o segundo sucesso da Citroen. Mas evidentemente que somos também uma equipa e cada um fez a sua parte!”.

E Loeb sem dúvida que fez particularmente bem a sua. Razão mais do que suficiente para aos 30 anos “realizar a ambição de qualquer piloto que corra no Campeonato do Mundo de Ralis” e assumir, sem qualquer tipo de preconceito ou falsa modéstia, que “com este título estou orgulhoso daquilo que fiz, embora espere não ter que mudar nenhuma aspcto da minha vida só porque conquistei este patamar!”. Nas palavras, como na estrada, este francês tem fibra de Campeão…

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