Campeonatos Norte, Centro e Sul com o CPR: sim ou não?

Por a 21 Outubro 2021 16:48

Recentemente existiu uma situação no Rallye Serras de Fafe e Felgueiras em que um concorrente do CPR se insurgiu face à forma como foi decidido gerir a presença de concorrentes do CPR que não se inscreveram no ERC, e logo houve quem fizesse um paralelo entre o que sucede aos concorrentes dos campeonatos Norte, Centro e Sul, os chamados ‘regionais’, que alegadamente ‘sofrem’ do mesmo quando correm em provas juntamente com o CPR. Por isso, fomos questionar uma série de pilotos das três competições. Como sempre, as opiniões são díspares, embora exista uma tendência maioritária.

Mário Castro, ex-navegador de Pedro Meireles e também ele piloto do CNR continua a achar que a separação das competições é o melhor caminho: “A FPAK já sabe a minha opinião sobre este assunto há muito tempo. Ralis do regional juntos com os do nacional, nunca”.

Carlos Martins, que hoje em dia corre no ‘regional’ Sul: “o importante é correr juntos e fazermos o que gostamos. Pagar para andar na frente (ndr, ordem na estrada) é algo novo, Acho que a FPAK devia gerir melhor esta situação”, disse.

Marco Ferreira, que costuma correr de Citroën Saxo Cup no CSR é de opinião que “se pegarmos neste assunto e puxarmos para a nossa realidade, julgo que se poderá fazer um paralelismo entre o ERC/Nacional e o Nacional/Regional em termos de ‘sensibilidade’ nas decisões…

Acho que é reconhecido por todos que, efetivamente, não parece haver grande vontade de ‘eternizar’ os regionais, os carros são velhos, os pilotos não são grande coisa (na opinião de muitos), e o que a ‘malta gosta’ são grandes máquinas (muitos €€€) portanto, isto é um desporto para quem tem uma grande capacidade financeira.

O facto de se pagar para andar à frente (que aconteceu aos pilotos do nacional que fizeram o ERC) é só mais uma prova disso.

Não sou a favor que os carros homologados (R5, etc) venham fazer um regional e entrem para a classificação geral dos VSH (era fácil ganhar, na grande maioria das vezes), mas não discordo que participem como prova extra.

Se os concorrentes do nacional podem fazer regionais (até os concorrentes do TT podem), achava justo que os VSH também pudessem fazer as provas do nacional, numa classificação separada e com valores de inscrição condizentes, porque com valores de mil e muitos euros de inscrição, julgo que mesmo que abrissem essa possibilidade aos VSH, não deveriam haver muitos interessados.

Obviamente que depois abre a discussão sobre muitas outras coisas, nomeadamente sobre a ordem de partida! Num regional, um carro de última geração no meio dos VSH não me parece correto para nenhuma das partes, seja pela rapidez, ou falta dela, ou pelo estado do piso (no caso dos pisos de terra). Sabemos que, depois da passagem das ‘máquinas infernais’, muitos dos VSH não chegam com as rodas ao chão! Considero que haverá formas de organizar ralis onde todos se sintam realizados, independentemente da sua condição financeira”, disse.

Segundo André Cabeças, recentemente coroado Campeão Centro de Ralis: “Na minha opinião os regionais não deveriam acompanhar o nacional. Caso o façam, deviam fazer o rali todo, partido em duas pontuações, onde quem desistisse no primeiro dia poderia alinhar no segundo. Duas pontuações divididas a meio do rali. E classificação final conjunta”.

Já Alexandre Ferreira, concorrente do CCR entende que: “o que o Manuel Castro refere na prova de Fafe é uma realidade constante nas provas em que o ‘regional’ acompanha o nacional. Não há preocupação nenhuma pelos concorrentes do regional. O que aconteceu em Castelo Branco ao André Cabeças é uma demonstração da falta de cuidado inclusive em segurança com os concorrentes do regional.

Mas não só no aspeto de segurança como o modo como encaixam o regional na prova do nacional, teimam em considerar os pilotos do regional como ‘menos seguros’ e só podem passar depois do nacional, nunca antes e raramente no meio. Esquecem- se que o regional não é só o meio de pilotos com poucos meios, mas também onde se encontram a correr pilotos veteranos como o Adruzilo Lopes ou o Fernando Peres ou pilotos que irão ser futuros campeões”, disse acrescentando ainda que a imprensa tende a olhar menos para os regionais quando correm junto com o CPR: “Quando junto com com o ‘nacional’, não só os artigos jornalísticos tendem a ser menores ou quase nulos, como o público tende a aproveitar ao máximo a passagem do nacional, alternando entre troços, e quando o regional passa quase não há ninguém.

Além de tudo o que já se disse aqui sobre passar no fim, há um outro aspeto que também dificulta a grande maioria dos pilotos do ‘regional’ em provas com o CPR que aconteceu agora na Marinha Grande e acontece na maioria destas provas. O rali começa quinta-feira para verificações, o ‘regional’ fez o troço único, na sexta e depois só recomeça sábado de tarde. Não faz sentido tantos dias para uma prova do ‘regional’. Isto acontece porque estamos lá para preencher listas e ajudar a pagar a prova e não porque a prova é do ‘regional’. A maioria dos pilotos e navegadores do ‘regional’ têm que pôr dois dias de férias, diferença de uma noite, ou duas para toda a estrutura da equipa em termos logísticos é muito diferente e os custos disparam”, disse.

Fábio Santos, outro concorrente do CCR, acha que os ‘regionais’ devem ‘viver’ sozinhos: “quando comecei nos ralis até achava engraçado alinhar com o nacional, com o passar dos anos cada vez estou mais convencido, que um rali só de regional tem tudo mais! Qualidade de troços, espectadores visibilidade. Por isso, se contam com o regional só para preencher a lista de inscritos não sabem o seu valor”.

Isaac Portela, piloto que no passado fim de semana fez um segundo lugar no CCR na Marinha Grande, entende que “quanto a regional, temos que ter em conta as limitações que isto acarreta, temos plena consciência que não podemos ter o mesmo número de quilómetros do CPR, mas também não pagamos o mesmo! Quanto a mim, bastava que nos deixassem passar no meio das passagens do CPR e aproveitar os adeptos todos! O que acontece é que, quando passamos já não há público, parece que o rali foi só para o CPR”.

Pedro Silva, jovem piloto do CCR que é navegado por Nuno Rodrigues da Silva: “na minha opinião, isto não é uma luta de agora, é algo que já acontece há muito tempo. Passar depois do CPR é apanhar troços bastante destruídos e por vezes já sem público. O que para nós é bastante prejudicial, pois os gastos são maiores, a visibilidade menor, já para não falar da comunicação social que acaba por dar maioritariamente destaque ao CPR!”

Alexandre Ferreira voltou a recordar uma competição que, passado mais de um década da sua realização, ainda se fala muito, o Open de Ralis: ”o modelo do Open de Ralis permitia que algumas destas questões fossem ultrapassadas. Corriam todos juntos, aí sim, eu fazia o Regional Centro, mas nas provas do Open o que contava era a tua pontuação no Open, logo se tivesses feito mais provas, ias no meio dos concorrentes que faziam só o Open de Ralis, sentias-te parte integrante da prova. A pontuação era no Open e no Regional. Se acontecesse no CPR o mesmo, provavelmente o que o André Cabeças disse fazia algum sentido , de fazer a prova toda mesmo que só pontuasse metade. Ninguém saía no fim só por ser do regional. Esse incentivo poderia levar a que pilotos do regional olhassem para todo o investimento da prova como uma mais valia”.

Ana Santos, navegadora do Campeão Centro de Ralis 2020, Armando Carvalho, entende que o status quo’ leva a divisões: “Na minha opinião este desmerecimento pelo Regional junto do Nacional ou do Nacional junto do ERC é só uma questão de política económica imposta pela FPAK, e colocada em prática pelos clubes organizadores sem levantar qualquer objeção. Eles pensam que ao desprestigiar quem paga menos vai levar o concorrente a subir de patamar ou seja render mais euros. Mas essa não é a realidade económica do nosso país, a meu ver. E assim se acaba com o bem estar entre categorias, porque os próprios concorrentes acabam por se sentir mal, como foi o caso recente do Manuel Castro”.

Este é um tema recorrente e complicado, que basicamente decorre do facto do atual CPR ter poucos concorrentes, e na maioria dos casos, um rali do CPR, dificilmente ‘vive’ bem sozinho, não sendo viável às organizações terem um rali só com o CPR. Felizmente, a maior parte das organizações tem conseguido compor as suas provas, quer seja com troféus espanhóis, boas presenças de ‘nuestros’ hermanos, mas a verdade é que todas as provas continentais do CPR 2021 tiveram ou vão ter a companhia dos ‘regionais’. A exceção foi, naturalmente, Fafe, porque este ano pertenceu também ao ERC e o Rali de Portugal, que faz parte do WRC.

Quando possível, vamos tentar saber se a FPAK tem intenções de alterar alguma coisa relativamente a este assunto.

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