Grande Prémio de Pau: Pendurado na história


FOTO: Hermann Lang venceu a prova em 1938 num Mercedes

Uma das provas internacionais mais antigas do mundo, o GP de Pau, vive hoje das glórias passadas, depois de no passado ter feito parte do calendário da Fórmula 1, Fórmula 2, Fórmula 3 e WTCC

Reconhecido pelos historiadores como um evento internacional de grande importância, o Grande Prémio de Pau tem vindo a ser afastado dos grandes palcos de provas automóveis, ano após ano. Entre 2014 e 2018, o Pau Grand Prix recebeu o Europeu de Fórmula 3, Fórmula Renault 2.0 Alps em 2014, a GT4 European Series em 2016, o Euroformula Open em 2019, mas há muito que não faz parte do calendário de nenhuma grande competição internacional, não sendo algo muito digno da história que a precede, o que é uma pena.

A cidade de Pau tem uma longa tradição de ligação ao desporto automóvel. Numa era em que os Grandes Prémios eram disputados entre cidades, a cidade foi quartel-general de dois eventos em 1900 e 1901. Em 1930, Pau recebeu o GP de França, o que levou à criação do circuito citadino. Em 1933 o GP de Pau nasce oficialmente, recebendo os principais pilotos da época, com a vitória a sorrir a Marcel Lehoux, ao volante

do seu Bugatti T51 privado, depois de desbravar caminho pela neve que cobriu as ruas da cidade. Tazio Nuvolari (Alfa Romeo), Jean-Pierre Wimille (Bugatti) e Hermann Lang (Mercedes) fizeram parte do lote de vencedores dos primeiros anos. Depois da II Guerra Mundial, o evento recebeu primariamente corridas extra-campeonato de Fórmula 1, trocando por vezes pela Fórmula 2 quando era conveniente, já que os F2

eram meras versões à escala dos carros de Grande Prémio. O público aplaudiu os três triunfos de Jean Behra e de Maurice Trintignant, mas nessa época foi Jim Clark quem viria a tornar-se mestre do sinuoso traçado citadino de 2,7 km, com quatro triunfos.

A presença de estrelas era sempre garantida na época, já que os pilotos de F1 participavam regularmente nas corridas da modalidade inferior. Pau podia não fazer parte de nenhum campeonato, mas nunca perdia a sua aura especial. Despromoção para sobreviver À medida que as corridas extra-campeonato começaram a desaparecer, Pau acolheu a F2 de braços abertos, devido à forte presença de construtores e patrocinadores. Em 1964, a prova passou a uma das mais importante do calendário internacional da categoria, primeiro nos Trophées de France (que apesar do nome eram frequentemente dominados por pilotos de F1 como Clark, Jack Brabham ou Jochen Rindt) e depois do Campeonato Europeu. Pau continuou a ser a jóia da coroa da categoria de acesso à F1, com a passagem para a Fórmula 3000, que assim tinha uma versão equivalente ao Mónaco no calendário. Foi na F3000 que surgiu o único vencedor português, Pedro Lamy, que em 1993 pressionou Olivier Panis até este cometer um erro.

Infelizmente, a FIA exigiu que a F3000 se tornasse uma corrida de apoio da F1. Em compensação, a FIA promoveu a prova do Campeonato Francês de F3 a Taça da Europa. O Eurosport interessou-se pelo evento e colocou-o no calendário do WTCC, mas isso só contribuiu para exacerbar o problema da falta de identidade. A corrida francesa era uma prova igual às outras do calendário (mesmo sendo num mítico circuito citadino), e os carros usados no evento principal eram cada vez mais lentos, tanto que o recorde de pista não muda desde 1992, quando

Andrea Montermini fez uma uma das provas internacionais mais antigas do mundo, o GP de Pau, vive hoje das glórias passadas, depois de no passado ter feito parte do calendário da Fórmula 1, Fórmula 2, Fórmula 3 e WTCC.

A falta de dinheiro obrigou a um ano de paragem em 2010, mas a prova pareceu voltar ao bom caminho quando fez parte do calendário da F3 Britânica (França ficou sem F3 desde 2003) a partir de 2011, só que este campeonato esteve em profunda crise (o calendário foi abreviado para apenas quatro jornadas com três corridas por fim de semana) e Pau foi preterido pela FIA para integrar o novo Campeonato Europeu de F3, que continua muito ligado ao DTM.

A passagem para a F. Renault foi um ato de sobrevivência, mas esta modalidade não tem estrelas próprias e as corridas de apoio (na sua maioria troféus monomarca) podem não chegar para satisfazer o público.

É óbvio que este tipo de circuitos sofre com o evolução dos desportos motorizados e por isso hoje em dia está quase reservado para grandes encontros de históricos, e isso permite não só atenuar a falta, como reviver o fabuloso passado que o circuito teve. Pau não é caso único, há muitos outros, mas é um bom exemplo.

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