‘Estórias’ do Rali de Portugal 1982: Dia Internacional da Mulher festejou-se…de véspera


As sementes lançadas por Harald Demuth em 1979 quando marcou pontos pela primeira vez para a Audi no Mundial de Ralis, em Portugal, começaram a florescer com o 4º lugar obtido em 1981 por Michèle Mouton, ao volante de um Audi Quattro e, definitivamente, a frutificar com a vitória da francesa no ano seguinte. Em Março de 1982, os cinemas passavam: “Pixote – a lei do mais fraco”, de Hector Babenco, bem como “As herdeiras”, com Isabele Hupert. Mouton chegou determinada em demonstrar que o 1º lugar no Rali de Sanremo do ano anterior não havia sido ocasional, avisando que vinha para impor a “lei do mais forte” – “quando corro é mesmo para ganhar! Dou-me bem com a terra de Arganil, do Buçaco, de Fafe, da Cabreira. E será aí, não o escondo, que irei atacar forte…”. Estas palavras ao Diário de Notícias, antes da partida, constituíam uma verdadeira declaração de intenções. Ao longo de 40 classificativas, Mouton passou das intenções ao atos, ganhou 17 troços e a sua vitória foi aplaudida de pé após o slalom no Autódromo do Estoril. Estavam encontradas as “herdeiras” de um mundo até aí dominado pelo sexo masculino. A reportagem do jornal Expresso descrevia o fascínio que Mouton tinha desencadeado pelo país, obrigando os homens à rendição – “Aí vem ela. Tem mais tomates que eu”. Curiosamente, no dia seguinte ao final do rali comemorava-se o Dia Internacional da Mulher,…que para Michèle Mouton e Fabrizia Pons foi certamente festejado de véspera.

Quase três décadas passadas, Fabrizia Pons ainda continua a sentar-se no banco do lado direito, acompanhando Harald Demuth em vários ralis históricos, num Audi Rallye Quattro A2, pintado com o amarelo oficial da Audi Motosport, e inscrito sob a égide de uma equipa reveladoramente denominada Audi Tradition. Fabrizia Pons fez a sua estreia como navegadora de Michèle Mouton no Rali de Portugal de 1981. Mas é o ano de 1982 que lhe povoa as memórias. “Lembro-me muito bem do nevoeiro de Arganil. Andámos como se não estivesse nevoeiro, foi a chave da nossa vitória”.Quando lhe perguntamos se a partir daí terminaram os olhares de soslaio, que ainda se verificavam apesar do 1º lugar em Sanremo, hesita e diz sorrindo – “por toda a Europa foi um big bang, duas mulheres tinham ganho um rali, e não era a primeira vez, não podia ser obra do acaso”.

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